domingo, 30 de maio de 2010

Grupo italiano no ramo aeroespacial e de defesa aposta nos projetos militares de modernização de equipamentos para conquistar mercado


A Finmeccanica, o maior grupo italiano no setor aeroespacial e de defesa, decidiu transformar o Brasil em prioridade imediatamente. Oitava maior companhia mundial no setor — e com atuação crescente nas áreas de energia e transporte —, vê no país uma enorme oportunidade para crescer. O grupo não esconde que o acordo assinado entre Brasil e Itália em abril, que inclui a previsão de uma série de investimentos italianos no país, representa enormes chances de entrar em um dos poucos mercados mundiais hoje em crescimento acelerado e ainda não dominado pelas empresas norte-americanas do setor. O Brasil, que defende com unhas e dentes a necessidade de transferência de tecnologia nos projetos militares, resiste à postura dos EUA nessa questão, em geral pouco dispostos até a negociar essa possibilidade.

“Para nós, o Brasil é muito importante. O acordo entre Berlusconi e o presidente Lula abre muitas possibilidades, inclusive para a transferência de tecnologia, que seria impossível sem isso”, assegura o CEO do grupo Finmeccanica, Pier Francesco Guarguaglini. Embora não façam previsões nem de valores de investimentos nem de faturamento, os italianos querem entrar com todas as forças nos projetos de modernização das Forças Armadas, em particular no da Marinha, já que a concorrência FX-2, para a compra dos novos caças da Forca Aérea Brasileira (FAB), provavelmente será vencida pelos franceses, desbancando o sueco Grippen (que conta com uma série de componentes das empresas do grupo italiano).

Mesmo que o Rafale, da francesa Dassault, leve o contrato, a Finmeccanica já prevê a necessidade de modernização dos atuais aviões de treinamento, os Super Tucanos. Como os novos caças serão muito mais avançados, potentes e velozes, pertencentes à chamada 5ª geração, independentemente da empresa escolhida, a FAB necessitará de um avião de treinamento com uma menor distância de desempenho em relação aos novos aviões de combate para assegurar a capacitação dos pilotos. É aí que a Alenia Aermacchi, uma das integrantes do grupo, pretende entrar, oferecendo o M346, um avião de treinamento que pode até funcionar como um caça leve de combate.

Outra possibilidade é a concorrência que envolve a construção de novas fragatas para a Marinha brasileira, com a necessidade de fornecimento de sistemas de armamento e de defesa, bem como para a nova corveta da classe Barroso.

Interesse no trem

A Finmeccanica, por meio das empresas de transporte Ansaldo STS (sinalização e controle) e Ansaldo Breda (equipamentos, como trens), esfrega as mãos pensando em um dos maiores projetos em estudo pelo governo brasileiro: a construção de um trem de alta velocidade entre o Rio e São Paulo. Mesmo entusiasmada, a empresa não esconde que vê grandes lacunas no projeto atual. Para o presidente do grupo, Pier Francesco Guarguaglini, e o vice-presidente comercial, Paolo Pozzessere, se a proposta for de investimento integral privado, será necessária uma negociação em que o governo brasileiro garanta um número mínimo de passageiros.

“Nós precisamos entender melhor. É um negócio com muitas variáveis e enorme risco. Como está, posso dizer que é impossível fazer somente com investimento privado”, reclama Pozzessere. As duas Ansaldo operam hoje, por exemplo, o trem de alta velocidade na Itália, o “Frecciarossa” (Flecha Vermelha).

Hoje, o projeto do trem-bala brasileiro está estimado em, no mínimo, 13 bilhões de euros (algo como R$ 35 bilhões). A Ansaldo Breda, que começou a desenvolver o chamado Very High Speed, trem de velocidade muito alta (acima de 350km/h), prepara-se para propor ao governo brasileiro o novo trem.

Fonte: Lourenço Flores (Correio Braziliense)

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