Nos limites da Faixa de Gaza, tanques israelenses estão posicionados para adentrar o território, onde vivem 1,5 milhão de palestinos. O governo alertou que poderá iniciar operações militares por terra se os disparos com foguetes por militantes palestinos não cessarem. O gabinete de Israel também aprovou a convocação de 6,5 mil reservistas.
Em entrevista à "BBC", o ministro da defesa de Israel, Ehud Barak, disse que uma invasão do Exército no território palestino poderia ser iniciada "se o (grupo militante palestino) Hamas não mudar seu comportamento".
Israel diz que os túneis bombardeados na área próxima à cidade de Rafah eram usados para contrabandear armas ao território palestino. Os palestinos dizem que eles eram usados para trazer suprimentos do Egito.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pediu hoje que se permita a entrada de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, em particular de equipamentos e material médico para atender aos feridos em decorrência da ofensiva militar de Israel.
Segundo o depoimento de uma das colaboradoras do CICV na zona das hostilidades, "as pessoas em Gaza têm medo de sair à rua, enquanto os hospitais estão lotados e não podem atender à magnitude nem ao tipo de ferimentos que estão se apresentando".
O CICV lembrou que a grande quantidade de feridos põe sob uma extrema pressão os hospitais, que, antes da ofensiva israelense, tinham problemas para funcionar devido à falta de material e equipamentos médicos. Soma-se a isso que as reservas de remédios já se esgotaram devido às dificuldades dos últimos meses para a entrada desses produtos em território palestino.
Ataques
Entre outros alvos dos ataques israelenses deste domingo (28) estiveram o quartel-general das forças de segurança do Hamas, a sede de um canal de TV de propriedade do grupo islâmico e uma mesquita.
Em resposta aos ataques israelenses, militantes palestinos dispararam 80 foguetes contra Israel, segundo serviços de emergência, matando um israelense na cidade de Netivot, 20 km ao leste da Faixa de Gaza.
Se o número de mortos for confirmado na Faixa de Gaza, o dia de sábado terá sido o mais sangrento na história do território palestino. O líder do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, acusou Israel de ter promovido "um massacre" e convocou uma nova intifada, ou levante, contra Israel.
Um greve geral foi convocada nos territórios palestinos enquanto moradores da cidade de Gaza se preparam para realizar funerais.
O secretário-geral do Hezbollah xiita libanês, Hassan Nasrallah, convocou neste domingo o povo egípcio a tomar as ruas "aos milhões" para forçar seu governo a abrir a passagem de Rafah, na fronteira com a Faixa de Gaza. "Que o povo (egípcio) saia aos milhões às ruas", disse Nasrallah, no discurso transmitido em um telão para milhares de pessoas reunidas em um local que pertence ao partido xiita, no subúrbio do sul de Beirute.
O Conselho de Segurança da ONU fez um apelo pelo fim imediato da violência na Faixa de Gaza. Em uma sessão de emergência, o Conselho pediu que os dois lados envolvidos no conflito se empenhem para resolver a crise no território palestino, onde vivem um 1,5 milhão de pessoas, a grande maioria delas em situação precária, com escassez de alimentos, remédios e combustível.
A embaixadora de Israel na ONU, Gabriela Shalev, disse que Israel estava agindo para "proteger seus cidadãos de ataques terroristas". "Nenhum país iria permitir os contínuos ataques com foguetes contra sua população civil sem tomar as ações necessárias para impedir isso", disse ela.
O governo americano culpou o Hamas pela nova onde de violência na região. "Nós condenamos de forma veemente os ataques repetidos com foguetes e tiros de morteiro contra Israel e consideramos o Hamas responsável por romper o cessar-fogo e pela retomada da violência. O cessar-fogo deve ser restaurado imediatamente e respeitado em sua integridade", diz um comunicado da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
'Tempo para luta'
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, advertiu no sábado que a ofensiva israelense contra o Hamas na Faixa de Gaza "pode demorar algum tempo".
"Há um tempo para trégua e um tempo para a luta, e agora é o momento da luta", disse o premiê em uma coletiva em Tel Aviv. "Todos nós estamos preparados para encarar o fardo e as dores que são parte inseparável desta situação."
Os ataques com caças F-16, que também teriam deixado centenas de feridos, são os mais intensos realizados por Israel em meses e se seguem ao fim, neste mês, do acordo de cessar-fogo entre o governo israelense e o Hamas.
Imagens exibidas pela TV mostraram cenas de caos nas ruas da Faixa de Gaza e pessoas ensangüentadas sendo levadas para hospitais. Funcionários do principal hospital de Gaza disseram que as salas de cirurgia estão superlotadas, que os remédios estão acabando e que não há cirurgiões suficientes.
Fontes médicas em Gaza disseram ainda que a maioria das vítimas dos ataques são policiais ligados ao Hamas, mas haveria também mulheres e crianças.
Olmert e a chanceler israelense, Tzipi Livni, enfatizaram que as forças israelenses estão procurando minimizar o número de vítimas entre os civis - "muito embora isso seja difícil", disse Livni. "Nós atacamos apenas alvos que são parte de organizações ligadas ao Hamas", afirmou Olmert.
Alvos
Os bombardeios de sábado atingiram várias áreas na Faixa de Gaza, visando os locais mais povoados: a Cidade de Gaza, Khan Younis e Rafah.
Em um comunicado, as forças armadas israelenses disseram que os ataques tiveram como alvo membros do Hamas responsáveis por operações de "terror", além de campos de treinamento de militantes e depósitos de armas. A maioria das vítimas teriam sido atingidas na Cidade de Gaza e, entre os mortos, acredita-se que esteja Tawfik Jaber, diretor da polícia da Faixa.
Antes da coletiva, Livni disse que não havia outra alternativa a não ser lançar os ataques. "Nós estamos fazendo o que temos que fazer para defender nossos cidadãos", disse.
O acordo de cessar-fogo de seis meses entre Israel e o Hamas expirou no dia 19 deste mês. O Hamas culpou Israel pela não renovação do tratado, dizendo que o governo israelense não cumpriu a promessa de levantar o bloqueio à Faixa de Gaza.
Com o bloqueio, Israel permite a entrada de poucos itens na Faixa de Gaza, tornando a vida muito difícil para os palestinos. O governo israelense diz que ele é necessário para isolar e pressionar o Hamas.
Israel disse que chegou a começar a levantar as restrições, mas voltou atrás ao ver que os palestinos não estavam cumprindo o que prometeram, parar com os disparos de foguetes contra alvos israelenses e abandonar o contrabando de armas.
Reações
Na Cisjordânia, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas - cuja facção política, o Fatah, foi afastada do governo da Faixa de Gaza pelo Hamas em 2007 - condenou os ataques e pediu calma.
O presidente da Liga Árabe, Amr Moussa, disse que os ataques israelenses foram assustadores e convocou uma reunião de emergência da organização para discutir a escalada da violência. A reunião deve ser realizada neste domingo, no Cairo.
"Agora estamos lidando com uma situação muito perigosa e real, uma grande tragédia humana. Haverá muitas vítimas em Gaza e os árabes precisam assumir uma posição", disse Moussa.
Por sua vez, o governo dos Estados Unidos manteve a posição de que Israel tem o direito de se defender, mas pediu que o país faça tudo o possível para preservar a vida de inocentes.
Fonte: UOL Notícias (com agências internacionais)