'Presidente Lula quer lançamento em Alcântara em julho de 2010', afirmou Carlos Ganem.
Nova proposta para obras de torre de lançamento no Maranhão deve ser feita em abril.O economista Carlos Ganem tomou posse como presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB) nesta terça-feira (25) com a promessa de que um foguete capaz de lançar um satélite deve subir a partir de Alcântara, no Maranhão, em 2010. Mas não será o famoso VLS, lançador nacional que teve três tentativas malogradas de vôo até hoje, a terceira delas culminando no acidente que matou 21 técnicos e engenheiros em agosto de 2003. O foguete que subirá de Alcântara em 2010 será o ucraniano Cyclone-4.
“Temos alguns desafios e prazo marcado. O presidente Lula quer um lançamento em Alcântara em julho de 2010”, afirmou Ganem durante a cerimônia, realizada na sede da AEB, em Brasília.
De acordo com ele, a missão de 2010 será um "teste" para possibilitar o estabelecimento do Brasil como fornecedor de serviços de lançamentos comerciais para outros países. O projeto é uma joint-venture: os ucranianos entram com seu foguete, e os brasileiros com a base de Alcântara. “Assim, [o Centro de Lançamento de Alcântara] terá condições de se transformar em um negócio altamente rentável”, afirmou.
Segundo Ganem, "se o Brasil puder assegurar a vantagem comparativa representada por Alcântara em relação à linha do Equador a economia que isso traz é da ordem de 30% a cada lançamento, cerca de US$ 5 milhões". A posição geográfica é tão favorável porque, quanto mais perto se está da linha do Equador, maior o impulso extra dado ao foguete pela própria rotação da Terra, economizando combustível (e custo) para a chegada às órbitas mais cobiçadas, destinadas aos satélites de telecomunicações. Excluindo-se o Sea Launch, plataforma móvel de lançamentos localizado no oceano Pacífico que tem custo de operação caríssimo, o centro de Alcântara é o que está mais próximo da linha do Equador.
Foguete nacional
Para o VLS (Veículo Lançador de Satélites) brasileiro, também há boas notícias. As obras de reconstrução da Torre Móvel de Integração, elemento necessário à tentativa de novos lançamentos, serão retomadas em breve, depois de ficarem paradas por mais de dois anos por conta de questionamentos acerca da licitação realizada para a condução das obras.
O anúncio da retomada das obras da torre de lançamento “em alguns meses” foi feito durante a posse de Ganem pelo coronel Olympio Achilles, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço, do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial, em São José dos Campos.
Segundo Achilles, o consórcio vencedor da licitação, que já visitou o local das obras, deve apresentar em abril uma proposta atualizada para a execução do trabalho.
A licitação original foi realizada há dois anos e meio, mas o resultado foi questionado por um consórcio que perdeu a disputa. O caso ficou então sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU) até dezembro passado, que enfim decidiu pela atualização da proposta vencedora. Na época da licitação, o consórcio venceu a disputa com uma proposta de R$ 32 milhões.
Centro espacial
Outra licitação embargada por quase dois anos pelo TCU foi a da construção do Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão. A idéia é a de ampliar o centro de lançamento que já existe lá, sob controle militar, e criar uma área de acesso civil, voltada para a divulgação do programa espacial brasileiro. No último dia 14, o TCU liberou a licitação.
A Agência Espacial Brasileira terá 30 dias para elaborar uma proposta que se enquadre nas restrições feitas pelo TCU. Para o tribunal, o edital dava muita importância a critérios técnicos sem levar em conta o custo final dos serviços a serem executados.
“O centro espacial é uma obra mais complexa, que envolve primeiro fazer um projeto executivo, envolvendo questões fundiárias de Alcântara, e pretendemos iniciar no próximo ano”, afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, presente à posse de Ganem. “O centro tem um projeto básico que está sendo revisto e precisa ter um projeto executivo que também deve ser objeto de licitação”, explicou o ministro. Segundo suas previsões, a construção do centro espacial deve custar entre R$ 300 milhões e R$ 600 milhões, mas não será construído de uma vez. Não há prazo para início das obras.
Posse
O presidente da AEB, Carlos Ganem, fez críticas à falta de desenvolvimento do programa espacial brasileiro, enquanto era abanado com um leque por sua mãe, que prestigiou a posse do filho. Ele disse que programa espacial brasileiro existe há 30 anos, mas “não é um programa de estado, apenas de alguns governos”. Por isso, afirmou, “ainda não correspondeu às expectativas dos que os criaram”.
Parcerias
Genem disse que em sua gestão o Brasil deve aprofundar parceiras tecnológicas com outros países. “Estamos discutindo com a Argentina o desenvolvimento de programas de cooperação para o desenvolvimento de satélite específico, que tem capacidade de monitorar o Oceano Atlântico, para, entre outras coisas, a meteorologia. Esperamos que possa ser lançado em 2010 ou 2011”, disse.
Fonte: G1 - Foto: AEB