Característica das asas, na parte superior da aeronave, e da altitude em que voa apontam que modelo está mais sujeito a ser impactado pelas formações de gelo.
As investigações sobre a queda do avião da Voepass na sexta-feira (9) ainda estão muito no início, e autoridades envolvidas na apuração do acidente dizem que ainda é cedo para apontar o que causou o desastre aéreo que matou 62 pessoas.
Especialistas pontuaram que nenhuma hipótese pode ser descartada, mas avaliam que as imagens feitas por testemunhas e as condições climáticas - confirmadas por pilotos que estiveram na mesma rota - sugerem que o congelamento das asas pode ter contribuído para a tragédia.
Aviões comerciais contam com sistema antigelo, capaz de 'inflar' e quebrar placas que se acumulam na frente das asas (veja outro vídeo aqui), mas, dependendo do modelo, a condição climática pode ser um risco.
Aviões comerciais contam com sistema antigelo, que infla e descarta acúmulo de gelo nas asas (Foto: Reprodução/TV Globo) |
Pela característica das asas do ATR-72, modelo que caiu no interior de São Paulo, na parte superior do avião, e da altitude em que voa (mais baixo que um jato), ele está mais sujeito a ser impactado pelas formações de gelo.
A aeronave tem um sistema antigelo e dispositivos no painel que apontam impacto às condições de voo resultantes do gelo, mas o manual da fabricante consta que estes sistemas de proteção contra gelo podem falhar em situações de 'gelo severo', e classifica a condição como 'de emergência'.
Segundo o documento, o avião pode perder sustentação ("estolar", no jargão aeronáutico) e girar, se entrar em uma área desse tipo.
O gelo severo indica que a taxa de acúmulo é tão rápida, que os sistemas falham em removê-lo e a tripulação 'precisa sair dessa condição imediatamente'.
Quando ele começa a afetar o desempenho do voo, sinais sonoros e luminosos alertam a tripulação, mas, ainda segundo o manual da fabricante, se acumulado nas superfícies do avião, o gelo severo pode não ser removido pelo sistema antigelo e degradar seriamente a performance e a capacidade de controle da aeronave.
Em nota divulgada no dia do acidente, a companhia aérea afirmou que a aeronave estava com "todos os sistemas aptos" para voar.
"A Voepass acionou todos os meios para apoiar os envolvidos (...). A aeronave PS-VPB, ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição operacional, com todos os seus sistemas aptos para a realização do voo", diz trecho.
Em matéria veiculada no Jornal Nacional, da TV Globo, no sábado (10), o professor James Waterhouse, do departamento de engenharia aeronáutica da Universidade de São Paulo (USP), explicou como o gelo pode afetar o funcionamento do sistema.
"O que acontece, é que existem duas forma de gelo. Uma das formas, a gotícula de água, está super resfriada e, quando ela bate no bordo de ataque [parte da asa da aeronave que primeiro entra em contato com o ar], ela imediatamente congela. E outras gotas que estão à frente, vão fazendo a mesma coisa, então a formação de gelo é muito rápida e cria-se uma crosta de gelo, uma camada de gelo que acaba com o fluxo aerodinâmico da asa".
James Waterhouse, do departamento de engenharia aeronáutica da USP, mostra como gelo acumula na asa (Foto: Reprodução/TV Globo) |
O avião da Voepass, empresa com sede em Ribeirão Preto (SP), sobrevoava a cidade de Vinhedo a uma altitude de 5.100 metros, em que havia relatos de pilotos sobre formação de gelo severo. Meteorologistas estimaram ainda em 35% as chances de haver gelo na região.
O acidente matou 62 pessoas, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes. Uma das comissárias de bordo, Rubia de Lima, de 41 anos, era de Bonfim Paulista.
O caso já está sob investigação do Cenipa, da Aeronáutica. O relatório preliminar deve sair dentro de 30 dias.
No domingo (11), o Cenipa que conseguiu extrair todo o conteúdo das duas caixas-pretas retiradas do avião.
A remoção da aeronave do local acontecerá assim que o Investigador-encarregado do Cenipa e o responsável pela investigação policial liberarem o início do trabalho de limpeza e de reparação de danos, que são responsabilidade da Voepass, segundo o centro.
Por Flávia Santucci, g1 Ribeirão Preto e Franca e Band News
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