quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Arremetida: entenda o que é a manobra e em que circunstâncias é feita

Na manhã desta quarta-feira, um piloto de um voo da Azul que vinha de Porto Alegre para o Santos Dumont, no Rio, decidiu abortar o pouso devido às condições do tempo. Especialistas dizem que manobra, apesar de assustar passageiros, não representa perigo ao voo.


Na manhã desta quarta-feira (20), o Globocop registrou a imagem de um avião que arremeteu quando estava se aproximando do pouso no Aeroporto Santos Dumont, um dos mais movimentados do país.

A arremetida é uma manobra em que o avião interrompe a aproximação quando está prestes a pousar --tecnicamente, é chamada de "procedimento de aproximação perdida".

A imagem pode assustar quem assiste ao vídeo e trazer desconforto para quem estiver dentro do avião, mas especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que não há perigo. A manobra é adotada justamente para garantir a segurança (entenda abaixo).

O que pode provocar a arremetida?


Manobra de arremetida de aviões (Foto: Elcio Horiuchi/Arte/G1)
Segundo pilotos, a manobra de arremeter um avião para evitar a aterrissagem pode acontecer por diversos fatores, sejam eles operacionais, meteorológicos ou questões de fluxo do tráfego aéreo. Alguns exemplos:
  • condições meteorológicas adversas, como vento ou chuva em excesso;
  • algum objeto estranho na cabeceira da pista;
  • avião se aproxima da pista com velocidade maior do que a necessária;
  • aeronave apresenta uma inclinação ou altitude não adequadas;
  • pista está molhada além dos parâmetros normais de segurança;
  • avião com algum problema mecânico.

Manobra é para garantir a segurança


Os pilotos reforçam que o procedimento faz parte dos treinamentos justamente para que o comandante da aeronave tenha total conhecimento da manobra caso ela seja necessária.

"Os parâmetros de voo precisam estar totalmente estabilizados durante toda a aproximação, principalmente na parte final do voo, para que o piloto realize a manobra de pouso. Dessa forma, as empresas adotam como prática padrão de que, se a aproximação não estiver estabilizada, a arremetida é um procedimento mandatório. Ou seja, executa a arremetida, tenta de novo e faz uma nova aproximação", explica comandante Eduardo Antunes, diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas.

"Não me recordo de nenhum acidente relacionado com arremetida, ao menos recentemente, muito menos na nossa aviação comercial brasileira", conta Antunes. "É muito mais seguro conduzir uma arremetida do que você prosseguir em uma aproximação e posterior pouso com uma aeronave que não esteja dentro dos parâmetros adequados", diz Antunes.

Luiz Alberto Maia, proprietário da escola de aviação civil Educar, de Niterói, reforça que o procedimento de arremeter é treinado com rigor na preparação dos pilotos, que precisam estar sempre preparados para a manobra.

"Esse procedimento não representa perigo nenhum para a tripulação. O perigo existiria caso o piloto não fizesse", explica Maia.

Há alguma particularidade nos voos do Santos Dumont?


O Santos Dumont é um aeroporto de pista curta devidamente autorizado a receber voos de jatos comerciais de passageiros. A aproximação dos aviões no aeroporto requer precisão bastante alta, e não é incomum que arremetidas aconteçam.

Renato Luís Salvador Gonçalves, chefe de equipamento na Azul, lembra que o Santos Dumont tem uma legislação especial e que os pilotos precisam ter um treinamento específico para poderem operar no aeroporto.

"É uma aproximação na qual o piloto não conta com a ajuda de instrumentos auxiliares. Boa parte das aproximações acontecem de maneira visual. Em algum momento, o piloto tem que ficar olhando para fora e conseguir ajustar a velocidade, inclinação da rampa e todos os outros parâmetros de voo para justamente conseguir pousar na área de toque", explica.

O que aconteceu no voo desta quarta?


Segundo Gonçalves, na arremetida desta quarta no Santos Dumont "o comandante do voo identificou, bem no final, próximo ao cruzamento de cabeceira da pista, uma alteração bastante significativa de direção e intensidade do vento, o que é relativamente comum no aeroporto devido ao relevo local".

"Esse vento acabou ficando fora das limitantes para um pouso seguro, e dessa forma, ele precisou realizar o procedimento de arremetida", argumenta.

O que é preciso avaliar após arremeter?


Ainda de acordo com o especialistas ouvidos pelo g1, o piloto precisa avaliar as condições meteorológicas e de combustível para saber o que fazer depois de arremeter.

Se as condições climáticas forem favoráveis para que o pouso aconteça no mesmo aeroporto onde a chegada do avião estava prevista, precisa retornar com o avião para o tráfego daquele terminal (uma espécie de fila virtual). mantendo o contato com a torre de controle para que ele saiba o momento exato de se aproximar da pista novamente.

Caso as condições meteorológicas impeçam a aterrissagem naquele terminal, o piloto precisa checar a quantidade de combustível que ele tem para levar o avião para um outro aeroporto.

No caso do Rio de Janeiro, a primeira alternativa é o Aeroporto Internacional do Galeão e a segunda opção é voar até o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

Outros casos recentes


Em maio, a campeã do Big Brother Brasil 21, Juliette Freire, relatou que o avião no qual ela e sua equipe viajavam precisou arremeter — ou seja, interromper o pouso — duas vezes. O relato deixou fãs preocupados, inclusive o economista Gilberto Nogueira, o Gil do Vigor, quarto colocado no BBB 21.

Juliette postou o relato nas redes enquanto chegava a São Paulo. O G1 entrou em contato com a assessoria da campeã do BBB 21 para saber em qual voo ela estava, qual o modelo da aeronave e em qual aeroporto a manobra aconteceu, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Juliette e Gil no Twitter (Imagem: Reprodução/Twitter)
Por Raoni Alves, Zeca Guimarães, José Raphael Berrêdo, g1 Rio

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