A pretensão de novo e inovador parecer sobre caças implica esperar da FAB que se declare incompetente em sua razão de existir
O Ministério da Defesa do Brasil e o governo da França uniram suas criatividades para grandes transações e, para tanto, deram novo significado a alguns termos militares comuns. Manobra militar, desde a encerrada nesta semana pelas forças aéreas brasileira e francesa no Ceará, adquire o sentido de manobra de negociantes, à maneira daquelas tão conhecidas, de governantes e empreiteiros, para manipular obras, concessões, compras e seus preços.
Com o novo sentido de exibição ou sedução, o exercício aéreo serviu ao propósito dos seus patrocinadores de obter, dos comandos e técnicos da FAB, pareceres técnicos que recomendem a compra do caça francês Rafale. Tratou-se, portanto, de manobra para proporcionar à FAB um pretexto, por pretensa sedução à vista do Rafale, para relegar suas longas e minuciosas conclusões por outro avião.
O caça da fábrica Dassault, que está longe de ser um êxito no comércio internacional de armamentos, é reconhecido como muito caro, de gastos muito altos na operacionalidade e, para o que mais interessa à FAB, menos conveniente à formação de brasileiros com a transferência de tecnologia do fabricante. No mínimo, seria a transferência de tecnologia de um avião com características inadequadas às necessidades brasileiras. E à disponibilidade orçamentária permanente.
Um aspecto paralelo da manobra com novo sentido: a pretensão de novo e inovador parecer implica esperar da FAB que se declare incompetente em sua razão de existir. Seus vastos estudos e projetos, para escolha de aviões e fabricação futura, não resistiriam nem ao breve contato com um dos relegados.
Passadas a eleição, as pressões, internas e externas, para que Lula efetive logo a compra dos caças, corresponde ao medo de que Dilma Rousseff a protele. O que seria muito compreensível, já que as atuais incertezas das finanças e da economia internacionais não recomendam negócio de tão altos valores. Há prioridades mais recomendáveis. Mas, sobretudo, não se justifica que em fim de governo se façam transações desse gênero. Dilma Rousseff não se oporá a decisão alguma de Lula, esteja de acordo ou não. A Lula cabe o dever de não invadir os comprometimentos do futuro governo, cujas circunstâncias não pode prever.
O negócio dos caças começou mal, com uma simples conversa de dois presidentes em dia de festa, no 7 de setembro de 2009, com total desprezo pelas leis brasileiras para tais transações. E ameaça terminar pior, como resultado ilegítimo de manobras.
Fonte: Janio de Freitas (jornal Folha de S.Paulo)
O Ministério da Defesa do Brasil e o governo da França uniram suas criatividades para grandes transações e, para tanto, deram novo significado a alguns termos militares comuns. Manobra militar, desde a encerrada nesta semana pelas forças aéreas brasileira e francesa no Ceará, adquire o sentido de manobra de negociantes, à maneira daquelas tão conhecidas, de governantes e empreiteiros, para manipular obras, concessões, compras e seus preços.
Com o novo sentido de exibição ou sedução, o exercício aéreo serviu ao propósito dos seus patrocinadores de obter, dos comandos e técnicos da FAB, pareceres técnicos que recomendem a compra do caça francês Rafale. Tratou-se, portanto, de manobra para proporcionar à FAB um pretexto, por pretensa sedução à vista do Rafale, para relegar suas longas e minuciosas conclusões por outro avião.
O caça da fábrica Dassault, que está longe de ser um êxito no comércio internacional de armamentos, é reconhecido como muito caro, de gastos muito altos na operacionalidade e, para o que mais interessa à FAB, menos conveniente à formação de brasileiros com a transferência de tecnologia do fabricante. No mínimo, seria a transferência de tecnologia de um avião com características inadequadas às necessidades brasileiras. E à disponibilidade orçamentária permanente.
Um aspecto paralelo da manobra com novo sentido: a pretensão de novo e inovador parecer implica esperar da FAB que se declare incompetente em sua razão de existir. Seus vastos estudos e projetos, para escolha de aviões e fabricação futura, não resistiriam nem ao breve contato com um dos relegados.
Passadas a eleição, as pressões, internas e externas, para que Lula efetive logo a compra dos caças, corresponde ao medo de que Dilma Rousseff a protele. O que seria muito compreensível, já que as atuais incertezas das finanças e da economia internacionais não recomendam negócio de tão altos valores. Há prioridades mais recomendáveis. Mas, sobretudo, não se justifica que em fim de governo se façam transações desse gênero. Dilma Rousseff não se oporá a decisão alguma de Lula, esteja de acordo ou não. A Lula cabe o dever de não invadir os comprometimentos do futuro governo, cujas circunstâncias não pode prever.
O negócio dos caças começou mal, com uma simples conversa de dois presidentes em dia de festa, no 7 de setembro de 2009, com total desprezo pelas leis brasileiras para tais transações. E ameaça terminar pior, como resultado ilegítimo de manobras.
Fonte: Janio de Freitas (jornal Folha de S.Paulo)
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