quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Crianças dos EUA são 'reprovadas' em história do 11 de Setembro

Sem lembrança de sete anos atrás, crianças não sabem o que aconteceu.

Livros didáticos praticamente ignoram os ataques terroristas.

Vista das torres gêmeas do World Trade Center após atentados de 11 de setembro de 2001

“Terroristas árabes que não gostam dos Estados Unidos atacaram as torres gêmeas em Nova York, mas a população do país se uniu com heroísmo e entrou em guerra com o Iraque para proteger o país.” É assim que crianças norte-americanas que ainda não eram nascidas à época, ou que eram muito novas para terem lembranças do drama vivido em Nova York e Washington, descrevem os atentados terroristas que completam sete anos nesta quinta-feira (11).

“Eles não sabem muito”, diz o professor Robert Peterson, que ensina a crianças de 10 a 12 anos na quinta série de uma escola em Milwaukee. “Eles sabem apenas que houve um ataque com aviões, que atingiram as torres gêmeas. Muitos acham que foi realizado pelos iraquianos, e por isso estamos em guerra com o país.”

A pedido do G1, Peterson perguntou a seus alunos, que tinham em média 3 anos quando os Estados Unidos sofreram o maior ataque de sua história, o que eles sabiam sobre o assunto. “Dois terços deles não sabiam nenhum detalhe, e tudo o que eles sabem vem de filmes e notícias na TV enfocando o heroísmo e a luta pela sobrevivência no dia do ataque – falando de bombeiros e voluntários”, disse o professor.

“Eu não sei muito, mas sei que aviões bateram nas torres gêmeas. Muitas pessoas ficaram desesperadas tentando escapar e a polícia usou cachorros para procurar pessoas”, respondeu um dos alunos dele. “Os iraquianos atacaram os Estados Unidos”, arriscou um outro. “Osama bin Laden e o governo da Arábia Saudita realizaram os ataques”, segundo uma terceira criança.

Somente um aluno, de uma turma de 24 crianças, sabia que o ataque não havia sido realizado pelos iraquianos, relatou o professor. E a resposta sobre o motivo de os ataques terem acontecido foi quase unânime: “Porque eles não gostam dos Estados Unidos”.



Ensino

Vencedor de um concurso de projetos sobre a forma de ensinar crianças sobre o que aconteceu no 11 de Setembro e co-editor do livro “Rethinking globalization” (repensando a globalização), Peterson critica a forma como o conteúdo da história recente é apresentado aos estudantes.

De fato, o assunto é quase totalmente ignorado pelos livros didáticos usados pelas escolas de ensino básico dos Estados Unidos. “O assunto é evitado, pois os livros preferem não entrar em polêmicas”, disse Gilbert Sewall, diretor do American Textbook Council, organização norte-americana responsável pela análise dos livros escolares usados para ensinar história no país.

Segundo Sewall, todos livros são superficiais e preconceituosos. “É muito comum associar de forma direta e simplificada o terrorismo com islã”, disse.

Segundo o professor Peterson, em um livro de 800 páginas usado para ensinar a história do país, os ataques de 11 de Setembro têm quase nenhum espaço. “O tom do livro é todo muito patriótico, apontando o país como a única superpotência do mundo, e trata o 11 de Setembro com foco no heroísmo dos bombeiros, na união do país contra o terrorismo”, disse Peterson.

“Eles dizem apenas que ‘os terroristas’, de forma bem genérica, ‘jogaram dois aviões contra as torres gêmeas. O povo reagiu de forma corajosa e o governo, junto com os militares, começou imediatamente a trabalhar em formas de combater o terrorismo e evitar novos ataques’”, disse. “Toda a abordagem dá a impressão de que todo o país se uniu e quis entrar em guerra, o que não é verdade.”

Contra a guerra

Em sua escola, Peterson diz que aborda o tema de forma mais crítica. “Tento fazer as crianças pensarem no que acontece no mundo, e eles se solidarizam com os outros países. As crianças normalmente se mostram interessadas neste tipo de aula em que há debate, em que há questionamentos em vez de apenas terem que decorar nomes e datas.”

Esta participação dos alunos fez com que elas se empolgassem a criar um movimento próprio, o Kids Against the War (crianças contra a guerra), com discussões e confecção de cartazes para mobilizar as pessoas. “É um trabalho que é feito fora da sala de aula, nos intervalos, e que envolve crianças interessadas em fazer valer a democracia”, diz Peterson.

Fontes: G1 / Globonews - Foto: Reprodução (Creative Commons)

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