domingo, 26 de fevereiro de 2023

Um ano de guerra: as perdas aéreas de Rússia e Ucrânia em 365 dias de conflito


Na última sexta-feira (24) completou-se 365 dias que as tropas da Rússia cruzavam as fronteiras da Ucrânia, iniciando uma guerra que até mesmo as autoridades norte-americanas acharam que duraria apenas 72 horas. O conflito que completou um ano na sexta-feira (24) abalou fortemente a geopolítica mundial, mudou a maneira de se guerrear e matou um incontável número de civis e militares.

Os meios aéreos foram amplamente empregados desde as primeiras da “Operação Militar Especial”, como Moscou chama a invasão na Ucrânia. Desde então, os dois países juntos acumulam 265 aviões, helicópteros e drones de combate (UCAV) perdidos ou capturados no combate. Se somarmos os pequenos (e amplamente empregados) drones de reconhecimento, esse número sobe para 517 abates ou capturas.

Destroços de Su-30 que caiu em um campo na Ucrânia (Foto: Andriy Tsaplienko)

Rússia


Após meses de tensão elevada por conta do acumulo de milhares tropas nas fronteiras do país vizinho, a madrugada do dia 24 de fevereiro de 2022 ficou marcada pelo discurso do presidente russo Vladimir Putin, gravado ainda antes da ação, mas transmitido enquanto a Ucrânia começava a ser atacada.

Os ataques de mísseis de cruzeiro e demais armas de precisão neutralizaram várias unidades ucranianas, mas as primeiras horas do conflito já fariam suas primeiras vítimas do lado invasor, com a resposta das tropas de Kiev, derrubando aviões e helicópteros das forças armadas de Moscou.

Desde então, a Rússia perdeu 74 aviões, 78 helicópteros, sete UCAVs e 186 aeronaves remotamente pilotadas (ARPs) de reconhecimento, incluindo unidades capturadas, danificadas e/ou destruídas em ações fora do combate.


As perdas são variadas, incluindo vetores mais modernos, como o Ka-52 Alligator e o Su-35 Flanker-E, ou veteranos como os jatos de ataque Su-25 Frogfoot, sobre o qual falaremos com mais detalhes em seguida.

Embora acumulem um número significativo de perdas, aliado à uma cadeia logística problemática, as Forças Aeroespaciais Russas (VKS), Aviação do Exército e aviadores do Grupo Wagner de mercenários seguem impondo uma ameaça real e eficaz contra a aeronáutica ucraniana e tropas em solo.

Restos de um Su-35S Flanker-E da VKS, abatido na Ucrânia em 30/04.
O Su-35 é o jato mais moderno que a Rússia perdeu no conflito (Foto: Reuters)
Outro fator importante é a densa defesa aérea, que nega o uso do espaço aéreo por meio de camadas de sistemas de curto, médio e longo alcance. Isso força os pilotos a realizar voos rasantes, o que também os expõe aos mísseis antiaéreos portáteis (MANPADS). Cabe destacar, no entanto, que essa realidade também existe para os russos, uma vez que a OTAN tem enviado sistemas antiaéreos cada vez mais avançados aos ucranianos.

Ucrânia


Assim que os militares russos começaram a invasão, uma série de bases aéreas, sítios de mísseis antiaéreos (SAM) e prédios de manutenção da Ucrânia se tornaram alguns dos primeiros alvos. Muitos aviões foram destruídos ainda em solo, enquanto boa parte foi salva dos ataques.

A velha mas capaz Força Aérea Ucraniana (UAF) deu a resposta, com uma série de vídeos virais mostrando caças MiG-29 e Su-27 e jatos de ataque Su-24 e Su-25 voando baixo e armados, na caça ao inimigo. No meio da confusão do conflito, uma lenda urbana de um Ás da Força Aérea Ucraniana também surgiu, indo até mesmo aos grandes jornais da mídia tradicional, mas desmentida somente meses depois.


Ainda assim, os números do lado azul e amarelo também são consideráveis. Kiev perdeu 59 aviões, 30 helicópteros, 17 UCAVs e 66 ARPs, também somando unidades capturadas ou danificadas.

Embora fortemente abalada, a UAF segue lutando contra o inimigo que é numericamente e tecnologicamente superior, que dispõe de caças de 5ª geração e armas de precisão. Generais ucranianos já reconheceram que a luta pelo espaço aéreo é favorável à Rússia, que realiza patrulhas aéreas de combate com aviões armados com mísseis de longuíssimo alcance, e que operam dentro da proteção do pesado guarda chuva antiaéreo.


Dessa forma, Kiev tem suplicado ao Ocidente pela transferência de caças modernos, como o Saab Gripen, F/A-18 Hornet, Mirage 2000 e F-16 Viper. Após vários meses de negociação, esta realidade pode estar cada vez mais próxima, com aliados sinalizando positivamente para esses pedidos.

Por outro lado, os MiG-29 e Su-27 foram adaptadas para carregar mísseis antirradiação norte-americanos, que já acumulam vitórias sobre alvos russos. É possível que logo também carreguem as bombas inteligentes JDAM, inclusas nos últimos pacotes de auxílio militar.

Avião mais abatido


Dentre os dados compilados pelo portal Oryx, um avião se destaca como o modelo mais abatido somando as perdas de ambos os lados: o Sukhoi Su-25 Frogfoot.

O Su-25 foi desenvolvido especificamente para missões de ataque ao solo e suporte aéreo aproximado, como uma resposta ao A-10 Thunderbolt II norte-americano, operações o expõe aos MANPADS, SAMs de curto alcance e artilharias antiaéreas de cano. Isso reflete no número de aviões perdidos/danificados no conflito: 43, sendo 16 para a Ucrânia e 27 para a Rússia.

Su-25 russo com danos após ser atingido por um míssil terra-ar ucraniano
De qualquer forma, o Grach, como é chamado na Rússia, é amplamente reconhecido por sua robustez (assim como o A-10), capaz de retornar à base mesmo seriamente danificado. É o caso de um Frogfoot russo que pousou após ser atingido por um míssil ucraniano, logo nos primeiros meses da guerra. Isso também foi reforçado no final de janeiro em um incidente na África, entre Congo e Ruanda.

Outros aviões também são proeminentes na lista, como o MiG-29 Fulcrum, aeronave mais destruída no lado ucraniano, com 17 vetores (apenas um a mais que o Su-25). Para a Rússia, o Su-25 lidera o número de abates, enquanto o Su-34 Fullback também chama atenção nesse quesito, com 18 aeronaves destruídas. O moderno caça-bombardeiro de longo-alcance também caiu para a defesa aérea ucraniana ainda no primeiro mês do conflito.

Helicóptero Ka-52 Alligator derrubado perto de Hostomel no primeiro dia da guerra entre Rússia e Ucrânia (Foto via UAF)
No todo, a maior vítima dentre as aeronaves russas é o helicóptero de ataque Ka-52 Alligator, com 31 abates. Helicópteros em geral tem sido “alvos fáceis” para os MANPADS de ambos os lados.

Sem luz para um fim


A guerra aérea no leste europeu trouxe uma série de lições para o mundo todo, sendo fruto para a produção de artigos noticiosos e estudos mais aprofundados, seja em nível amador ou acadêmico/profissional. À medida que o conflito avança e as táticas se atualizam, as formas de emprego dos vetores aéreos também mudam. Com a possível chegada de novos aviões de caça nas mãos dos ucranianos, a situação se torna ainda mais preocupante.

Os eventos mais recentes não indicam nenhuma resolução para a sangrenta guerra entre Ucrânia e Rússia no curto prazo. Dessa forma, o número de aeronaves derrubadas deve crescer. Infelizmente, o mesmo serve para as vidas inocentes.

Via Gabriel Centeno (Aeroflap) - Imagens: g1 e Wikipedia

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