sábado, 17 de outubro de 2020

Nas asas da Panair: conheça a história da empresa criada há 90 anos

Quando sua falência foi decretada, em 1965, a Panair tinha tudo para continuar sendo a melhor companhia aérea do Brasil. Noventa anos depois de sua inauguração, celebrados neste mês de outubro, a empresa continua viva no imaginário dos brasileiros, especialmente no dos cinco mil funcionários que, da noite para o dia, foram impedidos de trabalhar.

Em uma época em que voar era para poucos, tinha o melhor serviço de bordo do país - incluindo as primeiras refeições quentes servidas em brasileiros. Era a “Senhora do Norte”, com voos para mais de 40 destinos da Amazônia distante. E se conectava ao mundo em rotas inéditas até então.

Foi em aviões da Panair que a seleção brasileira campeã voltou da Suécia, em 1958, Pelé fez sua primeira viagem aérea, o compositor Fernando Brant tomou sua primeira Coca-Cola e Milton Nascimento brincava de pilotar, antes de comporem o autobiográfico (de suas vidas e da história do país) “Saudade dos aviões da Panair”.

Nos anos 1960, a Panair colecionava quase seis mil travessias do Atlântico, e seu piloto mais famoso, Coriolano Tenan, 26.715 horas de voo. De forma voluntária e sem lucro, hidroaviões Catalina voavam para 43 localidades amazônicas para levar remédios, alimentos e correio a comunidades ribeirinhas.

Este ano, a empresa ressurgiu, lançando seu primeiro site, com material histórico e loja de produtos (www.panair.com.br), e se aliando ao Pacto Global da ONU em responsabilidade de práticas de sustentabilidade corporativa e defesa dos direitos civis e humanos.

- Em termos de patrimônio e qualidade técnica, a Panair era inigualável - afirma Daniel Leb Sasaki, autor da biografia “Pouso forçado” (Record).

A primeira edição de 2005 foi finalista do Prêmio Jabuti, e a pesquisa de fôlego de mais de 15 anos do escritor rendeu uma edição ampliada com os desdobramentos do caso, em 2015, e deve virar série, ainda em fase inicial.

Avião da Panair - Foto: Jaime Acioli / Museu Histórico Nacional

O país mal tinha digerido o golpe de estado que afastara João Goulart, menos de um ano antes, quando mais uma manobra surpreenderia o Brasil. Sem aviso prévio e sob pretexto de irrecuperabilidade financeira, o então presidente da República, Castelo Branco, mandioca como concessões de voo da empresa.

- A Panair fechou por perseguição política a seus sócios majoritários - acredita Rodolfo da Rocha Miranda, filho do então acionista Celso da Rocha Miranda e atual presidente da Panair.

O veredito veio em 2014 com a Comissão Nacional da Verdade, confirmando a ilegalidade das ações contra uma empresa que, embora dispusesse de “condições, jurídicas e financeiras para operar”, teve concessões suspensas e foi impedida de se defender diante das manobras lideradas pelo governo da época e da concorrência interessada em suas rotas internacionais.

Seu portfólio inquestionável inclui ainda a cobertura total das linhas de radiotelegrafia do Atlântico Sul, a criação da maior escola de aviação do Hemisfério Sul, a aquisição da Celma (respeitada oficina mecânica que revisão revisão para aviões da FAB) e até participação no Esforço de Guerra , programa de melhoria da infraestrutura em aeroportos estratégicos, durante a Segunda Guerra.

Fundada em 1929 como Nyrba do Brasil SA, a Panair do Brasil SA viria a público em outubro de 1930 e seu primeiro voo de voos foi lançado no ano seguinte com a rota Belém-Santos, um pinga-pinga com pernoites em três capitais e com a novidade de um comissário de bordo. Nos anos seguintes, uma companhia seria dona da maior malha de rotas domésticas do mundo e de uma rede internacional que conectava o Brasil a lugares como Egito, Líbano, Europa e as Américas, como o longo Nova York-Rio, de quase 19 horas.

Ano passado, o Museu Histórico Nacional abrigou a exposição “Nas asas da Panair”, com cerca de 700 objetos.

- Destaco a maravilhosa folheteria da empresa, a louça de bordo e uma réplica de um avião de cerca de 1,5m que parece voar de verdade - teor a curadora, Mariza Soares.

A Panair era conhecida não somente pela alta qualidade de seu material gráfico, mas também por objetos como louça folheada a ouro, faqueiro de prata e amenities para os passageiros.

—A gente não quer que a memória seja apagada. A história estará acesa enquanto a causa ( do fechamento ) não para oficializada - diz Rodolfo.

Como na letra de Milton, “nada de triste existe que não se esqueça”, exceto o que se viveu nas asas da Panair.

Fontes: O Globo / tokdehistoria - Fotos: Reprodução

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