terça-feira, 9 de outubro de 2012

Terminal privado

O crescimento da demanda e o aumento da frota estimulam a construção de três novos aeroportos para aviões executivos na região metropolitana de São Paulo, com investimentos de R$ 1,5 bilhão.

Em São Paulo, voar nem sempre é a solução para fugir dos engarrafamentos nas ruas e avenidas. O espaço aéreo da cidade também está congestionado e os três aeroportos que servem a cidade – Congonhas, Cumbica e Campo de Marte (este apenas para voos executivos) – já não comportam o intenso tráfego que mistura voos comerciais com os privados. Helicópteros já não conseguem pousar e decolar com a flexibilidade desejada e quem possui avião executivo enfrenta cada vez mais restrições para operar nos aeroportos tradicionais. E nem mesmo as ampliações previstas para os terminais de passageiros de Cumbica (R$ 1,4 bilhão até 2014) e Viracopos, em Campinas, a 95 quilômetros de São Paulo (R$ 873 milhões), entregues em regime de concessão à iniciativa privada, devem mudar esse quadro.


As dificuldades vividas nas salas de embarque, aliadas ao vertiginoso crescimento do mercado de aviação civil – cuja frota avançou 6,4% em relação a 2010, totalizando 13,1 mil aviões a jato, turboélices e helicópteros no País –, deram asas a uma bilionária disputa entre grupos de investidores paulistas, que já anunciaram projetos para a construção de um quarto (e um quinto e talvez um sexto) aeroporto no entorno da metrópole. Os três principais terminais privados, a princípio voltados apenas aos voos executivos, somariam um investimento de R$ 1,5 bilhão nos próximos três anos. Todos já têm autorizações prévias das autoridades aeronáuticas para seguir com estudos ambientais e detalhamentos técnicos.

Logística: localização à margem do trecho sul do Rodoanel é o trunfo do aeroporto de André Skaf

O mais estruturado e em estágio mais avançado é o projeto do grupo JHSF, do empresário José Auriemo Neto, que atua na área de incorporação e shopping-centers para o mercado de luxo. Instalado na cidade de São Roque, a 75 quilômetros de São Paulo, faz parte de um grande complexo imobiliário que inclui condomínios, torres de escritório e hotel de luxo, além de um centro de compras. Batizado de Aeroporto Catarina, o terminal impressiona pelos números superlativos. O custo está estimado entre R$ 500 milhões e R$ 700 milhões e será erguido em um terreno de sete milhões de metros quadrados. Além disso, contará com duas pistas: a principal com 2,5 mil metros, será 500 metros maior do que a segunda.


A do Aeroporto de Congonhas, por exemplo, possui 1.940 metros. “Trabalhamos com o conceito de uma cidade compacta, dotada de aeroporto”, diz Rogério Lacerda, diretor da JHSF, encarregado do projeto. Ambição semelhante, mas ainda com poucos detalhes revelados, possui a também paulistana Eiko Engenharia. A empresa foi contratada por um grupo de investidores, cujo nome é mantido em sigilo, para construir um aeródromo em Ibiúna, a 80 quilômetros da capital paulista. A expectativa é investir R$ 500 milhões em um megaempreendimento que contaria, a princípio, com shopping center, faculdade, torres de apartamentos, hotel de alto padrão e até hospital.

Na mira: projeto gera desconfiança de parte da população

O local escolhido para o novo aeroporto fica às margens da rodovia Bunjiro Nakao, que possui uma faixa simples de rolamento que mal dá conta do tráfego atual de moradores da cidade, pequenos sitiantes e donos de chácaras de lazer. Na semana passada, a fixação de uma placa no quilômetro 59,5 da rodovia acirrou o debate sobre o tema, especialmente na internet, onde existem sites contrários ao projeto. Em nota enviada à DINHEIRO, a direção da Eiko argumenta que o gargalo rodoviário deverá ser solucionado em breve. “Existe o compromisso do governo do Estado em duplicar a rodovia.” De acordo com especialistas, isso pode não ser o suficiente.

Luxo só: José Auriemo, da JHSF, aposta no conceito de cidade 
integrada a um aeroporto, de olho nos endinheirados

“Para chegar à região central de São Paulo com eficiência e rapidez, somente de helicóptero”, afirma Jorge Leal Medeiros, professor de transporte aéreo e aeroportos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Não por acaso, a facilidade de acesso vem sendo um dos argumentos de “venda” do Aeródromo do Rodoanel, projeto capitaneado pelos empresários André Skaf, filho do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e Fernando Botelho Filho. “Dispomos do último bom terreno em São Paulo capaz de absorver um empreendimento desse porte”, diz Skaf. Ele não revela, por enquanto, a localização exata. Diz apenas que o aeródromo será erguido próximo ao trecho sul do Rodoanel Metropolitano de São Paulo.

“O acesso aos centros econômico-financeiros da capital será nosso principal trunfo.” Do ponto de vista da sustentabilidade empresarial, os especialistas acreditam que três aeroportos no entorno de São Paulo podem ser viáveis. “Ninguém entra em um negócio desse porte para colocar recursos a fundo perdido”, afirma Medeiros. Além disso, o crescimento da demanda local vem sendo puxado, principalmente, pela chamada aviação executiva. “Cada vez mais, os empresários e gestores de grandes empresas querem administrar seu tempo com eficiência”, afirma Skaf, do Aeródromo do Rodoanel. “Para eles, perder tempo significa, na prática, perder dinheiro.”

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Fonte: Rosenildo Gomes Ferreira (IstoÉ Dinheiro) - Imagens: Divulgação

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