segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Governo negocia compra de novo avião presidencial

Força Aérea Brasileira pediu proposta para duas aeronaves, uma delas com área VIP, o Aerodilma

Modelo favorito custa cinco vezes os R$ 98 mi gastos com o Aerolula, que não tem autonomia para voos muito longos

Sem alarde para evitar a repetição da polêmica que envolveu a compra do Aerolula (Airbus-319ACJ), o governo negocia a aquisição de um avião maior e mais caro que poderá servir à presidente eleita, Dilma Rousseff, e a seus sucessores.

O Aerodilma, caso seja adquirido mesmo com o cenário de contenção de gastos do governo, deverá ser um aparelho europeu da Airbus - um modelo de reabastecimento aéreo A330-MRTT, equipado com área VIP presidencial e assentos normais.

O avião custa até cinco vezes os US$ 56,7 milhões (R$ 98 milhões na sexta-feira) pagos em 2005 pelo Aerolula, um Airbus-A319 em versão executiva.

Justificar tal despesa seria complicado, como foi em 2005, e seria fonte certa de desgaste para Dilma, que até onde se sabe não foi informada sobre a ideia. Assim, juntou-se a fome com a vontade de comer, e a nova compra está sendo camuflada por uma necessidade real.

A FAB (Força Aérea Brasileira) precisa substituir seus dois aviões grandes de reabastecimento. São os antigos Sucatões presidenciais, versões com quase 50 anos de uso do vetusto Boeing-707.

Por falta de condições, foram excluídos do último grande exercício aéreo da Força Aérea Brasileira.

No fim da década, os militares estimam ter 150 caças, e reabastecimento é vital dadas as distâncias do país.

Como no caso dos Sucatões, o novo avião poderia cumprir a tarefa de reabastecimento e ser o aparelho de transporte intercontinental dos presidentes. Para viagens internas, o governo já usa dois Embraer-190.

AEROLULA

Do lado da Presidência, segundo a Folha apurou, o problema é o Aerolula. O presidente Lula reclama da necessidade de paradas para reabastecimento do avião, que tem cerca de 8.500 km de autonomia -o que não garante um voo tranquilo Brasília-Londres, por exemplo.

Não deixa de ser irônico, já que à época da compra do Aerolula uma das alegações para a aquisição do modelo europeu era que ele poderia fazer voos intercontinentais que os similares da Embraer não poderiam. Meia verdade: sua lista de destinos sem escala não é tão grande.

Já o A330-MRTT pode voar até 12,5 mil km sem reabastecer, podendo viajar sem escalas de Brasília a todas as capitais europeias e americanas. Não é comparável como produto com o Aerolula, modelo só de transporte VIP.

Na compra de cinco Airbus em 2008, a Austrália pagou quase US$ 300 milhões (R$ 519 milhões) a unidade. Os EUA chegaram a selecionar o modelo em uma concorrência que acabou suspensa, e pagariam algo como US$ 200 milhões (R$ 346 milhões) por avião.

Mas cada venda é diferente. No caso americano, eram quase 200 aeronaves com especificações diferentes, o que dilui custos. Então, os preços citados são apenas referência.

Uma versão executiva do A330, sem ser avião-tanque, foi estreada neste mês pelo presidente francês Nicolas Sarkozy. Ganhou, além das críticas pelos R$ 400 milhões gastos, o apelido de "Air Sarkô" na França.

Em setembro, a FAB emitiu o pedido de propostas à fabricante EADS europeia (A330-MRTT), à Boeing americana (767) e para a israelense IAI (que adapta os 767). Não há previsão orçamentária, e verbas extras terão de ser aprovadas no Congresso.

O pedido requer duas aeronaves. Uma com capacidade de reabastecimento em voo, transporte de carga e de passageiros. A outra, tudo isso mais a previsão de uma área VIP -normalmente, uma suíte com chuveiro.

EUROPEUS

Segundo a Folha apurou, a Boeing não cogita participar da disputa enquanto não for definido qual avião será escolhido nos EUA, o 767 ou o A330. A IAI é vista sem grandes chances na FAB.

Sobram então os europeus. Procuradas, EADS e Boeing alegaram sigilo do pedido da Aeronáutica para não se manifestar. A IAI não respondeu ao contato. Oficialmente, a FAB apenas confirma que emitiu o pedido de propostas, e que até aqui só a EADS respondeu.

Se a compra ocorrer em 2011, estima-se que o primeiro avião seja integrado até 2014. O Aerodilma só voaria então no fim do mandato da presidente, deixando o apelido que carregaria após 2015 para especuladores.

Fonte: Igor Gielow (jornal Folha de S.Paulo) - Foto: 0Sérgio Lima/Folhapress

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