Vinte meses após ter feito um pouso forçado, a BRA Transportes Aéreos ressurge disposta a resgatar suas origens. agora, em vez de brigar por espaço com as potências do setor, TAM e Gol, a BRA vai se concentrar unicamente em voos charter e fretamentos. E o recomeço está sendo em bases modestíssimas. O único avião da frota, um Boeing 737-300 alugado da Gol, fez apenas sete voos desde 7 de abril. todos a serviço de clubes de futebol, mas as perspectivas são positivas, na avaliação de Danilo Amaral, presidente da BRA.
Segundo ele, neste período a companhia já recebeu cerca de 50 consultas de fretamento para atender eventos, como congressos corporativos, sindicatos e até casamentos. Para dar conta da demanda, ele já solicitou à parceira Gol mais duas aeronaves. Uma delas será entregue ainda neste mês. Com isso, amaral espera fechar o período de 12 meses, encerrado em março de 2010, com receitas de r$ 105 milhões - montante equivalente a um terço do faturamento obtido em 2006, quando viveu sua época áurea. "A BRA será uma empresa menor mas totalmente sustentável", diz o executivo.
O mercado tem lá suas dúvidas. De acordo com um consultor, que pediu para não ter o nome revelado, é difícil reverter um quadro marcado por elevado passivo e imagem desgastada quando não se dispõe de recursos abundantes. "a BRA está na mesma situação daquele trabalhador que ganha salário mínimo e decide comprar um carro zero-quilômetro. Mesmo que o pagamento seja feito em suaves prestações, não sobrarão recursos para as demais despesas", opina o especialista em aviação.
Amaral, como era de se esperar, discorda. Para ele, a negociação feita com os credores, bancos e fornecedores devolveu o oxigênio que a BRA precisava para viver. Isso porque as dívidas foram reduzidas em 70%, para r$ 72 milhões, com prazo de oito anos para ser quitadas, sendo um ano de carência.
Além disso, o novo controlador, Walter Folegatti - substituto do irmão Humberto, pivô do desentendimento com os integrantes do fundo Brazilian Air Partners, que detém 42% das ações - injetou US$ 2,5 milhões para viabilizar a retomada das operações.
Na avaliação do presidente da BRA, o mercado está ávido por uma empresa com perfil ágil e especializada em fretamento. "as gigantes do setor aéreo tratam esse nicho como um negócio secundário. nós temos flexibilidade de negociação e podemos customizar totalmente o voo, desde a configuração dos assentos até a refeição servida a bordo", argumenta.
Foi isso, segundo ele, que fez com que os times de futebol optassem recentemente pela BRA. Como exemplo cita o Grêmio, de Porto Alegre (RS), que precisava disputar uma partida em Lima (Peru) e fechou com a companhia aérea apesar de o pacote ter ficado 10% acima do cobrado por um voo de carreira. "Mostramos que o valor, na verdade, era barato, já que o time economizaria 34 horas, levando em conta o tempo perdido com escalas, sem contar o atendimento personalizado", conta o executivo.
O novo piloto da BRA tem pouca intimidade com o mundo da aviação. Especialista em direito societário e em gestão, ele ingressou na empresa em 2006 como advogado do fundo Brazilian Air Partners. Depois foi nomeado vice-presidente de relações institucionais e novos negócios e acabou assumindo a liderança do processo de recuperação judicial.
Para compensar a pouca experiência em aviação, ele contratou duas consultorias: Vallua e Excelia. Amaral define de uma forma, digamos, peculiar o momento vivido pela BRA: "estivemos em coma. saímos e fomos levados à UTI. Agora, chegou a hora de fazer a reabilitação do paciente", diz. Tarefa que, de acordo com o executivo, será facilitada com a recém criada agência encarregada de comercializar os voos da BRA. Nessa área é importante ter um veículo para a captação de clientes. Afinal, avião parado é sinônimo de prejuízo.
Fonte: Rosenildo Gomes Ferreira (IstoÉ Dinheiro) - Foto: Karime Xavier (Ag.IstoÉ)