quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Força tarefa do MPT que investiga setor aéreo desconhece denúncias sobre condições de aviões da BRA

Passageira fotografou asa do avião remendada com silver tape

Apesar de inúmeras denúncias que pilotos da BRA dizem ter feito às regionais do Ministério Público do Trabalho (MPT) em São Paulo e no Rio de Janeiro, a força tarefa nacional do órgão que investiga o setor aéreo desde o último acidente do Airbus 320 TAM afirma não ter conhecimento dos problemas na manutenção das aeronaves da companhia, cuja suspensão dos vôos é o capítulo mais recente da crise na área.

Um piloto da empresa, que pediu anonimato, chegou a fotografar situações escandalosas nos aviões ( clique aqui e confira algumas dessas imagens na fotogaleria no site ), como buracos na fuselagem e vazamento de óleo na turbina, que ofereciam risco de vida aos tripulantes e passageiros. No final de outubro, O GLOBO ONLINE já havia publicado uma matéria relatando denúncias sobre as condições de trabalho na BRA .

O procurador Alessandro Santos, um dos três coordenadores da força-tarefa do MPT criada em agosto , alega desconhecer essas denúncias. As declarações foram dadas por meio de sua assessoria de imprensa. Nesta segunda-feira, a equipe do MPT fez a última escala, no aeroporto de Recife, e agora os procuradores finalizam um relatório das situações que encontraram.

" O avião PR-BRW, um Boeing 767-300, ficou um ano atravessando o Atlântico, entre Brasil e Europa, com uma pane de conversor, que não podia pegar chuva "

O piloto que fez as fotos, publicadas com exclusividade pelo Globo Online, conta que os funcionários da empresa eram proibidos de reportar esses problemas.

- Existe na aviação um documento chamado relatório de perigo, que deveria ser sigiloso, o nome de quem preenche não deveria aparecer. Mas os funcionários da BRA eram proibidos pela chefia de preencher essa documentação. As panes também não entravam no diário de bordo - denuncia o piloto.

- O avião PR-BRW, um Boeing 767-300 ficou um ano atravessando o Atlântico, entre Brasil e Europa, com uma pane de conversor. Ele não podia pegar chuva, senão poderia incendiar a turbina - acrescenta. - Esse avião atrasou em dez horas a saída Lisboa porque o piloto se negou a sair naquelas condições. A demora foi tanta que a comida azedou. Depois disso, esse profissional ficou 29 dias sem entrar na escala - relata .

Em agosto deste ano, o mesmo avião teve mais problemas na escala em Recife, vindo de Lisboa, e não consegui decolar. O caso faz parte de uma série de sustos que os passageiros da BRA já relataram . Passageira também fotografou asa do avião remendada com silvertape.

O piloto BRA denuncia ainda o desgaste dos pneus do trem de pouso do avião PR-BRZ, um Boeing 767-200, que durante uma descida levou a banda de rodagem a se soltar e atingir a asa e o motor, causando uma explosão e amassando as palhetas da turbina.

- A banda de rodagem saiu inteirinha. Primeiro furou a asa e o resto foi para cima, sugado pela turbina, cujas palhetas ficaram amassadas - conta.

" Na volta, reparei algo estranho na asa e peguei a câmera com zoom de uma amiga e fiz a foto. Fiquei chocada ao ver que era fita silver tape "

Passageiros também afirmam que as condições dos aviões da empresa eram ruins. A arquiteta D.T, de 37 anos, é uma das clientes que deixou de voar com a companhia aérea depois de fotografar um remendo de silver tape na asa da aeronave PR-BRY em que viajava de Porto Seguro para Ribeirão Preto.

- Na viagem de ida, eu já tinha ficado preocupada porque o avião ficou quase uma hora abastecendo em Uberaba. Na volta, reparei algo estranho na asa e peguei a câmera com zoom de uma amiga e fiz a foto. Fiquei chocada ao ver que era fita silver tape - afirma a passageira, que comprou essa passagem junto com um pacote de Carnaval da PNX, empresa de turismo que pertence ao mesmo grupo que a BRA.

A assessoria de imprensa da companhia aérea foi procurada pela reportagem, mas não se pronunciou sobre o assunto. Aeronautas estranham falta de conhecimento do MPT sobre denúncias.

A declaração da força tarefa do MPT de que desconhece as denúncias a respeito das aeronaves da BRA causou estranhamento na presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, que afirmou que a entidade já levou várias casos neste sentido às representações regionais, que deveriam repassá-las à força tarefa.

" Há uma demanda muito grande no setor por profissionais com experiência nesses equipamentos, que hoje são os que estão disponíveis "

Graziella Baggio disse ainda que os trabalhadores estão receosos em relação ao pedido de recuperação judicial da BRA, que foi deferido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo nesta segunda-feira, e já se movimentam para arrumar outro emprego.

- E o aproveitamento dos trabalhadores da BRA está sendo bem rápido porque há uma demanda muito grande no setor por profissionais com experiência nesses equipamentos, que hoje são os que estão disponíveis aí no mercado - disse a representante dos aeronautas.

A presidente do sindicato acrescentou que soube nesta segunda-feira à noite que a TAM teria aceito operar dois aviões 767 que eram da BRA, contratando os tripulantes que trabalhavam com essas aeronaves. Anac diz que ainda há duas aeronaves da BRA em vistoria.

Ainda em relação às denúncias sobre as condições das aeronaves da BRA, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que vem acompanhando a situação da empresa.

No dia 11 de outubro, a Anac intensificou a fiscalização no Centro de Controle e Manutenção da empresa em São Paulo, depois da verificação aumento no número de manutenções não programadas.

Na ocasião, a empresa teve suspenso os vôos internacionais porque as aeronaves que faziam o roteiro para o exterior pararam por problemas operacionais.

A agência também determinou que cinco dos dez aviões usados para a realização de vôos domésticos parassem de operar até a realização da manutenção necessária, dois deles ainda estão passando por uma avaliação completa, chamada de "Check C". BRA muda proposta depois de conseguir recuperação judicial.

A Anac entregou nesta segunda-feira à Procuradoria Regional do Trabalho de São Paulo, que concentra as negociações trabalhistas, um relatório sobre as condições de vôo e de trabalho na BRA.

A companhia aérea, por sua vez, não apresentou nesta terça-feira ao MPT-SP um documento prometido, em que relataria as dívidas com seus funcionários e demonstraria que têm recursos para quitar as dívidas trabalhistas.

No mesmo dia, depois de conseguir que o pedido de recuperação judicial fosse aceito pela Justiça, a BRA também mudou a proposta de pagar de uma vez e no prazo as verbas rescisórias trabalhistas . Em reunião com o Ministério Público do Trabalho em Brasília, a companhia aérea ofereceu apenas um salário adicional e pediu em troca que os trabalhadores assinassem um documento abrindo mão de futuros processos. A proposta foi considerada ilegal e o acordo foi frustrado.

De acordo com o Sindicato Nacional dos Aeronautas, os empregados da companhia aérea receberam o anúncio de aviso prévio no dia 11 de novembro, portanto, a BRA teria um mês mais dez dias para quitar integralmente a rescisão. Isso inclui o pagamento de um salário adicional, férias proporcionais, 13º salário e multa do FGTS.

Fonte: O Globo

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