Os desafios da Gol para se manter como uma das líderes do setor aéreo brasileiro vão além de acordos com os trabalhadores. Nove anos depois de entrar no mercado com o diferencial de praticar custo e tarifas reduzidos, a companhia apresenta despesas elevadas e enfrenta concorrentes com baixos preços.
A participação de mercado da Gol diminiu de 42,9% para 38,1% no mês de julho deste ano em relação ao mesmo período de 2009, de acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Sua principal concorrente, a TAM, perdeu apenas 0,15 ponto percentual. A fatia da Gol foi para companhias emergentes, como Azul, Trip e Webjet.
A Gol minimiza a importância da perda da fatia de mercado em julho. Para o diretor de comunicação da empresa, Hélio Muniz, o período é muito curto para avaliar o desempenho do setor. No acumado do ano, a retração foi menor - de 41% para 40,3%.
"A Gol não trabalha exclusivamente para aumentar seu 'market share', mas para crescer com rentabilidade e oferecer um produto de alta qualidade a preços competitivos", ressaltou.
A perda de mercado é reflexo da política de baixos preços praticadas por companhias concorrentes, afirma o analista Brian Moretti, da corretora Planner. Para ele, no entanto, a tendência é que esse movimento não continue e a Gol mantenha sua participação no mercado neste ano.
O consultor em aviação e ex-diretor de operações da Varig, Nelson Riet, discorda. Para ele, a Gol terá que se reestruturar para não perder mais mercado e manter sua saúde financeira. Um dos motivos é a baixa taxa de ocupação das aeronaves, se comparada às companhias concorrentes, que dificulta para a Gol acompanhar os preços oferecidos por elas. Em julho, o índice da Gol foi de 68,2%, contra 71% da TAM, 82,7% da Azul e e 81,9% da Webjet. "Ocupação baixa é perigosa para companhias de baixo custo", afirma o consultor.
Para ele, as despesas elevadas da Gol são incompatíveis com a política de empresa de baixo custo e tarifa. As despesas operacionais da Gol cresceram a taxas maiores do que a expansão da receita da companhia no segundo trimestre e somaram R$ 1,5 bilhão. A dívida total da companhia soma R$ 5,86 bilhões.
A Gol, no entanto, diz que possui um dos menores custos operacionais do setor e reafirma sua estratégia como companhia de preços baixos. Segundo o diretor de comunicação da empresa, a reprodução do modelo da Gol por outras companhias mostra que ela "está no caminho certo".
Recentemente a Azul e a TAM anunciaram parcerias com grandes redes de varejo, como Casas Bahia e Magazine Luiza, para alcançar o consumidor da classe C. Já a Gol, aposta em lojas de rua próprias, mas até o momento possui apenas uma unidade aberta, no Largo 13 de Maio, em São Paulo. Muniz afirma que a Gol abrirá novas unidades e nega que a empresa esteja atrás das concorrentes no atendimento do cliente de baixa renda. "Não estamos nos adaptando para receber a nova classe média nos aviões. A companhia já nasceu em 2001 estudando o comportamento desse público."
Alguns especialistas consideram que a Gol cometeu um erro ao comprar a Varig em 2007, por R$ 660 milhões, em uma tentativa de expandir sua atuação internacional. No ano seguinte, a companhia recuou e decidiu suspender os voos da Varig para a Europa e focar sua operação na América Latina.
Apesar de ter aumentado sua dívida e retraído a operação internacional da Varig, a Gol afirma que a aquisição da companhia não foi um erro. Segundo a empresa, a oferta do programa de milhagem Smlies aos clientes da Gol, as posições em importantes aeroportos, como Congonhas, e o valor da marca justificaram o negócio.
Fonte: Marina Gazzoni (iG) - Foto: AE
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domingo, 15 de agosto de 2010
Gol precisa superar competição acirrada e despesa elevada
Companhia perdeu participação no mercado para concorrentes em julho e registrou prejuízo de R$ 52 milhões no segundo trimestre
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