sábado, 20 de março de 2010

Anac: limite de voos pode pesar no bolso do passageiro

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) vai determinar limites de operação para seis aeroportos, como já há em Congonhas e Guarulhos (ambos em São Paulo), o que pode ter impacto nas tarifas aéreas a partir do final do ano que vem, avisou a diretora da agência, Solange Vieira, durante o Fórum Panrotas, que reuniu esta semana representantes do governo e do setor de turismo na sede da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio). Segundo Solange, atualmente, estes aeroportos operam abaixo dos limites que a Anac pretende estabelecer. De acordo com a diretora, se não houver obras de ampliação da infraestrutura que acompanhem o aumento de demanda de passageiros, eles podem atingir este limite até o fim de 2011.

Com isso, o preço das passagens no mercado interno pode aumentar.

- A barreira da infraestrutura pode levar ao aumento da tarifa, depois das quedas do ano passado - alertou a diretora da Anac, em painel com os presidentes de companhias aéreas Constantino de Oliveira Jr. (Gol), Líbano Barroso (TAM), Pedro Janot (Azul), José Efromovich (Ocean Air) e Julio Perotti (Webjet).

Os aeroportos que terão operações limitadas pela Anac serão os de Brasília, Confins (Belo Horizonte), Salvador, Fortaleza, Cuiabá e Viracopos (Campinas). Solange reforçou a necessidade de investimentos na infraestrutura dos aeroportos do país.

- A Copa do Mundo e as Olimpíadas não são problema - disse Solange, quando perguntada sobre a preparação dos terminais para as duas competições esportivas. - São eventos curtos, e as Olimpíadas serão no Rio de Janeiro, onde temos o aeroporto de maior capacidade ociosa.

Uma crítica à Infraero foi feita quando Solange afirmou que o Brasil não oferece condições de operação para companhias de aviação low cost, como os Estados Unidos e a Europa.

- Uma companhia puramente low cost precisa de infraestrutura aeroportuária diferente, com preços mais disponíveis. A Anac está fazendo uma política para flexibilizar, mas a Infraero ainda não - afirmou.

Classe C ainda prefere comprar passagem aérea em agências a usar a internet

O crescimento do número de pessoas voando de avião no Brasil foi um tema tratado também em outro debate no Fórum Panrotas, realizado no início da semana em São Paulo, sobre "A nova classe média e o mercado de viagens", com a participação do economista Marcelo Néri, coordenador da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), que fez um estudo sobre este segmento da população.

Citando dados de um levantamento feito em 2008, a presidente da Embratur, Jeanine Pires, afirmou que 60% dos brasileiros que viajaram a turismo buscaram naquele ano informações sobre os lugares para onde vão nas agências de viagem, e apenas 36% na internet. Na hora de fechar a compra de passagens aéreas, o percentual da internet caiu mais ainda, para 12% - o patamar das agências continuou em 60%, e outros 14% preferiram comprar direto com as companhias aéreas.

- Os brasileiros agendam viagens usando os agentes um pouco mais do que os nossos clientes de outros países - reforçou o diretor sênior de Relações Corporativas do cartão Visa, Paul Wilke, que apresentou no fórum resultados de uma pesquisa sobre o perfil dos gastos dos brasileiros no exterior e dos estrangeiros no Brasil que são clientes da companhia.

Esta escolha é majoritária entre os clientes da classe C, segundo disseram executivos das companhias aéreas. Na conversa, o diretor comercial da Gol, Eduardo Bernardes, e o presidente da Azul, Pedro Janot, falaram sobre os hábitos de consumo dessa nova classe média. Um deles é a resistência em comprar passagens pela internet. A outra é a dificuldade de lidar com expressões em inglês usadas em operações de rotina de viagens nos embarques e vendas de passagens, como check-in.

- Se alguém tiver um bom sinônimo para web check-in, estou aceitando - brincou Bernardes, que durante o evento anunciou que a companhia aérea vai passar a voar todos os sábados para a ilha caribenha de St. Martin/St. Maarten, saindo de São Paulo e com escala em Manaus, a partir de maio.

Se por um lado as agências com balcão, atendentes e mesas, continuam as mais procuradas pelos viajantes, isso não impede investidas virtuais no mercado brasileiro. A Travelocity, um dos mais importantes sites do mundo que se dispõem a fornecer os serviços das agências via computador, deve lançar uma página para o público brasileiro ainda em 2011, segundo o gerente-geral da empresa para a América Latina, Jorge Cordova.

Para outubro deste ano, ainda está previsto o lançamento de um site apenas para reservas em hotéis no Brasil.

- Imaginamos que no Brasil a escalada do uso da internet fosse mais lenta, mas ela nos surpreendeu - afirmou Cordova.

Gustavo Alves (O Globo)

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