terça-feira, 2 de outubro de 2007

Controlador: trabalhávamos errado para aviação fluir

30/set

Um ano depois do acidente envolvendo o Boeing 737 da Gol e o jato Legacy, muitas perguntas e questões em torno da aviação brasileira continuam sem resposta. Um controlador aéreo, que não quis se identificar, afirmou que os controladores trabalhavam "filosoficamente errado" para manter as aeronaves funcionando.

"Antes, os controladores de vôo trabalhavam filosoficamente errado. No afã de querer fazer a aviação voar, éramos sabedores das restrições da aviação, de um modo geral. A partir do acidente que houve com o avião da Gol e com o Legacy, os controladores tinham a esperança de que, como dávamos esse a mais, a Aeronáutica fosse fazer uma defesa jurídica dos seus funcionários. Por que os aviões voavam e a população de uma maneira geral não sabia que existiam essas deficiências? Porque nós trabalhávamos abaixo do limite de segurança, fazendo a aviação fluir", explicou.

Segundo o controlador, desde que a aviação brasileira existe, eles trabalharam no limite da segurança, numa linha bastante tênue. Antes mesmo do acidente da Gol, os militares já sabiam que o sistema não funcionava bem e que existiam pontos cegos nos radares. Ele contou que isso nunca foi denunciado por medo de represálias por parte da Aeronáutica.

O controlador observou ainda que o comando da Aeronáutica não dá condições adequadas de trabalho, e citou a deficiência dos radares, a concentração de rotas em determinados aeroportos e pistas inadequadas para operação segura.

A partir da tragédia, segundo ele, com medo da possibilidades de novos acidentes e por não estarem amparados pela Aeronáutica, os controladores passaram a cumprir o que previa regulamentação internacional. Baseados nisso, eles passaram a trabalhar de acordo com a ICA 100-12 (Instruções do Comando da Aeronáutica) que é considerada a "Bíblia da aviação".

Essa documentação é baseada no que preconiza a Organização de Aviação Civil Internacional (OACI). Este documento, que mostra como se deve trabalhar e regulamenta a profissão, não era cumprido pelos controladores.

"Está tudo lá e é bem claro. A ICA diz como tem que ser a separação de rota, e de cada avião que decola. Existem subidas e descidas padrões para decolagem e aterrissagem e muitas vezes o controlador assumia a navegação da aeronave desviando esses padrões para que os aviões chegassem mais rápido e economizassem combustível", afirmou.

Ele observou também que cada controlador só pode falar com um número máximo de aeronaves, de acordo com o setor em que trabalha, que varia de 8 a 14 aviões. Antes do acidente da Gol, eles falavam com 20, 30 aeronaves ao mesmo tempo.

A partir do momento em que os controladores passaram a cumprir o que preconiza a regulamentação da Aeronáutica, os aviões passaram a ficar no solo. "A partir do acidente do Gol com o Legacy, em que fomos colocados na mídia como vilões, passamos a cumprir a regra", disse.

"Em nenhum momento os controladores começaram a trabalhar de uma maneira irresponsável, como colocou o presidente da República. O que houve na verdade é que começamos a cumprir a regulamentação e por isso os aviões, que antes voavam, passaram a ficar mais tempo no solo, com os aeroportos lotados, com fila de espera", completou.

Fonte: JB Online

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