Fragmentos dos documentos públicos que resistiram ao fogo foram analisados por perícia da Polícia Federal
Cinco anos depois de denunciada a queima de documentos históricos do período da ditadura militar em um terreno da Base Aérea de Salvador, muitas perguntas ainda estão sem respostas. O inquérito conduzido pela Polícia Federal concluiu que os documentos não teriam sido queimados no local, mas uma outra perícia – feita pelo Instituto de Criminalística de Brasília – contradiz esta versão e afirma que foram destruídos na área subordinada à Aeronáutica.
Entre os papéis que resistiram ao fogo estão fichas, prontuários e relatórios da inteligência do Exército, Aeronáutica e Marinha sobre personagens e organismos da esquerda armada. Alguns trazem o carimbo de “confidencial”. Um recorte de jornal com a foto de dom Timóteo Amoroso, abade do Mosteiro de São Bento, registra o título de cidadão de Salvador que o religioso recebeu, por indicação da então vereadora Lídice da Mata, na época do PCdoB.
O recorte é datado de 1987, dois anos depois do fim da ditadura. O que demonstra que os órgãos de repressão, mesmo com a vigência da Nova República, ainda vigiavam as pessoas consideradas “perigosas ao regime”.
Dom Timóteo era conhecido por abrigar no mosteiro estudantes baianos perseguidos pela repressão. O fato mais marcante ocorreu em 1968, quando policiais militares invadiram o mosteiro e se depararam com os estudantes nas celas (os quartos do abades), que foram agredidos e levados à Secretaria da Segurança Pública.
Dramático
Parte dos fragmentos dos papéis encontrados na Base Área de Salvador foi entregue ao Ministério da Justiça, em Brasília, pela Rede Globo – que denunciou a queima dos documentos no Fantástico, em 12 de dezembro de 2004 –, e outra parte ficou com a organização Tortura Nunca Mais na Bahia.
O historiador baiano Grimaldo Carneiro Zachariadhes, coordenador do Núcleo de Estudos sobre o Regime Militar (Nerm) e autor do livro Ceas: Jesuítas e o Apostolado Social durante a Ditadura Militar e organizador do livro Ditadura Militar na Bahia, teve acesso, em 2007, aos documentos que ficaram na Bahia. Grimaldo teve o cuidado de fotografar, identificar e contextualizar, dentro do que foi possível visualizar, parte dos fragmentos que pertencem ao acervo do Tortura Nunca Mais. “Esse material é simbólico porque resistiu a ato criminoso. Fatos como este que ocorreu na Base Aérea mostram a importância e a necessidade de os arquivos do período da repressão serem resgatados na Bahia”, assinala o historiador.
As fotos que o historiador fez dos fragmentos de papéis que sobraram foram doadas ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, onde funciona o projeto Memórias Reveladas, com o objetivo de reunir informações sobre os fatos da história política recente do País.
Grimaldo Zachariadhes, que há dois anos começou a mapear os arquivos da ditadura militar na Bahia, considera “dramático” o acesso a documentos da época. “Não se sabe se existem. Se existem, ninguém sabe com quem nem onde estão”. O historiador lamenta que a Bahia, que participou ativamente da luta contra o regime militar, só tenha tomado a iniciativa este ano, com a instituição da Comissão Especial Memórias Reveladas, de recuperar estes documentos. “Outros estados estão na frente. Maranhão já abriu os arquivos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), e desde 1980 Pernambuco tornou público o acervo da repressão à luta armada”.
Fonte: Patrícia França (A Tarde) - Foto: Divulgação/Tortura Nunca Mais
Entre os papéis que resistiram ao fogo estão fichas, prontuários e relatórios da inteligência do Exército, Aeronáutica e Marinha sobre personagens e organismos da esquerda armada. Alguns trazem o carimbo de “confidencial”. Um recorte de jornal com a foto de dom Timóteo Amoroso, abade do Mosteiro de São Bento, registra o título de cidadão de Salvador que o religioso recebeu, por indicação da então vereadora Lídice da Mata, na época do PCdoB.
O recorte é datado de 1987, dois anos depois do fim da ditadura. O que demonstra que os órgãos de repressão, mesmo com a vigência da Nova República, ainda vigiavam as pessoas consideradas “perigosas ao regime”.
Dom Timóteo era conhecido por abrigar no mosteiro estudantes baianos perseguidos pela repressão. O fato mais marcante ocorreu em 1968, quando policiais militares invadiram o mosteiro e se depararam com os estudantes nas celas (os quartos do abades), que foram agredidos e levados à Secretaria da Segurança Pública.
Dramático
Parte dos fragmentos dos papéis encontrados na Base Área de Salvador foi entregue ao Ministério da Justiça, em Brasília, pela Rede Globo – que denunciou a queima dos documentos no Fantástico, em 12 de dezembro de 2004 –, e outra parte ficou com a organização Tortura Nunca Mais na Bahia.
O historiador baiano Grimaldo Carneiro Zachariadhes, coordenador do Núcleo de Estudos sobre o Regime Militar (Nerm) e autor do livro Ceas: Jesuítas e o Apostolado Social durante a Ditadura Militar e organizador do livro Ditadura Militar na Bahia, teve acesso, em 2007, aos documentos que ficaram na Bahia. Grimaldo teve o cuidado de fotografar, identificar e contextualizar, dentro do que foi possível visualizar, parte dos fragmentos que pertencem ao acervo do Tortura Nunca Mais. “Esse material é simbólico porque resistiu a ato criminoso. Fatos como este que ocorreu na Base Aérea mostram a importância e a necessidade de os arquivos do período da repressão serem resgatados na Bahia”, assinala o historiador.
As fotos que o historiador fez dos fragmentos de papéis que sobraram foram doadas ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, onde funciona o projeto Memórias Reveladas, com o objetivo de reunir informações sobre os fatos da história política recente do País.
Grimaldo Zachariadhes, que há dois anos começou a mapear os arquivos da ditadura militar na Bahia, considera “dramático” o acesso a documentos da época. “Não se sabe se existem. Se existem, ninguém sabe com quem nem onde estão”. O historiador lamenta que a Bahia, que participou ativamente da luta contra o regime militar, só tenha tomado a iniciativa este ano, com a instituição da Comissão Especial Memórias Reveladas, de recuperar estes documentos. “Outros estados estão na frente. Maranhão já abriu os arquivos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), e desde 1980 Pernambuco tornou público o acervo da repressão à luta armada”.
Fonte: Patrícia França (A Tarde) - Foto: Divulgação/Tortura Nunca Mais
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