domingo, 21 de fevereiro de 2021

Jato, droga e talvez futebol. Um mistério para o Brasil desvendar

quem pertencia a cocaína? Em que momento foi escondida no avião? Existe alguma ligação aos tripulantes e/ou passageiros? Qual seria o destino final? E a origem? 

Estas são as principais perguntas para as quais a Polícia Federal do Brasil procura respostas, no âmbito da investigação ao misterioso jato privado encontrado no Aeroporto Internacional de Salvador, na Bahia, no último dia 9, com 500 quilos de droga e cujo destino era Portugal. 

São muitas as dúvidas e poucas as certezas, tanto que as autoridades brasileiras não prenderam – nem sequer obrigaram a permanecer no país – os três membros da tripulação e os últimos passageiros da aeronave Dassault Falcon 900, prefixo CS-DTPda companhia portuguesa OMNI Aviação e Tecnologia.

Da lista de passageiros constavam o ex-presidente do Boavista João Loureiro, ouvido nesta sexta-feira, 19, em Salvador, pelas autoridades brasileiras, e o cidadão espanhol de ascendência argelina Mansur Ben-barka Heredia. 

Tinham ambos viajado a 27 de janeiro para o Brasil, no mesmo avião, desde o aeródromo de Tires, em Cascais. O destino final, depois de escalas em Cabo Verde e em Salvador, foi o aeroporto de Jundiaí, nos arredores de São Paulo, de onde ambos terão partido para a viagem de volta, no dia 7 de fevereiro, primeiro rumo a Salvador.

A OMNI, responsável pelo transporte, tinha adiado sucessivamente o regresso, inicialmente previsto para dia 1 de fevereiro, aparentemente por falta de autorização das autoridades portuguesas para realizar o voo intercontinental, devido às restrições relacionadas com a pandemia. 

O Dassault Falcon 900 envolvido no caso (Foto via Portal Aeroin)
O impasse mantinha-se em Salvador, onde estava previsto juntarem-se outros passageiros em trânsito para Portugal, casos de dois empresários de jogadores de futebol, Bruno Carvalho e Hugo Cajuda, e ainda de um empresário ligado ao setor vitivinícola, Paulo Saturnino Cunha. 

Nenhum deles chegaria a embarcar, até porque, como já confirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros à Agência Lusa, o voo de regresso nunca recebeu luz verde deste lado do Atlântico.

O avião encontrava-se estacionado no Aeroporto Internacional de Salvador quando, no dia 9, a Polícia Federal descobriu a droga em vários compartimentos, depois de ter sido chamada ao local pelo piloto, segundo a OMNI. 

Durante o voo de ligação de Jundiaí para Salvador, o piloto detectou uma anomalia no aparelho e solicitou uma inspeção técnica para o Falcon 900. Durante esse processo de manutenção, os mecânicos se depararam com embalagens suspeitas e foi dado o alerta às autoridades.

“Com o auxílio de peritos criminais e de cães farejadores”, informaria então a Polícia Federal, “foram localizados outros esconderijos onde estava o resto da droga”. A cocaína seria depois encaminhada para a Superintendência Regional da Polícia Federal, “para onde também foram conduzidos os tripulantes, a fim de prestarem depoimento”.
Os dois pilotos e a assistente de bordo já regressaram a Portugal, de acordo com a OMNI, mas João Loureiro ainda permanece no Brasil, uma vez que só ontem foi ouvido no âmbito da investigação. 

À TVI, o ex-presidente do Boavista afirmou que, após contatos com advogados brasileiros, percebeu que poderia ter regressado a Portugal e prestar depoimento através de carta rogatória, mas preferiu esperar em Salvador para poder fazê-lo presencialmente.

“Felizmente correu bem, as pessoas já entenderam que eu não tenho nada a ver com este filme”, declarou, por sua vez, à SIC. “O que está por trás disto, mesmo que eu tenha alguma ideia, se a tinha foi transmitida a quem de direito e agora há de ser feita a investigação”, acrescentou, sublinhando que não poderia detalhar os pormenores das informações que transmitiu às autoridades, ao longo de quatro horas. 

João Loureiro garantiu, ainda assim, que não conhecia Mansur Ben-barka Heredia, o espanhol com quem viajou e que, segundo o Observador, está no radar da Polícia Judiciária portuguesa como suspeito de tráfico de droga: “Conheci esse senhor no momento do embarque no avião. Tivemos conversas de circunstância, algumas sobre futebol, mas nada mais do que isso.”

O também ex-vocalista dos Ban, filho de Valentim Loureiro, adiantou ainda que se encontrava em São Paulo quando soube “pelas notícias”, já no dia 10 de fevereiro, da apreensão da cocaína em Salvador, no dia anterior. 

Perante os sucessivos adiamentos do voo da OMNI, assegurou que já tinha desistido dessa opção e que já preparava o regresso a Portugal através da espanhola Ibéria, via Madrid. “Já tinha comunicado à empresa de aviação que tinha decidido regressar à Europa através de um voo comercial”, fez saber João Loureiro, que diz ter viajado ao Brasil a convite (e a expensas) de uma empresa interessada em contratá-lo como consultor, tendo em vista possíveis investimentos em Portugal. O antigo líder do Boavista tem carta branca das autoridades para voltar – como, de resto, sempre teve.

Em Salvador, como já foi referido, outros três passageiros portugueses estiveram registrados para seguir viagem rumo a Portugal no Falcon900, mas nunca chegaram sequer a entrar no avião. 


Lucas Veríssimo, zagueiro contratado pelo Benfica ao Santos (foto acima), também esteve na lista de passageiros, assim como o seu empresário Bruno Macedo, mas quando havia a possibilidade de o voo ocorrer mais cedo. Os dois acabariam para viajar para a Europa no dia 6, num voo comercial da Air France, via Paris.

Desconhece-se o paradeiro de Mansur Ben-barka Heredia e se prestou depoimento, mas o espanhol já terá regressado a Madrid. Em comunicado, a Polícia Federal do Brasil informou que vai prosseguir a investigação. Estão em causa “crimes de tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico, cujas penas, somadas, podem chegar aos 25 anos de prisão”.

Fontes: Visão e Metrópoles

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