O engenheiro aeronáutico é um profissional raro no Brasil, como um metal nobre, e vem sendo cada vez mais disputado no mercado não somente pelas empresas do setor. Nas poucas faculdades formadoras dessa nata acadêmica, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), o assédio a esses cérebros feito pela iniciativa privada, especialmente bancos, já começa no terceiro ano. Ou seja, antes mesmo de o aluno fazer o estágio obrigatório que ocorre a partir do quarto e do quinto anos, ele já é abordado com ofertas de programas de estágio extremamente sedutores e com salários iniciais superiores aos R$ 5 mil praticados pela indústria aeronáutica, que já estão acima da média para o engenheiro iniciante.
O coordenador do curso de engenharia aeronáutica da USP São Carlos, Fernando Martini Catalano, revela que a procura pelas cabeças da universidade do interior paulista é tão grande que a instituição — que forma apenas 40 engenheiros aeronáuticos por ano — procurou alternativas para que os estudantes não abandonem a aeronáutica no meio do caminho, seduzidos pelo canto dos bancos ou de empresas de vários setores, como petróleo e até mesmo parque de diversões. “Buscamos exigir o estágio do quarto e do quinto anos nas áreas de formação, senão os alunos acabam indo muito cedo para bancos ou outras empresas”, diz ele, acrescentando que a universidade também estimula o desenvolvimento de projetos de iniciação científica, que acabam dando uma exposição maior para o Brasil no exterior.
Existe realmente um deficit no mercado desse profissional, pois é possível contar nos dedos o total de faculdades com essa cadeira. “Até gostaríamos de aumentar o número de vagas, mas não há professores suficientes para dar as aulas, uma vez que eles também são disputados”, afirma Catalano. “Temos uma cadeira vaga há mais de quatro anos.”
O professor de certificação aeronáutica e manutenção aeronáutica da USP São Carlos, James Rojas Watehouse, é taxativo: “Quem dá aula, o faz por vocação e não pelo salário”. Dono de uma empresa ligada ao setor aeronáutico, ele oferece estágio para alguns de seus alunos. Mas reconhece a dificuldade em concorrer com os salários do mercado financeiro.
Sonho de infância
A grande procura pelos estudantes de engenharia aeronáutica não é de hoje. “Muitos de nossos alunos estão hoje trabalhando em bancos”, informa o vice-reitor do ITA, Fernando Toshinori Sakane. “Há uma procura grande porque o que os bancos procuram é cérebro. E eu acho que o iteano tem os conhecimentos de matemática, raciocínio lógico que interessam aos bancos”, afirma. Ele lembra que algo entre 6 mil e 6,5 mil candidatos disputam anualmente as 130 vagas, das quais 80 são destinadas aos alunos civis, disponíveis a cada ano. O instituto tem planos de dobrar o número de vagas nos próximos cinco anos, mas ainda depende de o projeto ser incluído no Orçamento da União.
Um bom exemplo do assédio do mercado financeiro é Conrado Engel, presidente da filial brasileira do gigante HSBC, maior banco do mundo. Nascido em Concórdia, Santa Catarina, ele saiu cedo de casa para estudar em período integral no disputadíssimo ITA. Ao se formar, em 1980, Conrado se deu ao luxo de poder escolher onde queria trabalhar. Com proposta da Embraer, seu sonho de infância e hoje uma das maiores fabricantes mundiais de jatos comerciais regionais, ele apostou as fichas no Citibank. “Podia ter ido para a Embraer. Fiquei impressionado com o programa de recrutamento que o banco montou no ITA para ‘vender’ a carreira financeira aos novos engenheiros”, relata.
A estudante da USP São Carlos Carolina Lima do Nascimento, 23 anos, que está no quarto ano do curso de engenharia aeronáutica, começa agora a escolher onde fará estágio. Ela diz que prefere seguir a carreira acadêmica e fazer mestrado. “Realmente, há um grande número de amigos meus que estão interessados em estágios oferecidos pelo setor financeiro”, diz. Muitos comentam que o que mais atrai os estudantes é o salário inicial para o recém-formado. “Eu pretendo ficar na área aeronáutica porque é o que eu gosto. Contudo, se não houver emprego, vou para a área financeira ou para outra oportunidade que aparecer”, afirma.
O economista-chefe do Banco alemão WestLB, Roberto Padovani, comenta que é grande o número de engenheiros no mercado financeiro. “Nas últimas décadas, o país não cresceu e muitos engenheiros não tinham onde trabalhar. Isso reflete bem o retrato da economia atual, pois o país voltou a crescer e essa mão de obra começa a ficar escassa. Todos os tipos de profissões atravessam um momento positivo, de ganho salarial. O nível de desemprego nunca esteve tão baixo”, afirma.
Craques na sofisticação
Para o economista Felipe França, do Banco ABC Brasil, o engenheiro tem uma boa formação de matemática e os bancos buscam esse tipo de profissional para desenvolver produtos mais sofisticados, como os derivativos. “Além disso, eles avaliam carteiras de investimentos com bastante rapidez”, diz. Estudante de mestrado em economia e finanças do Instituto Insper, Felipe conta que mais da metade dos alunos de sua sala são engenheiros.
Fonte: Rosana Hessel (Correio Braziliense)
O coordenador do curso de engenharia aeronáutica da USP São Carlos, Fernando Martini Catalano, revela que a procura pelas cabeças da universidade do interior paulista é tão grande que a instituição — que forma apenas 40 engenheiros aeronáuticos por ano — procurou alternativas para que os estudantes não abandonem a aeronáutica no meio do caminho, seduzidos pelo canto dos bancos ou de empresas de vários setores, como petróleo e até mesmo parque de diversões. “Buscamos exigir o estágio do quarto e do quinto anos nas áreas de formação, senão os alunos acabam indo muito cedo para bancos ou outras empresas”, diz ele, acrescentando que a universidade também estimula o desenvolvimento de projetos de iniciação científica, que acabam dando uma exposição maior para o Brasil no exterior.
Existe realmente um deficit no mercado desse profissional, pois é possível contar nos dedos o total de faculdades com essa cadeira. “Até gostaríamos de aumentar o número de vagas, mas não há professores suficientes para dar as aulas, uma vez que eles também são disputados”, afirma Catalano. “Temos uma cadeira vaga há mais de quatro anos.”
O professor de certificação aeronáutica e manutenção aeronáutica da USP São Carlos, James Rojas Watehouse, é taxativo: “Quem dá aula, o faz por vocação e não pelo salário”. Dono de uma empresa ligada ao setor aeronáutico, ele oferece estágio para alguns de seus alunos. Mas reconhece a dificuldade em concorrer com os salários do mercado financeiro.
Sonho de infância
A grande procura pelos estudantes de engenharia aeronáutica não é de hoje. “Muitos de nossos alunos estão hoje trabalhando em bancos”, informa o vice-reitor do ITA, Fernando Toshinori Sakane. “Há uma procura grande porque o que os bancos procuram é cérebro. E eu acho que o iteano tem os conhecimentos de matemática, raciocínio lógico que interessam aos bancos”, afirma. Ele lembra que algo entre 6 mil e 6,5 mil candidatos disputam anualmente as 130 vagas, das quais 80 são destinadas aos alunos civis, disponíveis a cada ano. O instituto tem planos de dobrar o número de vagas nos próximos cinco anos, mas ainda depende de o projeto ser incluído no Orçamento da União.
Um bom exemplo do assédio do mercado financeiro é Conrado Engel, presidente da filial brasileira do gigante HSBC, maior banco do mundo. Nascido em Concórdia, Santa Catarina, ele saiu cedo de casa para estudar em período integral no disputadíssimo ITA. Ao se formar, em 1980, Conrado se deu ao luxo de poder escolher onde queria trabalhar. Com proposta da Embraer, seu sonho de infância e hoje uma das maiores fabricantes mundiais de jatos comerciais regionais, ele apostou as fichas no Citibank. “Podia ter ido para a Embraer. Fiquei impressionado com o programa de recrutamento que o banco montou no ITA para ‘vender’ a carreira financeira aos novos engenheiros”, relata.
A estudante da USP São Carlos Carolina Lima do Nascimento, 23 anos, que está no quarto ano do curso de engenharia aeronáutica, começa agora a escolher onde fará estágio. Ela diz que prefere seguir a carreira acadêmica e fazer mestrado. “Realmente, há um grande número de amigos meus que estão interessados em estágios oferecidos pelo setor financeiro”, diz. Muitos comentam que o que mais atrai os estudantes é o salário inicial para o recém-formado. “Eu pretendo ficar na área aeronáutica porque é o que eu gosto. Contudo, se não houver emprego, vou para a área financeira ou para outra oportunidade que aparecer”, afirma.
O economista-chefe do Banco alemão WestLB, Roberto Padovani, comenta que é grande o número de engenheiros no mercado financeiro. “Nas últimas décadas, o país não cresceu e muitos engenheiros não tinham onde trabalhar. Isso reflete bem o retrato da economia atual, pois o país voltou a crescer e essa mão de obra começa a ficar escassa. Todos os tipos de profissões atravessam um momento positivo, de ganho salarial. O nível de desemprego nunca esteve tão baixo”, afirma.
Craques na sofisticação
Para o economista Felipe França, do Banco ABC Brasil, o engenheiro tem uma boa formação de matemática e os bancos buscam esse tipo de profissional para desenvolver produtos mais sofisticados, como os derivativos. “Além disso, eles avaliam carteiras de investimentos com bastante rapidez”, diz. Estudante de mestrado em economia e finanças do Instituto Insper, Felipe conta que mais da metade dos alunos de sua sala são engenheiros.
Fonte: Rosana Hessel (Correio Braziliense)
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