Força Aérea – Os Militares dos Aviões de Combate
São a elite da Força Aérea. Só os melhores pilotos chegam ao caça F-16, após um difícil processo de formação. Entre os candidatos há uma mulher.
Sentada no cockpit do Alphajet, a alferes Joana Marques deixa escapar um desabafo. "É a primeira vez que me sento no lugar da frente", diz com um sorriso a piloto da Força Aérea Portuguesa, que ainda só voou no aparelho usado pelos Asas de Portugal à ‘boleia' do instrutor. Em breve, terá de conhecer ao pormenor todas as características do avião. É o primeiro dia do curso que ela e outros seis pilotos iniciaram na Base Aérea de Beja.
O objectivo final só está ao alcance dos melhores: Fazer parte de uma das duas esquadras de F-16, os caças de combate supersónicos que asseguram a defesa do espaço aéreo português.
O caminho para chegar ao avião de topo é longo e difícil. O de Joana, de 23 anos, começou ainda na escola secundária, em Évora, quando escolheu o queria ser no futuro: Piloto da Força Aérea. "Decidi que queira pilotar aviões, e nunca pus a hipótese de entrar na aviação civil. Agrada-me a parte militar da disciplina e do rigor, aliadas ao exercício físico". Em 2004 entrou na Academia da Força Aérea, onde completou o curso de piloto-aviador em 2008. Depois rumou ao Brasil, onde completou o tirocínio - a primeira qualificação num avião, neste caso o Tucano T27, de fabrico brasileiro - entre Julho e Dezembro de 2009. "Fiz o curso onde participavam mais quatro mulheres, mas eu era a única portuguesa. Lá como cá, nunca senti qualquer diferença de tratamento por ser mulher", conta. Joana pensava em prosseguir a carreira militar em aviões de transporte, mas a avaliação que fizeram das suas aptidões conduziu-a para os jactos de combate. "Não é o que tinha planeado, mas sabemos que a escolha não passa só por nós. Mas prometo dar tudo o que tenho para ser bem sucedida". Se conseguir ficar entre os melhores do curso, a alferes poderá mesmo tornar-se na primeira portuguesa a pilotar um caça F-16.
Também foi no Brasil que os alferes David Quina e Filipe Oliveira - ambos colegas de curso de Joana na Academia - completaram o tirocínio. Os três voltam a encontrar-se em Beja, onde começam a aprender como se pilota um avião de combate.
O capitão Ricardo Ribeiro - que, com mais de duas mil horas de voo, é o militar com mais experiência no Alphajet - é um dos instrutores do curso que decorre na base de Beja, na Esquadra 103, conhecida pela alcunha de ‘Caracóis'. Explica as etapas que os alunos ainda terão de ultrapassar: "Primeiro, terão de completar o curso de qualificação para o Alphajet, que dura até meados de Junho. De seguida, têm pela frente o curso de conversão de pilotagem em aviões de combate, que lhes permitirá aprender todas as manobras em ataques contra outros aviões ou contra alvos em terra. A formação dos sete pilotos - aos quais ainda se poderão juntar mais militares que completaram recentemente o tirocínio - deverá estar completa no Verão. Só depois os pilotos poderão aspirar a passar para o F-16, para o qual também têm de fazer um curso de qualificação".
Filipe Oliveira, de 25 anos, é de Bragança. Sempre quis ser piloto, até por influência familiar: "O meu pai e um dos meus tios foram pilotos militares e sempre tive um fascínio por aviões", conta. Ainda chegou a estudar Engenharia de Comunicações, mas trocou tudo pelo sonho de voar. "Sempre quis chegar ao F-16", confessa. O colega de curso David Quina também escolheu ser piloto "ainda quando era pequeno", mas contava comandar aviões de transporte quando completasse a formação, tal como Joana. Mas todos se dizem agora empenhados em chegar ao caça supersónico, capaz de voar duas vezes mais rápido do que o som.
ESQUADRAS DE ELITE
A Base Aérea de Monte Real é o destino mais ambicionado pelos pilotos a jacto. É aí que funcionam as duas esquadras de F-16 - cerca de 20 aviões - que asseguram a defesa aérea do País.
Os tenentes Diogo Bento, 25 anos, e João Matos, de 24, garantiram um lugar entre os ‘Falcões', o nome com que são conhecidos os elementos da Esquadra 201, mas ainda têm pela frente um exigente programa de formação até estarem habilitados a cumprir missões de combate. Ambos fizeram o tirocínio nos Estados Unidos, onde voaram aviões a jacto, mas o F-16 é uma experiência aparte: "A nível fisiológico, é completamente diferente. Até aos 7 G's [as forças gravitacionais sentidas dentro do cockpit, o que equivale a que o corpo passe a pesar sete vezes mais em determinadas manobras] ainda aguentamos com alguma facilidade, mas o F-16 chega a proporcionar forças de 9 G's", explica o piloto Diogo Bento, que já nos tempos em que estudava no secundário, em Santiago do Cacém, tinha como objectivo ingressar na Força Aérea.
João Matos é de Braga e partilha a mesma vontade de acrescentar o seu nome ao dos 32 pilotos portugueses que estão neste momento qualificados para voar com o F-16. "O curso tem três fases, a primeira é de qualificação para a aeronave, em que aprendemos todas as manobras do F-16, depois temos uma fase de formação para o combate e, finalmente, a qualificação para o tipo de missões que estão atribuídas ao avião. É muito exigente, voamos praticamente todos os dias e temos de estudar muitos manuais", explica o tenente João Matos.
A conversa é temperada pelo som ensurdecedor dos motores dos aviões que aterram na pista de Monte Real, perto de Leiria. "Para nós isto é música", diz com ar sorridente Diogo Bento. Os dois pilotos cumpriram já cerca de 30 horas de voo no F-16 e estão na segunda fase da formação, a qualificação inicial para missões de combate. Se tudo correr como previsto, acabarão a terceira fase no final deste ano. Nessa altura, ganharão a alcunha de voo, que fica para sempre. "São os colegas e os instrutores que escolhem o ‘nick', que pode resultar de algum episódio que tenha acontecido ou de uma característica da personalidade", explica Diogo Bento.
‘Maverick' e ‘Iceman' são ‘nicks' que ninguém esquece. São os nomes dos heróis de ‘Top Gun - Ases Indomáveis', o filme com Tom Cruise e Val Kilmer que o tenente João Matos já viu "não sei quantas vezes". Para ele, a realidade está cada vez mais perto da ficção.
Fonte: José Carlos Marques (Correio da Manhã - Portugal) - Foto: Sérgio Lemos
São a elite da Força Aérea. Só os melhores pilotos chegam ao caça F-16, após um difícil processo de formação. Entre os candidatos há uma mulher.
Sentada no cockpit do Alphajet, a alferes Joana Marques deixa escapar um desabafo. "É a primeira vez que me sento no lugar da frente", diz com um sorriso a piloto da Força Aérea Portuguesa, que ainda só voou no aparelho usado pelos Asas de Portugal à ‘boleia' do instrutor. Em breve, terá de conhecer ao pormenor todas as características do avião. É o primeiro dia do curso que ela e outros seis pilotos iniciaram na Base Aérea de Beja.
O objectivo final só está ao alcance dos melhores: Fazer parte de uma das duas esquadras de F-16, os caças de combate supersónicos que asseguram a defesa do espaço aéreo português.
O caminho para chegar ao avião de topo é longo e difícil. O de Joana, de 23 anos, começou ainda na escola secundária, em Évora, quando escolheu o queria ser no futuro: Piloto da Força Aérea. "Decidi que queira pilotar aviões, e nunca pus a hipótese de entrar na aviação civil. Agrada-me a parte militar da disciplina e do rigor, aliadas ao exercício físico". Em 2004 entrou na Academia da Força Aérea, onde completou o curso de piloto-aviador em 2008. Depois rumou ao Brasil, onde completou o tirocínio - a primeira qualificação num avião, neste caso o Tucano T27, de fabrico brasileiro - entre Julho e Dezembro de 2009. "Fiz o curso onde participavam mais quatro mulheres, mas eu era a única portuguesa. Lá como cá, nunca senti qualquer diferença de tratamento por ser mulher", conta. Joana pensava em prosseguir a carreira militar em aviões de transporte, mas a avaliação que fizeram das suas aptidões conduziu-a para os jactos de combate. "Não é o que tinha planeado, mas sabemos que a escolha não passa só por nós. Mas prometo dar tudo o que tenho para ser bem sucedida". Se conseguir ficar entre os melhores do curso, a alferes poderá mesmo tornar-se na primeira portuguesa a pilotar um caça F-16.
Também foi no Brasil que os alferes David Quina e Filipe Oliveira - ambos colegas de curso de Joana na Academia - completaram o tirocínio. Os três voltam a encontrar-se em Beja, onde começam a aprender como se pilota um avião de combate.
O capitão Ricardo Ribeiro - que, com mais de duas mil horas de voo, é o militar com mais experiência no Alphajet - é um dos instrutores do curso que decorre na base de Beja, na Esquadra 103, conhecida pela alcunha de ‘Caracóis'. Explica as etapas que os alunos ainda terão de ultrapassar: "Primeiro, terão de completar o curso de qualificação para o Alphajet, que dura até meados de Junho. De seguida, têm pela frente o curso de conversão de pilotagem em aviões de combate, que lhes permitirá aprender todas as manobras em ataques contra outros aviões ou contra alvos em terra. A formação dos sete pilotos - aos quais ainda se poderão juntar mais militares que completaram recentemente o tirocínio - deverá estar completa no Verão. Só depois os pilotos poderão aspirar a passar para o F-16, para o qual também têm de fazer um curso de qualificação".
Filipe Oliveira, de 25 anos, é de Bragança. Sempre quis ser piloto, até por influência familiar: "O meu pai e um dos meus tios foram pilotos militares e sempre tive um fascínio por aviões", conta. Ainda chegou a estudar Engenharia de Comunicações, mas trocou tudo pelo sonho de voar. "Sempre quis chegar ao F-16", confessa. O colega de curso David Quina também escolheu ser piloto "ainda quando era pequeno", mas contava comandar aviões de transporte quando completasse a formação, tal como Joana. Mas todos se dizem agora empenhados em chegar ao caça supersónico, capaz de voar duas vezes mais rápido do que o som.
ESQUADRAS DE ELITE
A Base Aérea de Monte Real é o destino mais ambicionado pelos pilotos a jacto. É aí que funcionam as duas esquadras de F-16 - cerca de 20 aviões - que asseguram a defesa aérea do País.
Os tenentes Diogo Bento, 25 anos, e João Matos, de 24, garantiram um lugar entre os ‘Falcões', o nome com que são conhecidos os elementos da Esquadra 201, mas ainda têm pela frente um exigente programa de formação até estarem habilitados a cumprir missões de combate. Ambos fizeram o tirocínio nos Estados Unidos, onde voaram aviões a jacto, mas o F-16 é uma experiência aparte: "A nível fisiológico, é completamente diferente. Até aos 7 G's [as forças gravitacionais sentidas dentro do cockpit, o que equivale a que o corpo passe a pesar sete vezes mais em determinadas manobras] ainda aguentamos com alguma facilidade, mas o F-16 chega a proporcionar forças de 9 G's", explica o piloto Diogo Bento, que já nos tempos em que estudava no secundário, em Santiago do Cacém, tinha como objectivo ingressar na Força Aérea.
João Matos é de Braga e partilha a mesma vontade de acrescentar o seu nome ao dos 32 pilotos portugueses que estão neste momento qualificados para voar com o F-16. "O curso tem três fases, a primeira é de qualificação para a aeronave, em que aprendemos todas as manobras do F-16, depois temos uma fase de formação para o combate e, finalmente, a qualificação para o tipo de missões que estão atribuídas ao avião. É muito exigente, voamos praticamente todos os dias e temos de estudar muitos manuais", explica o tenente João Matos.
A conversa é temperada pelo som ensurdecedor dos motores dos aviões que aterram na pista de Monte Real, perto de Leiria. "Para nós isto é música", diz com ar sorridente Diogo Bento. Os dois pilotos cumpriram já cerca de 30 horas de voo no F-16 e estão na segunda fase da formação, a qualificação inicial para missões de combate. Se tudo correr como previsto, acabarão a terceira fase no final deste ano. Nessa altura, ganharão a alcunha de voo, que fica para sempre. "São os colegas e os instrutores que escolhem o ‘nick', que pode resultar de algum episódio que tenha acontecido ou de uma característica da personalidade", explica Diogo Bento.
‘Maverick' e ‘Iceman' são ‘nicks' que ninguém esquece. São os nomes dos heróis de ‘Top Gun - Ases Indomáveis', o filme com Tom Cruise e Val Kilmer que o tenente João Matos já viu "não sei quantas vezes". Para ele, a realidade está cada vez mais perto da ficção.
Fonte: José Carlos Marques (Correio da Manhã - Portugal) - Foto: Sérgio Lemos
Nenhum comentário:
Postar um comentário