segunda-feira, 15 de junho de 2009

Contenção de custos obriga SATA a eliminar voos para o Brasil

Para inverter as perdas registradas em 2008, o grupo SATA está a desenhar um plano de contenção de custos, que já afetou as ligações para o Brasil. Por outro lado, precisa formar novos acordos com companhias de aviação canadianas ou norte-americanas para encontrar novas alternativas de receitas. Tudo isto sob a pressão de uma crise global que não tem poupado as transportadoras aéreas.

Quando a empresa estatal açoriana fechou 2008 com prejuízos de quase três milhões de euros, a equipe de gestão definiu como prioridade alterar a rede de voos, “com cancelamentos cirúrgicos de rotas e frequências deficitárias”, lê-se no relatório e contas. Objetivo que já começou a ser cumprido, levando à suspensão da operação no Brasil, para onde a SATA voava uma vez por semana em charter desde 2006. Tradicionalmente utilizada para viagens de lazer, esta ligação acabou por se mostrar demasiado frágil à descida do tráfego aéreo, desde que a crise rebentou. Agora, só funciona por pedido e de uma forma muito esporádica.

Além da extinção desta rota, a companhia de aviação tem vindo a fazer cancelamentos em função da procura, prevendo cortar, pelo menos, 136 voos da rede até ao final do ano. Mas tudo dependerá da evolução do movimento de passageiros. “Temos vindo a cancelar alguns voos de acordo com as reservas efetivas que existem, em vez de atuarmos sobre expectativas de ocupação”, explicou ao PÚBLICO o presidente executivo da transportadora aérea, António Gomes de Menezes.

No entanto, esta não é a única medida tomada pela SATA para recuperar da derrapagem financeira, depois de, em 2007, ter apresentado lucros de cinco milhões de euros. “O ano de 2009 vai ficar marcado por uma série de projetos de redução de custos”, acrescentou o gestor. Até agora, a empresa já cortou custos em várias áreas. Deixou de distribuir jornais nos seus voos, o que permite uma poupança de 500 mil euros por ano, diminuiu o consumo de energia do centro de gestão de dados em 80 por cento e comprou aviões que permitem fazer frente a novas escaladas de preço do combustível.

Procura-se parceiro

Além de poupar dinheiro, a companhia de aviação açoriana está a tentar encontrar fontes adicionais de receitas. Apesar de ter fechado a rota brasileira, continua a investir no outro lado do Atlântico, nomeadamente nos Estados Unidos e no Canadá, onde conseguiu, finalmente, concretizar uma ambição antiga: instalar-se como operador regular. Alteração que estava dependente de “questões burocráticas”, nas palavras de Gomes de Menezes, e que permite à SATA ganhar mais poder nos aeroportos, aumentar a rede de agentes de viagens e celebrar mais facilmente parcerias com transportadoras aéreas locais.

Esse é, aliás, um dos grandes objetivos da empresa para este ano. Depois de ter celebrado um acordo de code-share com a TAP para destinos europeus, como Espanha, França, Alemanha e Reino Unido, a companhia de aviação está à procura de novos parceiros. “Precisamos de mais acordos que nos tragam mais tráfego e, consequentemente, mais faturamento”, explicou o presidente executivo da SATA, acrescentando que a atenção está voltada “para um parceiro canadiano e outro norte-americano”.

A escolha dependerá de “caso para caso”, disse. Pode, no entanto, haver uma porta aberta com a Delta Airlines, que após a fusão com a rival Northwest, no final do ano passado, se tornou a maior transportadora aérea do mundo. A SATA presta-lhe serviços de assistência em terra nos aeroportos de Santa Maria e das Lages, na ilha Terceira, desde Maio deste ano, o que pode beneficiar um possível acordo. Porém, Gomes de Menezes não confirma a existência de negociações.

Salientou, aliás, que a empresa que gere tem um problema de fundo: “A verdade é que nós não somos um parceiro assim tão interessante porque não movimentamos grandes volumes”. Obstáculo que poderá dificultar a criação de novas parcerias e o crescimento da SATA. “Precisamos partilhar riscos porque não podemos simplesmente abrir uma rota sozinhos. Os custos são demasiado elevados”, rematou.

Fonte: Raquel de Almeida Correia (Público - Portugal)

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