As causas do desaparecimento do voo Air France 447 ainda são um mistério, mas uma de suas possíveis consequências poderá ser antecipar a aposentadoria de um instrumento que, ironicamente, representou um avanço extraordinário para a aeronáutica: o radar. Desde que surgiu, na II Guerra Mundial, o radar deu segurança ao voos, permitindo estabelecer um tráfego aéreo cada vez mais intenso e complexo. Mas o equipamento já não atende às necessidades da aviação moderna e ficou obsoleto diante de novas tecnologias como o sistema de posicionamento global por satélite (GPS).
Radares têm alcance limitado, que resultam em áreas de sombra nas quais os comandantes das aeronaves contam apenas com as comunicações por rádio e pelo que se chama de navegação estimada (a intervalos determinados, o piloto notifica o ponto em que está, a hora e a altitude). Os aviões que atravessam o Atlântico Sul passam até três horas nesta “sombra”.
– Fui invadido por uma sensação terrível de solidão – descreveu o piloto espanhol Luis Lacasa, relatando o momento em que sobrevoou o Atlântico 24 horas depois do acidente com o avião da Air France e imaginando como seu colega deve lutado para manter o voo.
Nos Estados Unidos, os críticos do controle de tráfego aéreo por radar aproveitaram o acidente para cobrar da Administração Federal de Aviação (FAA) pressa na adoção de um novo sistema de acompanhamento dos voos baseado no GPS. O plano, que prevê investimentos de US$ 35 bilhões, já começou a ser implantado, mas, pelo cronograma atual, só deverá ser completado ao longo das duas próximas décadas. Tempo demais para esperar por uma tecnologia amplamente disseminada.
Atualmente, pilotos dos Estados de Ohio e do Alasca já voam auxiliados pelo Automatic Dependent Surveillance-Broadcast (ADS-B), um componente primordial do Sistema de Transporte Aéreo da Próxima Geração, a futura rede de vigilância aérea via GPS dos EUA. Conectado a satélites, o ADS-B transmite informações sobre as condições do voo (velocidade, altitude etc.) simultaneamente para pilotos e controladores de tráfego.
Segundo a FAA, o GPS é 10 vezes mais preciso do que o radar para determinar a posição de uma aeronave. Também atualiza os dados com mais frequencia. Os atuais radares usados no controle aéreo informam a localização das aeronaves a cada seis a 12 segundos. Já os satélites alimentam a cada segundo a rede ADS-B com novos dados sobre o avião, o voo e as condições climáticas, que são repassadas automaticamente para pilotos e controladores. Isso melhora não só a segurança, mas também a capacidade e a eficiência do uso do espaço aéreo.
Os radares são ineficazes para gerir o crescente congestionamento nos céus e representam uma despesa adicional para as companhias aéreas, com seus jatos sendo forçados a planos de voo com rotas mais longas ou em ziguezague. Só as empresas americanas gastam mais de US$ 5 bilhões por ano em combustível com as voltas extras que suas aeronaves precisam fazer.
Por isso, a FFA estima que, além de vigiar os aviões o tempo todo, o GPS poderá triplicar a capacidade do tráfego aéreo, cortar pela metade o atraso de voos e ainda reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Fonte: Zero Hora - Fotos: Charles Dharapak (AP)
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