O nome é nobre: Antônio Carlos Jobim. Mas a reputação do Aeroporto Internacional do Rio, o quarto mais movimentado do país, tem tropeçado em escadas rolantes quebradas, esteiras paradas, elevadores enguiçados e instalações malconservadas. A quatro anos da Copa do Mundo e a seis das Olimpíadas, a principal porta de entrada da capital fluminense coleciona alcunhas como "rodoviária de quinta" ou "aeroforno" e suscita um debate sobre o atual modelo de gestão do terminal.
Embora a Infraero, estatal que administra 67 aeroportos, anuncie investimentos de R$ 687 milhões no Galeão entre 2011 e 2014 - que ficarão para o próximo governo - a plástica pode não ser suficiente para que o Tom Jobim decole. Na opinião de Elton Fernandes, professor da Coppe/UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo (SBTA), o grande problema do aeroporto, inaugurado em 1977 e ampliado em 1998, é a gestão:
- O Galeão é a joia da Coroa. Mas não está sendo bem gerenciado. A gestão dos aeroportos está sendo influenciada politicamente. A Infraero tem bons profissionais, mas eles ou não estão exercendo função de mando ou estão sem recursos para agir. Isso precisa ser revisto. Será que as pessoas estão lá por terem perfil adequado ou por serem afilhados políticos, amigos do rei, ou são mais apegados à cadeira do que ao objetivo da função? O transporte aéreo foi relegado a segundo plano, com a nomeação, em vários casos, de pessoas com bons relacionamentos políticos e pouco ou nenhum conhecimento de gestão - diz Elton Fernandes, que defende a abertura de capital da Infraero como forma de melhorar a gestão dos aeroportos.
Presidente da Firjan defende concessão do aeroporto
Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, os problemas de gestão no Galeão/Tom Jobim tornam o aeroporto uma vergonha nacional:
- A primeira impressão que o estrangeiro tem ao chegar é a de um país de vigésimo mundo.
Eduardo Eugenio é um dos que defendem a concessão do Galeão à iniciativa privada:
- O Estado não tem que explorar aeroporto. Isso é uma coisa que o setor privado faz com competência em vários lugares do mundo, liberando o Estado para investir em outros setores.
Embora a concessão dos aeroportos tenha sido cogitada pelo atual governo, devido ao calendário eleitoral, essa discussão deverá ficar para 2011.
Na tarde de quinta-feira, os problemas do Galeão podiam ser testemunhados sem esforço, ou quase. Das seis esteiras que ligam os terminais 1 e 2, duas estavam inoperantes. Nos dois terminais, havia escadas rolantes e elevadores parados.
Segundo a Infraero, as obras de revitalização, que incluem a conclusão do Terminal 2, a reforma do Terminal 1 e a recuperação de pistas e pátios, estão em andamento e devem ficar prontas até setembro de 2012. A construção de um edifício-garagem ainda está sendo licitada, já que o estacionamento subterrâneo não atende às normas de segurança para as Olimpíadas.
- O Galeão tem uma estrutura física que permite atender à demanda prevista para 2014 e 2016. Mas as obras terão de estar concluídas - diz Ronaldo Jenkins, diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea).
Pelos dados da Infraero, de 2003 a 2009 o número de passageiros no Galeão subiu 156%, de 4,6 milhões para 11,8 milhões. Mesmo assim, o aeroporto é considerado ocioso. Segundo o Boletim de Indicadores de Transporte Aéreo (BITA), este ano o número deve chegar a 13,4 milhões, ainda abaixo da capacidade (18 milhões). Em 2014, se forem feitas as obras previstas, serão 20,6 milhões, para uma capacidade de 26 milhões.
As falhas na gestão do aeroporto ficam claras nas tarefas mais simples. Como nas longas filas para pagamento da taxa mínima de R$ 6 nos estacionamentos. Na tarde de domingo passado, motoristas enfrentaram 40 minutos de espera para sair do estacionamento, praticamente uma viagem Rio-São Paulo. Na raiz do problema, o fato de existirem só quatro caixas abertos para atender a três andares. Apenas um funcionário orientava centenas de motoristas.
Outro problema que as obras da Infraero não vão resolver é a questão do acesso. Sem linhas de metrô ou trem ligando os terminais ao Centro, o Tom Jobim deixa o passageiro à mercê de serviços de ônibus e táxis de qualidade duvidosa.
- A acessibilidade é um dos pontos fracos do aeroporto. É preciso um ramal de metrô, um transporte público. E, para ter viabilidade, esse transporte teria de se estender à Ilha do Governador e à Cidade Universitária. O Aeroporto de Atenas foi construído para as Olimpíadas com trem e metrô - diz Elton Fernandes, autor de um estudo sobre as demandas dos aeroportos feito em parceria com o Snea.
Para as olimpíadas de 2016, a prefeitura do Rio prevê a construção de um Bus Rapid Transit (BRT) entre a Barra da Tijuca e o Tom Jobim. O projeto está em fase de licitação.
Fonte: Paulo Marqueiro (O Globo) - Foto: diariodorio.com
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domingo, 1 de agosto de 2010
Um aeroporto à espera de comando
Especialista diz que problema do Tom Jobim é de gestão e que política na Infraero atrapalha
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