A transformação do Reino Unido numa fortaleza e a forma como a UK Border Agency (agência de controlo das fronteiras do Ministério do Interior) efectua deportações, "usando quase todos os meios possíveis", está no centro da mais recente polémica naquele país europeu. No centro do furacão está a empresa privada de segurança, a G4S, contratada pelo Ministério do Interior (MI) para escoltar os deportados até aos respectivos países de origem.
"Não consigo respirar. Não consigo respirar"
Ontem surgiu a primeira denúncia contra a atuação dos seguranças. Kevin Wallis, um passageiro que estava sentado no mesmo corredor que o angolano, disse ao jornal The Guardian que viu Mubenga ser contido com excessiva força e ouviu-o queixar-se de falta de ar. "Não consigo respirar. Não consigo respirar", terá dito várias o angolano, durante dez minutos, antes de ter perdido a consciência.
Wallis apelidou de "disparate absoluto" a versão do MI de que Mubenga estava doente. A testemunha disse que ouviu o angolano gemer e suspirar, indiciando que se estava a sentir indisposto, e que viu os seguranças rodearem e segurarem Mubenga no seu lugar quando este tentou levantar-se, dizendo que não queria voltar a Angola.
"Sabendo que ele estava algemado, diria que fizeram demasiada pressão [sobre Mubenga]. Ele devia estar sob uma dor e pressão horríveis", afirmou Wallis ao The Guardian.
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Uma declaração corroborada por outra testemunha, que estimou que os seguranças estiveram "em cima" do angolano durante 45 minutos, enquanto este dizia repetidamente: "Eles vão matar-me. Eles vão matar-me." Ninguém percebeu se ele se referia aos seguranças ou a inimigos em Angola, onde já cumpriu sentença por agressão durante distúrbios num clube noturno.
'Enfiado pelo banco abaixo'
Mubenga já se encontrava perturbado e em agonia quando entrou no avião, levando a que os outros passageiros fossem obrigados a mudar para lugares situados na parte da frente a aeronave.
"Ele estava 'enfiado pelo banco abaixo' porque os seguranças estavam a pressioná-lo. Apenas víamos o topo da sua cabeça ou ouvíamos o som abafado [das suas palavras] porque os seguranças estavam em cima dele", afirmou esta testemunha, que pediu para não ser identificada.
Entretanto, um norte-americano de 51 anos contactou o The Guardian para desmentir as alegações do MI sobre o incidente. Este trabalhador da indústria petrolífera disse que a morte do angolano o vai perseguir para sempre- "Poderia eu ter feito alguma coisa? Esta dúvida vai incomodar-me cada vez que for deitar-me", disse esta testemunha, alegando que não se envolveu por "medo de ser expulso do voo e de perder o emprego". "Mas aquele homem pagou um preço mais alto do que aquele que eu poderia vir a pagar."
Michael confirmou que ouviu Mubenga queixar-se de que não conseguia respirar: "Tenho a certeza de que será asfixia [causa de morte oficial]. A última coisa que ouvimos o homem a dizer foi que não conseguia respirar. Eram três seguranças, cada um parecendo pesa mais do que 100 quilos, empurrando e segundo-o no lugar, pelo que eu conseguia por debaixo dos assentos."
Isto enquanto o angola tentava gritar "ajudem-me!". "Ele continuava a dizer 'ajudem-me, ajudem-me'. Foi então que desapareceu debaixo dos assentos. Conseguia-se ver os três seguranças sentados em cima dele. E foi então que ele ficou quieto", continuou o norte-americano, perguntando porque não foi Mubenga retirado do avião se representada um risco tão elevado ao ponto de ter sido alvo de força excessiva.
Não há coincidência nos testemunhos relativamente ao tempo em que os guardas pressionaram o angolano, mas os restantes detalhes dos relatos são semelhantes: a agonia de Mubenga ao entrar no avião, a pressão exercida pelos três seguranças, os gritos do angolano a pedir ajuda e a dizer que não conseguia respirar e a inacção por parte dos outros passageiros.
Fontes: Diário de Notícias (Portugal) / Guardian - Imagens: Guardian