terça-feira, 8 de julho de 2008

Varig provoca impacto negativo de US$ 318 milhões para a Gol

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL


A compra da Varig teve um impacto negativo para a Gol de ao menos R$ 318 milhões, de acordo com cálculos de analistas. O valor representa a soma do efeito negativo da Varig sobre o lucro líquido da companhia nos balanços publicados dos dois últimos trimestres, de acordo com o padrão contábil norte-americano.

Somente a partir do quarto trimestre do ano passado a Gol passou a apresentar o impacto da Varig em separado nos seus resultados. Foram também dois períodos seguidos de prejuízo para a empresa de baixo custo e baixa tarifa. Na última teleconferência de resultados, o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior, afirmou que a empresa investiu cerca de R$ 1 bilhão, entre a aquisição e os investimentos.

Segundo o vice-presidente de Marketing e Serviços da Gol, Tarcísio Gargioni, o principal fator a influenciar o desempenho foi o aumento do preço do barril de petróleo. "Jamais imaginávamos há cerca de um ano que o preço do petróleo fosse chegar a US$ 150", disse.

A escalada do preço do petróleo foi um dos fatores decisivos para que a Gol mudasse o foco na aquisição da Varig. Quando ela foi comprada, em março do ano passado, por US$ 320 milhões, a leitura do mercado era que a Varig seria usada para rotas de longo curso, especialmente para a Europa e os EUA. Em abril deste ano, a Varig anunciou a suspensão das linhas intercontinentais.

"Poderíamos ter mantido o foco nos vôos de longo curso, mas o preço do petróleo inviabilizou a operação com o Boeing-767", afirmou Gargioni. A empresa ainda faz vôos para Paris, mas a partir de setembro estará totalmente concentrada em rotas no mercado doméstico e para a América do Sul.

O principal prejuízo, segundo André Castellini, da consultoria Bain & Company, foi o econômico, mas não o único.

"A operação já estava mais deteriorada do que pensavam e a economia não ajudou, em termos de preço do petróleo. A Varig absorveu caixa da Gol, gerou perdas e voou com aviões bem mais vazios do que o imaginado. Mas a recente exposição na mídia também não é algo que tenha agradado à Gol, apesar de não lhe dizer respeito diretamente", disse o consultor, se referindo às acusações da ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) Denise Abreu sobre a venda da Varig para a VarigLog em 2006.

Para Caio Dias, analista do Santander, o principal problema da Varig foi a utilização de aeronaves velhas nos vôos de longo curso. "A companhia queria disputar mercado com a TAM, em busca do passageiro que valoriza a maior qualidade do serviço, mas começou com aviões velhos. Não havia avião disponível no mercado e a aeronave faz toda a diferença na percepção de qualidade de serviço", disse o analista.
Ele estima que a Varig só atingirá o "break even" (ponto de equilíbrio entre receitas e despesas) no final do ano.

Após registrar taxas de ocupação de até 52% no mercado doméstico em julho do ano passado, a Varig registrou em maio deste ano uma taxa de 70%, de acordo com dados da Anac.

A escalada do preço do petróleo fez com que a Gol revisasse as operações e procurasse novas formas de economia. Segundo Gargioni, a alta de preços elevou a necessidade de buscar aumento de eficiência nas operações.

A principal medida é a troca até o fim do ano de toda a frota de Boeings-737/300 por Boeings-737/700 e 737/800 Next Generation, que consomem menos combustível. Na Varig, a padronização deve ser concluída até o fim do ano com a saída dos Boeings-767, usados nas rotas de longo curso.

Outra medida de economia na ponta do lápis foi a redução da velocidade das aeronaves de 5 km/h a 6 km/h, o que diminui o gasto com combustível.

Fonte: Folha de S.Paulo (07/07/08)

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