Pesquisa feita nos últimos dois meses com 104.215 vôos domésticos mostra que 55,6% deles atrasaram
Nem a substituição de toda a cúpula do setor aéreo ou mesmo os alardeados investimentos previstos no PAC foram capazes de reverter a falta de pontualidade da aviação brasileira. Um ano e quatro meses depois do acidente com o Boeing da Gol, marco inicial da crise aérea, passageiros ainda são obrigados a aturar atrasos médios de 1 hora e 11 minutos. O dado foi extraído de um estudo inédito feito pela consultoria Visagio, que monitorou durante 24 horas por dia 104.215 vôos domésticos realizados entre 19 de novembro e 16 de janeiro.
A pesquisa revela que, nesse período de aparente calmaria, só 44,4% dos vôos partiram ou chegaram nos horários programados. Na Inglaterra, que há três anos enfrentou uma das piores crises aéreas de sua história, esse índice chegou a 35%.
A TAM teve o melhor desempenho entre as oito empresas analisadas pelo estudo - e, ainda assim, registrou 44% de atrasos. A Gol foi a campeã de atrasos, com 60%. A média geral foi de 55,6%.
A Visagio fez o acompanhamento dos pousos e decolagens a partir do site da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), estatal que administra a maioria dos aeroportos. Mas, ao contrário da Infraero, que desde o início da crise aérea só contabiliza os atrasos superiores a 1 hora, a pesquisa incluiu em seu relatório todos os vôos que chegaram ou partiram 15 minutos depois do horário previsto.
“Resolvemos adotar 15 minutos por ser o padrão mundial”, diz o pesquisador Rodrigo Lang, um dos autores da pesquisa. “Embora as empresas tenham diferentes perfis e focos de negócios, concluímos que todas elas abriram mão da qualidade do serviço em prol do lucro.”
São Paulo e seus dois maiores aeroportos - Cumbica, em Guarulhos, e Congonhas, na zona sul da capital - estão no centro de boa parte dos atrasos e cancelamentos. A rota Salvador-Cumbica foi a que mais sofreu com atrasos no período analisado: 61%. Logo depois vem Cumbica-Salvador (54%), seguido por Brasília-Congonhas (48%), uma das principais rotas de negócios do País.
O porcentual médio de atrasos na ponte aérea foi de 30% entre Congonhas e o Santos Dumont e de 36% entre o Santos Dumont e Congonhas. Em compensação, as rotas figuram em segundo lugar no ranking de cancelamentos, atrás apenas de Curitiba-Congonhas e Congonhas-Curitiba, que tiveram 11%. Os números são reflexo de uma prática usual das companhias: a reserva de mercado. “Como vôos da ponte aérea saem a cada 15 minutos, empresas têm o hábito de consolidar dois vôos em um só para reduzir custos e tapar algum buraco em suas malhas”, diz Lang.
O Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) alega descompasso entre os horários das autorizações de vôo (hotrans) usadas no site da Infraero, feitas com base em médias históricas, e o atual tempo médio das viagens, o que teria distorcido as medições.
Fonte: Bruno Tavares (O Estado de S. Paulo)
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