E conseguiu por conta do esforço anterior e determinante do setor aeronáutico. Um dos passos decisivos para a criação da Embraer foi a instituição do Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), posteriormente rebatizado como Centro Técnico Aeroespacial - núcleo de excelência em conhecimentos na área. Oriundo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), foi responsável por formar profissionais capazes de levar adiante o projeto de indústria aeronáutica no País.
Foi justamente um grupo do CTA que propôs a elaboração de um projeto de bimotor turboélice capaz de transportar cerca de 20 passageiros e operar nas condições vigentes na grande maioria das cidades brasileiras, na ocasião. O grupo, segundo a própria Embraer, era formado, essencialmente, por técnicos do ITA, sob a liderança de Ozires Silva, na oportunidade major da FAB. O Ministério da Aeronáutica, então, encomendou um estudo sobre a viabilidade de ser criada no Brasil uma linha de produção de bimotores turboélice de transporte.
Em 12 de junho de 1965, o então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Eduardo Gomes, assinou documento básico de aprovação do projeto do que viria a ser conhecido posteriormente como o Bandeirante. Para a construção do primeiro protótipo, decorreram três anos e quatro meses - entre os estudos preliminares e o vôo do dia 22 outubro de 1968.
Para isso, foram gastos 110 mil horas de projeto, tendo sido executados 12 mil desenhos de fabricação; 22 mil horas de cálculo estrutural e aerodinâmico e 282 mil horas de fabricação do avião e do seu ferramental.
Demanda nacional
Embora o Bandeirante preceda a criação da Embraer, ele ainda é a aeronave adequada ao perfil da demanda do Brasil, onde o volume de passageiros é pequeno. No entanto, os poucos com disponibilidade para gastar com passagens aéreas no País exigem o conforto que o bimotor não tem. A difícil equação foi confirmada pelo próprio Ozires Silva, ex-presidente da Embraer.
“O grande problema do avião muito pequeno é que tem poucos passageiros. Não cobre todos os custos para operar”, explica. Pior quando a aeronave é grande. Nesse caso, nem linhas são oferecidas. “Nos Estados Unidos, em particular, muitas dessas linhas pequenas chegaram a ser subsidiadas pelo governo. Não só pelo governo federal”, comenta Silva. Mas ainda que os vôos regionais fossem estimulados, o passageiro aceitaria viajar um avião não pressurizado, mais barulhento e diversas vezes comparado a uma Kombi?
“O passageiro brasileiro tem mais posses. Voa nos aviões mais modernos do mundo. Não se sujeita. Os Estados Unidos transportaram, no ano passado, 900 milhões de passageiros. Ou seja, um pouco mais de três vezes a população americana. No ano passado, no Brasil, voaram 50 milhões. Eu me arriscaria a dizer que grande parte deles viaja, pelo menos, de cinco a dez vezes por ano, cada um. Então, se dividir, são só 10 milhões que voam. É pouquíssimo”, avalia
Não por acaso, o mercado nacional tem pouca significância para a Embraer ainda hoje. “No ano passado, a Embraer vendeu 3% da produção aqui no Brasil. O resto é tudo no Exterior”, finaliza Silva.
Projeto de avião econômico
Com baixo padrão de vida e pobre em combustíveis na época, o Brasil teria de desenvolver tipos de avião cuja principal característica fosse a economia. Os aviões norte-americanos e ingleses eram dispendiosos, consta em artigo publicado pela revista “Tempo Social”, da Universidade de São Paulo (USP), e disponibilizada via Internet.
De acordo com o texto, o Brasil não deveria receber, mesmo que gratuitamente, material aeronáutico de guerra, a não ser para atender necessidades imediatas. Caso contrário, ficaria com material antiquado, caro para manter, além de tornar-se dependente de país estrangeiro para solicitar peças sobressalentes. Tal situação ainda acarretaria atraso no desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira. O CTA desenvolve, então, o protótipo da aeronave Bandeirante.
No entanto, informa o artigo publicado na “Tempo Social”, o modo de viabilizar sua produção em série e sua comercialização ainda era incerto. Dúvidas à parte, a Embraer já estava sendo gestada.
Ainda de acordo com o artigo, no final do anos 1960, o parque industrial brasileiro já havia amadurecido. A indústria automobilística propiciava ampla e complexa rede de apoio, que removia parcialmente o obstáculo da produção doméstica de materiais e componentes requerida para a manufatura de aeronaves.
“Nesse momento, o novo salto no projeto da indústria aeronáutica brasileira passou a ser apoiado pelo regime militar de 1964, possibilitando as condições para a criação da Embraer”, conclui o texto disponibilizado na rede. O autor do artigo pediu para não ter o nome divulgado.
Fonte: Luciana La Fortezza (Jornal da Cidade de Bauru) / TV Vanguarda / aereo.jor.br