terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A banana-bomba

ARTIGO

Por Ateneia Feijó

Teria sido mesmo o Bin Laden? Uma gravação divulgada neste domingo pela Al-Jazeera dizia que sim. Dizia que o líder da Al Qaeda assumia o atentado terrorista de 25 de dezembro passado.

Aquele com o objetivo de explodir um avião com 278 pessoas a bordo. Um avião da Delta Air Lines, no dia de Natal, durante um voo com destino a Detroit, nos Estados Unidos.

Ufa. E quase entrei de gaiata nesta história pagando um mico terrível. Às 22h30 desse mesmo 25 de dezembro, eu embarcara do Rio para Washington, também num voo da Delta Air Lines, com conexão em Atlanta, na Geórgia. Animadíssima, em companhia de minha neta Júlia e minha nora Sílvia.

Éramos três gerações de mulheres em férias. Jantamos, dormimos e no café da manhã servido no avião a fruta foi banana gelada. Minha neta de sete anos resolveu pegar as nossas bananas, assim como os copinhos de suco de laranja lacrados para consumir depois.

Guardou tudo na minha mochila, onde eu carregava muito bem dobrado o meu casaco corta-ventos. O que custava levar aquele farnelzinho? Afinal, sempre fui contra o desperdício.

Em Atlanta, às 8h40 (hora local), o aeroporto me pareceu caótico. Havia filas imensas para revista de passageiros e um controle fora do normal das bagagens de mão. Que exagero, eu pensei. Descalcei as botas e me despi de todos os agasalhos sobrepostos.

Apenas de meias, jeans e camiseta de mangas compridas coloquei o restante do vestuário nas caixas plásticas apropriadas que passariam pelo aparelho detector de objetos suspeitos ou perigosos. E lá foi a minha mochila levada pela pequena esteira rolante.

Aí notei um certo nervosismo entre os agentes policiais presentes que, sem mais nem menos, fixaram seus olhos em mim de uma maneira muito esquisita. Mas como estava zen, continuei zen.

Minha preocupação na verdade era com a Júlia. Apesar de ser uma criança pequena, teve sua mochila revistada, além de precisar descalçar suas botas e despir seus agasalhos também.

Apressava-me em recolher nossas coisas quando os agentes fizeram sinal para que parasse onde estava. Parei. Uma policial pegou minha mochila e se dirigiu para um local reservado, ordenando-me para que a acompanhasse.

Confesso que não estava entendendo a agressividade no tom de sua voz e, principalmente, na sua forma de me olhar.

Sem entender, mas sabendo que aquilo fazia parte de uma paranóia antiterrorista, lá fui eu me postar no tal local indicado. Parecia uma cabine aberta em que havia uma divisória de proteção entre mim e a agente.

Quer dizer, uma medida de proteção para ela. Acho que atrás de mim, um pouco afastados havia outros policiais, não tenho certeza.

O que mais me chamava atenção era a maneira pela qual a mulher passara a me observar, como que surpreendida com a minha tranquilidade. Não sei se para o bem ou para o mal. No clímax do suspense ela abriu a mochila usando luvas e uma espécie de ferramenta que não consegui identificar. Aí aconteceu.

Excitada e com um ar exultante, ela puxou um saco plástico com seis objetos, depositando-o sobre a base do tal balcão. Fiquei paralisada. Seus olhos passaram a brilhar intensamente diante dos três recipientes lacrados com líquido de cor de laranja.

Em seguida, a expressão de seu rosto se transtornou. Impagável. Identificara os outros objetos: três bananas!

Sim. Ela pegou, examinou por todos os ângulos: eram apenas frutas. Reais. Olhou para mim com quase piedade. Obviamente concluí que haviam detectado as bananas e os sucos de laranja na minha mochila como algo muito suspeito. Ou melhor, como coisas altamente perigosas.

Liberada, levei na brincadeira tecendo, disfarçadamente, comentários engraçados com minha nora. A piada acabou quando, já no aeroporto de Washington, ouvimos em uma TV ligada um jornalista da CNN dando as últimas informações sobre o atentado ocorrido num voo da Delta Air Lines para Detroit.

Um passageiro a bordo quase conseguira detonar uma bomba feita de uma mistura de pó e líquido.

Deus meu. Por pouco não me transformei em mulher banana-bomba.

Por Ateneia Feijó (jornalista) via Blog do Noblat

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