segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Paraquedista americano paralisado após acidente volta a voar em túnel de vento

Instrutor Chris Collwell sofreu acidente há 6 anos.

Simulação de salto foi acompanhada por amigos brasileiros.




Chris Colwell dominava os céus como um pássaro. Fazia acrobacias que muitos pássaros não fazem. Rasgava a atmosfera como se caminhasse por uma estrada invisível. Com uma alegria visível, nos olhos e no sorriso. Ele chegou tão alto no esporte que virou professor.

No dia 24 de abril de 2003, a câmera estava no capacete de Chris. O paraquedista que aparece assustado na porta do avião é um iniciante. Um iniciante pesado, que desce muito rápido e quase sem controle.

Diante da perigosa descida do companheiro, Chris assume a posição mais rápida que existe no paraquedismo. De cabeça apontada para o solo, desce a mais de 200 km por hora para resgatar o aluno que, de repente, dá uma guinada. Os dois se chocam. O paraquedista profissional bate com a cabeça no peito do aluno.

As pernas param de responder aos comandos do cérebro. Chris perde também o controle dos dedos e movimenta os braços, desesperadamente, numa viagem sem controle em direção à terra.

Ele não consegue abrir o paraquedas principal. E só quando a morte parece algo inevitável, o paraquedas de emergência se abre automaticamente. Mas o alívo dura poucos segundos. Chris precisaria muito das pernas para fazer um pouso suave. Com sorte, pousaria na grama. Mas, nada feito. Ele rola desgovernado pelo asfalto.

Seis anos depois, Chris Collwell se culpa. “A gente deveria fazer seis voos aquele dia. O plano era ensinar a ele algumas manobras, mas de repente os planos mudaram. Ele começou a voar muito rápido. Eu tentei alcançá-lo, o que foi provavelmente meu erro, porque ele de alguma forma acabou ficando bem embaixo de mim. Num certo ponto, eu comecei a ver um monte de imagens do passado na minha cabeça, exatamente como acontece com pessoas que pensam que vão morrer”, contra Chris.

O pouso no asfalto foi o último da carreira de quem nasceu aventureiro. Foi obrigado a começar uma nova vida com as pernas e os dedos paralisados na cadeira de rodas.

Aos 38 anos, Chris não está feliz com o destino, mas já parou de se lamentar.

Dentro de casa, mandou construir um estúdio para viver uma nova paixão: a música. O instrumento é simples, mas foi o que deu para improvisar com plástico e ponta de lápis, para tocar o teclado.

A letra do hip-hop não tem nada de improviso. “É um dia completamente novo; cinco anos se passaram desde que eu bati no asfalto. Eu ainda voo, todos os dias, vou chegar aos céus? Não sei. Mas até lá eu vou tentar.”

Como diz a letra da música, Chris quer voar novamente. Os amigos chegam no fim da tarde, dispostos a ajudá-lo na missão, que não é impossível.

Mas primeiro é preciso preparar o carro. A bagagem. E o aventureiro.

Depois de seis anos, depois de muito tempo sonhando com esse momento, Chris está finalmente pronto para sua primeira aventura desde o acidente. Ele vai acompanhado de três brasileiros: a Juliana, que é paraquedista; o João, também paraquedista; e o Kallei, que é médico e paraquedista. Mas, antes do voo, eles têm ainda 800 quilômetros de estrada pela frente.

“Espero que não precise de nenhum suporte, mas se precisar a gente ta aí pra dar qualquer apoio”, explica Kallei.

Juliana e Chris se conheceram há muitos anos durante um voo.

“Vou voar junto com o Chris. A última vez que a gente voou junto faz bastante tempo já, então eu também estou esperando por este momento há muito tempo”, diz Juliana, instrutora de paraquedismo.

Como o próprio Chris tem dito, ela e João serão os anjos da guarda durante a simulação de um salto, num túnel de vento.

“Acho que só a gente estar aqui já é especial para todos nós e vai ser um grande desafio, porque nunca ninguém nas condições do Chris voou antes num simulador”, afirma João Tambor, instrutor de paraquedismo.

Chris está pronto. As portas se fecham e a van sai sem pressa.

Saindo de Deland, na Flórida, serão mais de 800 quilômetros até Fayeteville, na Carolina do Norte. Na jornada que atravessa a madrugada, os brasileiros se alternam na direção. E só na manhã do dia seguinte, a equipe finalmente chega ao local da aventura.

Chris mostra a mão para dizer que não está tremendo, nem um pouco nervoso. Todos se reúnem e Chris explica exatamente o que quer: “Eu fico o dia inteiro assim, sentado… Então eu quero girar… Voar para cima e para baixo… Quero ficar solto, sem que ningué me segure.”

Chris está com tudo pronto pra voar pela primeira vez depois de seis anos. É uma tentativa, a gente ainda não sabe o que vai acontecer, mas as expectativas são as melhores possíveis.

Tudo pronto para uma operação complicada. Eles têm que trazer o Chris para dentro do túnel que foi desligado neste momento.

O túnel de vento foi ligado. Os primeiros movimentos. Ele sente as mãos e lentamente vai saindo do chão. Os instrutores também começam lentamente a voar.

Nova tentativa. Ele ainda sendo segurado, protegido para sentir como é o vento depois de tanto tempo sem praticar. Obviamente, sem o movimento das pernas. E sem sentir o que acontece nas mãos.

Ele tenta sinalizar para os instrutores qual seria a posição mais confortável para voar sozinho - que é o grande objetivo dele aqui.

A comunicação é difícil. O instrutor tenta interpretar e ele pede para ficar de frente, o que é mais difícil.

Ele faz agora pela primeira vez o chamado belly fly, o voo de barriga para baixo. O Chris voa neste momento sozinho!

O sorriso no rosto de Chris começa a aparecer. Um certo alívio. Uma sensação de conquista - afinal depois de seis anos na cadeira de rodas - o Chris pela primeira vez tem a sensação de voar - algo que ele praticamente fez a vida inteira e fez muito bem, como poucos.

Agora sim vento mais forte - mais de 200 quilômetros por hora. Essas manobras são meio arriscadas para a situação que a gente está enfrentando.

A Juliana chora, enxuga as lágrimas, sorri, é uma emoção enorme porque ela passou os últimos dois anos planejando este momento. Eles voavam juntos antes do acidente do Chris.

Agora o Chris experimenta um voo de cabeça para baixo, exatamente o que ele fazia no dia do acidente, no momento do acidente. Agora, com toda a segurança, auxiliado por quatro instrutores, ele voa de cabeça para baixo, como se estivesse no céu.

Quando a aventura termina, a equipe comemora. A vitória é de todos.

Chris ainda não acredita que depois de seis anos numa cadeira de rodas, foi capaz de voar.

Fonte: G1 (com informações do Fantástico)

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