Na tarde de ontem, uma equipe do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa) 4, vinda da Capital, realizou perícia na região em um raio de 200 metros a fim de encontrar vestígios que possam indicar os motivos da queda da aeronave. O trabalho foi acompanhado por técnicos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e contou com o apoio do Corpo de Bombeiros, do canil da Polícia Militar e do helicóptero Águia, que também realizaram buscas no local. O Seripa-4 é subordinado ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira, e deverá emitir um laudo dentro de 90 dias, apontando o resultado das averiguações.
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De acordo com o tenente Edson Winckler Filho, oficial de área do Corpo de Bombeiros, o local ficará interditado até que todos os trabalhos sejam encerrados. “Nossas buscas já foram finalizadas. Foram encontrados alguns documentos de identificação da aeronave na parte da manhã e tudo foi repassado para a perícia”, destacou.
Ainda ontem, no período da manhã, os restos mortais do piloto também foram recolhidos e encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML), onde um irmão e uma sobrinha realizaram o reconhecimento. Embora Campos vivesse em Santo André, a informação é de que ele será cremado hoje no Cemitério da Vila Alpina, em São Paulo.
Segundo informações preliminares, o avião que Campos pilotava havia sido fabricado nos Estados Unidos há mais de 30 anos. Comprada por uma empresa de comercialização de aviões baseada no Aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, a aeronave vinha de Colíder, no Mato Grosso do Sul e deveria pousar em Sorocaba. No entanto, Campos parou para reabastecer no Aeroclube de Bauru, por volta das 18h, e caiu apenas três quilômetros após levantar vôo.
“Era um avião velho e ele era um piloto com mais de 25 anos de experiência. Mas só a investigação vai dizer o que realmente aconteceu”, salienta o amigo Raphael Neves, uma das últimas pessoas a conversar com Campos. Ele lembra que o modelo King Air B100 era um dos que a vítima mais gostava de pilotar.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Anac informou que o órgão ficará responsável apenas por averiguar a regularidade dos documentos da aeronave e da habilitação do piloto. As demais investigações serão conduzidas pelo Cenipa. Também consultadas, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e o Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp) aguardarão a divulgação de laudo para se manifestar.
Mal súbito e pane são hipóteses para acidente
Amigos do piloto Antônio Carlos Mendonça Campos afirmam que ele sofria de problemas cardíacos e já teria sido submetido, há um ano, a uma cirurgia para implante de ponte de safena. Embora estivesse acima do peso, a informação é de que os exames anuais exigidos para que ele pudesse continuar pilotando estavam em ordem.
“O que aconteceu foi uma surpresa para todos os amigos e familiares. Está todo mundo muito abalado”, afirma Raphael Neves, 19 anos, que esteve com os familiares vindos de São Paulo para acompanhar a liberação do corpo. Morador de Bauru, Neves chegou a ser convidado por Campos para seguir com ele até Sorocaba. “Recusei por conta do trabalho, mas não sinto alívio”, diz o jovem, lamentando a perda do amigo.
Um outro detalhe também chama a atenção. Conforme informações extra-oficiais, momentos após a decolagem, Campos não teria informado à torre de controle da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) que já estava ocupando o espaço aéreo, o que é protocolo dentro da aviação.
“A informação que a gente tem é que a Infraero teria detectado o avião (no radar) e chamado o piloto, mas ele não respondeu”, diz um funcionário, que preferiu não se identificar.
Como o King Air B100 havia sido fabricado há mais de 30 anos, outra possibilidade aventada é de que uma pane tenha provocado o acidente. Em Bauru, Campos teria parado para reabastecer depois de verificar que as luzes vermelhas do painel da aeronave estavam acesas, indicando nível baixo de combustível.
“A distância entre Bauru e Sorocaba é muito pequena, não havia necessidade de ele parar aqui. Ele parecia bastante nervoso, preocupado, mas não disse nada”, frisa o funcionário.
Campos era solteiro e não tinha filhos. Segundo Neves, o piloto trabalhava para o setor de aviação executiva de uma companhia de táxi aéreo e também fazia serviços autônomos, como o de anteontem, levando aeronaves para seus compradores.
Fonte: Jornal da Cidade (Bauru-SP)