Julian Assange, criador do Wikileaks, é o expoente maior do "ativismo hacker", dificultando a vida de governos e corporações
A imprensa internacional foi tomada nesta segunda-feira pela notícia do vazamento de 92 mil documentos sobre a campanha dos Estados Unidos no Afeganistão, seu principal campo de batalha no momento. O escândalo tem o potencial de assumir as mesmas dimensões da divulgação de um vídeo, em abril, em que um helicóptero apache disparava contra civis no Iraque, causando um constrangimento para o governo norte-americano que obrigou até o secretário de Defesa, Robert Gates, a se pronunciar. E por trás dos dois maiores furos da imprensa no ano está um site sueco: o Wikileaks.
Criado pelo australiano Julian Assange, o site Wikileaks já colocou na web 1,2 milhão de documentos desde o lançamento, em 2007, se tornando um pesadelo para governos, políticos e grandes empresas. Ex-empregados em busca de vingança de seus patrões e militares e funcionários de governos com acesso a informações confidenciais são sempre uma fonte abundante de informações, mas na prática qualquer um pode apresentar uma denúncia. O que fez o Wikileaks ganhar respeito com o passar do tempo é sua política editorial.
Se no início o site afirmava estar interessado primariamente em "expor regimes opresssores na Ásia, o ex-bloco soviético e no Oriente Médio", foi a segunda parte da declaração de princípios, "ajudar pessoas de todas as regiões que desejam revelar o comportamento antiético de seus governos e corporações" que o tornou um divulgador priviligiado de informações comprometedoras. A política recentemente evoluiu para a publicação apenas de documentos "de interesse político, diplomático, histórico ou ético". Ao mesmo tempo, deixou de publicar comentários.
Hacktivismo
À frente do Wikileaks, Assange se tornou o maior expoente do ativismo hacker - ou hacktivismo - em qualquer época. Ex-estudante de Física e Matemática, ex-programador de computadores, é considerado o maior hacker surgido na Austrália e já foi condenado por roubar informações da Inteligência americana e publicar uma revista que inspirou ataques à Commonwealth, a comunidade britânica de nações. Não se sabe sua idade ao certo, mas estima-se que tem 40 anos. Ele também é co-autor do livro Underground (Subterrâneo), com histórias sobre hackers. Recebeu créditos de colaborador na pesquisa.
No início do ano, Assange explicou a mecânica por trás das publicações: uma equipe de cinco pessoas avalia as informações e as checa antes de que sejam colocadas na internet. O Wikileaks ainda conta com nove integrantes no conselho consultivo, mas apenas Assange fala à imprensa. Ele não revela o volume de denúncias vetadas, mas o fato é que o Wikileaks raramente é contestado.
No caso do vídeo do ataque do helicóptero apache - vazado por um soldado americano, atualmente preso depois de ser denunciado pelo hacker Adrian Lamo (veja link nas matérias relacionadas) - o secretário Robert Gates disse se tratar da "guerra vista por um canudo de refrigerante", mas ao mesmo tempo não negou que fossem imagens verdadeiras.
Outro caso que veio à público, o "manual de tortura" americano para a prisão iraquiana de Abu Ghraib, não apenas não foi negado como resultou no compromisso do presidente Barack Obama, sob críticas internacionais, de fechar o polêmico centro de detenção.
Sob fogo inimigo
Ao causar tamanho incômodo, o Wikileaks não teria como ficar ileso. O governo dos Estados Unidos reiteradamente acusa Assange de colocar vidas em risco. A imprensa, mesmo beneficiária das notícias que o site descobre, faz, pelo menos parcialmente, coro.
"O último vazamento da Wikileaks, que postou 92 mil documentos secretos na internet e desafia leitores a encontrar algo notável neles, põe um número enorme de pessoas em risco. E E Assange não parece se importar", acusou nesta segunda-feira Joshua Foust, da rede americana PBS.
"Esta informação ajuda e conforta o inimigo e parece uma WikiTraição", acusou, no jornal inglês The Guardian, Ross Baker, professor da universidade americana Rutgers e ex-assesor de democratas e republicanos no Congresso.
Depois da divulgação do vídeo do ataque do helicóptero, o Wikileaks passou por um processo de quase falência, ficando quase dois meses sem publicar nenhum documento. Empresas e governos, notadamente Austrália e China e o banco suíço Julius Baer já tentaram censurá-lo ou tirá-lo do ar, mas o complexo sistema de hospedagem - em vários países - impede que seus servidores sejam identificados.
O Wikileaks também usa os serviços da PRQ, companhia sueca considerada "à prova de balas", mantendo poucos registros e se recusando a dar informações sobre seus clientes.
Para conforto ou desconforto, o bem ou mal, o site marcou com a denúncia no Afeganistão a sua reentrada em cena e promete incomodar. Na semana passada, numa entrevista à revista , Assange garantiu ter uma "enorme quantidade de munição de alto calibre" que só não está na internet devido à falta de jornalistas colaboradores para verificar sua autenticidade. O material, adiantou, envolve a petrolífera British Petroleum (BP), responsável pelo gigantesco vazamento de óleo no Golfo do México.
Fonte: Alexandre Rodrigues (Terra) - Foto: Reuters
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Clique aqui e leia a íntegra no Wikileaks (em inglês)
Criado pelo australiano Julian Assange, o site Wikileaks já colocou na web 1,2 milhão de documentos desde o lançamento, em 2007, se tornando um pesadelo para governos, políticos e grandes empresas. Ex-empregados em busca de vingança de seus patrões e militares e funcionários de governos com acesso a informações confidenciais são sempre uma fonte abundante de informações, mas na prática qualquer um pode apresentar uma denúncia. O que fez o Wikileaks ganhar respeito com o passar do tempo é sua política editorial.
Se no início o site afirmava estar interessado primariamente em "expor regimes opresssores na Ásia, o ex-bloco soviético e no Oriente Médio", foi a segunda parte da declaração de princípios, "ajudar pessoas de todas as regiões que desejam revelar o comportamento antiético de seus governos e corporações" que o tornou um divulgador priviligiado de informações comprometedoras. A política recentemente evoluiu para a publicação apenas de documentos "de interesse político, diplomático, histórico ou ético". Ao mesmo tempo, deixou de publicar comentários.
Hacktivismo
À frente do Wikileaks, Assange se tornou o maior expoente do ativismo hacker - ou hacktivismo - em qualquer época. Ex-estudante de Física e Matemática, ex-programador de computadores, é considerado o maior hacker surgido na Austrália e já foi condenado por roubar informações da Inteligência americana e publicar uma revista que inspirou ataques à Commonwealth, a comunidade britânica de nações. Não se sabe sua idade ao certo, mas estima-se que tem 40 anos. Ele também é co-autor do livro Underground (Subterrâneo), com histórias sobre hackers. Recebeu créditos de colaborador na pesquisa.
No início do ano, Assange explicou a mecânica por trás das publicações: uma equipe de cinco pessoas avalia as informações e as checa antes de que sejam colocadas na internet. O Wikileaks ainda conta com nove integrantes no conselho consultivo, mas apenas Assange fala à imprensa. Ele não revela o volume de denúncias vetadas, mas o fato é que o Wikileaks raramente é contestado.
No caso do vídeo do ataque do helicóptero apache - vazado por um soldado americano, atualmente preso depois de ser denunciado pelo hacker Adrian Lamo (veja link nas matérias relacionadas) - o secretário Robert Gates disse se tratar da "guerra vista por um canudo de refrigerante", mas ao mesmo tempo não negou que fossem imagens verdadeiras.
Outro caso que veio à público, o "manual de tortura" americano para a prisão iraquiana de Abu Ghraib, não apenas não foi negado como resultou no compromisso do presidente Barack Obama, sob críticas internacionais, de fechar o polêmico centro de detenção.
Sob fogo inimigo
Ao causar tamanho incômodo, o Wikileaks não teria como ficar ileso. O governo dos Estados Unidos reiteradamente acusa Assange de colocar vidas em risco. A imprensa, mesmo beneficiária das notícias que o site descobre, faz, pelo menos parcialmente, coro.
"O último vazamento da Wikileaks, que postou 92 mil documentos secretos na internet e desafia leitores a encontrar algo notável neles, põe um número enorme de pessoas em risco. E E Assange não parece se importar", acusou nesta segunda-feira Joshua Foust, da rede americana PBS.
"Esta informação ajuda e conforta o inimigo e parece uma WikiTraição", acusou, no jornal inglês The Guardian, Ross Baker, professor da universidade americana Rutgers e ex-assesor de democratas e republicanos no Congresso.
Depois da divulgação do vídeo do ataque do helicóptero, o Wikileaks passou por um processo de quase falência, ficando quase dois meses sem publicar nenhum documento. Empresas e governos, notadamente Austrália e China e o banco suíço Julius Baer já tentaram censurá-lo ou tirá-lo do ar, mas o complexo sistema de hospedagem - em vários países - impede que seus servidores sejam identificados.
O Wikileaks também usa os serviços da PRQ, companhia sueca considerada "à prova de balas", mantendo poucos registros e se recusando a dar informações sobre seus clientes.
Para conforto ou desconforto, o bem ou mal, o site marcou com a denúncia no Afeganistão a sua reentrada em cena e promete incomodar. Na semana passada, numa entrevista à revista , Assange garantiu ter uma "enorme quantidade de munição de alto calibre" que só não está na internet devido à falta de jornalistas colaboradores para verificar sua autenticidade. O material, adiantou, envolve a petrolífera British Petroleum (BP), responsável pelo gigantesco vazamento de óleo no Golfo do México.
Fonte: Alexandre Rodrigues (Terra) - Foto: Reuters
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Clique aqui e leia a íntegra no Wikileaks (em inglês)
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