segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Salgado Filho: carregamento de malas é um dos momentos mais delicados do embarque

Por 24 horas, Zero Hora acompanhou a rotina do aeroporto gaúcho por onde circulam 30 mil pessoas todos os dias

Às 4h de quarta-feira passada, Junior Alexandre Silva de Oliveira, 20 anos, era o primeiro funcionário de companhia aérea a posicionar os cavaletes para o check-in no segundo andar do terminal. Sozinho em frente ao guichê da Ocean Air, dava início ao processo de embarque no primeiro voo do dia, para Juazeiro do Norte, com escalas em Guarulhos e Brasília. Uma hora depois, estava na pista conferindo a entrada dos passageiros, o embarque de mantimentos e auxiliando no que fosse preciso a equipe de manutenção.

Pouco depois das 5h, o sol começa a querer aparecer, mas um pelotão trabalha como se fosse quatro da tarde: cerca de 30 pessoas se envolvem no trabalho de solo — abastecer a aeronave com combustível, limpá-la e organizar a comida. Quatro mecânicos revisam o avião seguindo uma ficha de procedimentos. Ivo Persson, mecânico há 32 anos, é um deles. Começou na Varig e já trabalhou em Miami, em uma função que considera tão crítica quanto a de um médico. É dele a tarefa de reportar qualquer problema mecânico. A manutenção é a parte mais cara da aviação, diz Persson, e a responsabilidade é dele de dizer se um avião pode ou não levantar voo.

— São vidas humanas em risco. Se não estiver tudo conforme o livro de normas, o avião não sai — assegura.

Metros adiante, a barriga do Fokker MK-28 está aberta e, ali, uma cena que costuma dar calafrios nos passageiros que despacharam objetos que quebram: as malas estão sendo colocadas na aeronave. Como é o primeiro voo, a equipe carrega o avião com ritmo, mas não com pressa — em português claro, não arremessa longe a bagagem. Felipe Melo cansa de sofrer represálias quando os colegas de aula lembram que é ele o responsável pelo trabalho.

— O pessoal pega no pé, diz que eu sou maloqueiro e jogo as malas longe. Mas a gente tem cuidado, as pessoas acham que esse trabalho é fácil — conta.

Fácil, não é. Dependendo do tipo de avião, é preciso carregar parelho os compartimentos, senão a aeronave empina. Normalmente, a equipe tem de 20 a 25 minutos, no máximo, para colocar a bagagem no avião — atrasos são descontados da empresa de Felipe, que é terceirizada. Ele reconhece que "acidentes acontecem", e aconselha: as etiquetas de "frágil" devem ser usadas, porque funcionam.

— Olha ali aquela prancha de surfe. Essa é frágil, e vamos deixar bem na frente para não ter tanto risco — explica.

Com os passageiros no avião e a porta fechada, a tarefa de levar o voo adiante agora é da equipe de comissários e piloto. Junior volta ao terminal, walkie-talkie na mão, e aguarda o final do embarque. Dois funcionários da companhia se encarregam de pegar os bilhetes, inserindo os números de cada um no computador para controlar a lotação. Nesse horário, 6h, além da cara de sono dos passageiros, é preciso cuidar dos que realmente não acordaram ainda — acontece seguido de alguém errar a bifurcação do corredor que leva ao avião e acabar num voo diferente. Então é "bom dia, obrigado, primeiro portão à esquerda" até que todos saiam da sala de embarque. Quase todos: há quatro atrasados, que fazem o embarque ser encerrado às 6h18min. Agora, é tocar para o próximo voo, diz Junior, terceiro da família Oliveira a trabalhar no Salgado Filho — um irmão era funcionário da Gol e o pai trabalha na Infraero.

— E tenho ainda outro primo numa loja lá embaixo — lembra.

Fonte: Zero Hora - Foto: wikimedia.org

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