A doméstica Neide Rodrigues olha para o céu: noite mal dormida
O morador de Sousas já andava grilado com o tempo chuvoso. O drama é o mesmo tanto para moradores do sofrido Beco Mockarzel como para quem vive em áreas nobres, com fundos de terreno para o Rio Atibaia. Como todo fim de ano, chove muito e o rio sobe. O pessoal corre para levantar os móveis e não perder tudo. Mas, na madrugada de ontem, havia outro motivo incomodando. Um avião monomotor, desses teco-tecos, ficou quase duas horas voando baixo no distrito. Indo e voltando. E teve até gente que até ignorou a chuva e saiu na rua. Quem seria o piloto? Um bêbado, talvez? Alguém perdido procurando lugar para pousar? Um insone matando o tempo? Ninguém sabe. A única certeza é que muita gente perdeu o sono. Primeiro porque o barulho irritava. Depois, porque se temia o pior: a geringonça podia despencar lá de cima e provocar uma tragédia.
Nesta sexta-feira (18) de manhã, não se falava outra coisa no distrito. Ali na banca de jornais da Praça Beira Rio, a turma se reunia e especulava. Teve até gente falando que podia ser atentado, coisa de terrorista. Talvez policial procurando bandido ou agente da Defesa Civil conferindo os estragos da chuva. No Bar Central (boteco tradicional, do João Peria e do Mário), muita gente ouviu o ronco do avião. Na Lanchonete Esquinão, de frente para a praça, o gerente Juan Pedro Gonçalves Pitta se divertia falando do episódio.
“Acordei com a barulheira, chamei a minha mulher Celi e a gente correu para janela. No começo, pensei que estavam filmando enchente. Mas aí notei que o teco-teco voava em círculo. Fiquei preocupado e não dormi mais. Só voltei a encostar a cabeça no travesseiro quando o avião foi embora. Eram quase 3 da matina”, lembra.
A empregada doméstica Neide Rodrigues, moradora do Jardim Conceição (na saída para o Centro), também conta que acordou assustada. Parece que tinha uma avião caindo no seu telhado. Chamou o marido, Valdir, em pânico, e recebeu de volta um romântico: “Oh, mulher, me deixa dormir”. E ele voltou a roncar. Ela, sismada, passou quase duas horas na sacada do quarto, olhando para o aviãozinho que ia e voltava. De manhã, com os olhos vermelhos por causa da noite mal dormida, ela chegou no trabalho (a casa de uma família do Nova Sousas) e ouviu a mesma história.
Todo mundo por ali, conta, estava acostumado em ouvir o barulho de jatos de madrugada. Aviões cargueiros que pousam em Viracopos. Mas o teco-teco foi uma surpresa. “Aqui pelo bairro, todo mundo dizia que era um aviãozinho claro, com luzes acesas, passando pertinho do chão. Sei lá, uns 300 metros de altura. Quem saiu da cama e olhou aquilo não conseguiu mais dormir”, diz Neide.
De bate-pronto, o povo começou ligar para a Polícia Militar (PM), para o aeroporto, para a Defesa Civil. Para o número que viesse à mente. Os plantonistas, um tanto cansados de ouvir a mesma ladainha, tinham a resposta na ponta da língua: “Sousas? O avião voando baixo? A gente já sabe. Está todo mundo ligando...”
Sem explicação
Ontem, durante o dia todo, nenhum órgão público conseguiu resposta para o causo. No Campo dos Amarais, a informação oficial é que o aeroclube nem funciona de madrugada. No departamento responsável pélo tráfego aéreo, em Viracopos, a resposta dada à reportagem foi um tanto ríspida: “Ligue na assessoria de imprensa”. No setor de comunicação social, ninguém tinha ouvido falar do teco-teco barulhento. Houve plantonista de um organismo policial que até se divertiu com as tantas ligações preocupadas: “Ah, deve ser avião particular, de pequeno porte... deve ter saído dos Amarais... voou até acabar o combustível e cair no rio”. A Defesa Civil foi simples e direta: “Não temos nada a ver com isso, e não sabemos do que se trata”, disse o coordenador regional, Sidnei Furtado. Bem, ninguém em Sousas ficou sabendo de algum acidente aéreo ou pouso forçado.
Fonte: Rogério Verzignasse (Agência Anhangüera de Notícias) via Cosmo Online - Foto: Elcio Alves/AAN