domingo, 7 de agosto de 2022

Queda de avião marcou tragicamente inauguração de avenida de Fortaleza há 47 anos

Na entrega da Leste Oeste, na década de 1970, o acidente com uma aeronave acabou provocando a morte de, ao menos, 15 pessoas.

Uma multidão assistiu a apresentação de quatro aviões AT-26 Xavante do
4º Esquadrão Grupo de Aviação da Força Aérea Brasileira (FAB) (Foto: Arquivo Nirez)
O dia era para ser de comemoração. Após um período de obras, Fortaleza inaugurou, na década de 1970, a Av. Presidente Castelo Branco, a famosa Leste Oeste, que corta a cidade do Centro à Barra do Ceará, e com isso mudou a conexão do lado Oeste com a área central e o porto. Mas, a celebração deu lugar ao desespero. Uma apresentação aérea acabou em tragédia. Um dos quatro aviões caiu e a entrega da via ficou marcada pelo acidente que provocou a morte de, ao menos, 15 pessoas no bairro Pirambu.

Na manhã do dia 20 de outubro de 1973, o palanque das autoridades já estava montado na área em que hoje está localizado o hotel Marina Park, próximo ao Moura Brasil. O local já tinha uma grande concentração do público que esperava para inaugurar o primeiro trecho da recém criada Av. Leste Oeste, que vai da Av. Dom Manuel à Barra do Ceará.

A obra ocorreu na administração do prefeito engenheiro Vicente Fialho, na época do governo militar, que tinha o general Emílio Garrastazu Médici à frente. Na ocasião da inauguração, o governo federal era representado, em Fortaleza, pelo Ministro do Interior, Costa Cavalcanti. Ele e o prefeito estavam no local junto à multidão.

Com a ocorrência, houve uma correria generalizada, sobretudo, porque quem estava no
local sabia que a queda foi em uma área bastante residencial (Foto: Arquivo Nirez)
Quatro aviões AT-26 Xavante do 4º Esquadrão Grupo de Aviação da Força Aérea Brasileira (FAB), da Base Aérea de Fortaleza, registra a imprensa da época, sobrevoaram a baixa altitude a área onde estava instalado o palanque das autoridades.

Às 10 horas e 20 minutos um dos quatro aviões, o Embraer AT-26 Xavante (MB.326GC), prefixo 4502, da FAB, caiu na área do Pirambu e teve início um grande incêndio. Na tragédia, três casas da Rua Gomes Parente, localizada a cerca de 2 km, foram afetadas.


Com o acidente, informa a imprensa da época, além do piloto, o tenente identificado como Pedro Rangel Molinos, de apenas 24 anos, houve registro de, pelo menos, outras 14 pessoas mortas. Jornais informaram que várias vítimas eram crianças e adolescentes.

No local, muita fumaça preta. O trabalho dos bombeiros começou de forma imediata. Atuaram na operação 40 bombeiros e foram usados 4 caminhões-pipas e duas ambulâncias.

O trabalho foi intenso e situação desesperadora para vítimas, famílias e vizinhos. O grupo de feridos, salvo por bombeiros, foi levado ao Instituto Dr. José Frota (IJF).

O Xavante, noticiaram os jornais, era um avião produzido no Brasil desde 1972 pela Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). A ocorrência em Fortaleza foi a primeira do tipo envolvendo esse tipo de avião em solo brasileiro. O equipamento era um aparelho de treinamento e apoio para 2 tripulantes e duplo comando.

Uma das funções da Leste Oeste era tornar mais rápida a ligação da zona industrial,
como áreas da Avenida Francisco Sá, com o Porto do Mucuripe (Foto: Kid Jr)
“Apesar da pouca idade na época, eu lembro da construção da avenida que rasgou o Pirambu ao meio e mudou totalmente. No dia da inauguração, tinha muita gente. Fui com minha mãe e meu irmão. Eu tinha sete anos e ele 11. Nós estávamos perto da Escola de Aprendizes de Marinheiros”, conta o juiz federal Marcos Mairton, testemunha da ocorrência quando era criança.

Ele recorda que era morador da Rua Pedro Artur, conhecida, segundo ele, como 7 de Setembro: "Esses aviões passaram em um voo rasante como quem vem do Marina em direção à Barra do Ceará. Eu ouvi o barulho e eles passaram voando bem baixo e logo que passaram eles começaram a subir. E nessa subida um deles perdeu força e começou a rodopiar e desapareceu por detrás das casas”.

Depois disso, reitera Mairton, foi uma correria generalizada, sobretudo, porque quem estava no local sabia que a queda ocorreu em uma área bastante residencial. “Nesse momento, minha mãe pegou um táxi, que nem era coisa tão fácil na época, e minha mãe nos colocou dentro para voltarmos para casa. Ela nos deixou na casa de uma amiga dela na Theberge e foi olhar o que havia ocorrido”.

A construção da Leste Oeste na década de 1970 veio junto à estruturação
de outras vias importantes de Fortaleza (Foto: Arquivo Nirez)
À noite, Mairton voltou para a casa. No dia seguinte, no domingo, foi ao local do acidente. “Tinha uma cratera bem grande. E eu lembro muito bem que do chão ainda saía uma fumaça. Eu até achei um pé de um ser humano, mostrei para o meu pai e os bombeiros recolheram”.

De acordo com ele, foi a maior tragédia que já testemunhou. Em 1987, Mairton mudou-se do Pirambu, mas a memória da trágica ocorrência o acompanha.

Conforme registro da imprensa da época, a ocorrência teve repercussão nacional. No dia, o prefeito Vicente Fialho suspendeu todas as festividades da inauguração da nova estrada. Jornais noticiaram também que houve falha técnica na operação do Xavante, o que teria provocado a queda.

A construção da Leste Oeste na década de 1970 veio junto à estruturação de outras vias importantes de Fortaleza. Foi na gestão de Vicente Fialho que avenidas como a Borges de Melo, Aguanambi, José Bastos também foram estruturadas.

A Avenida Leste Oeste vai da Av. Dom Manuel à Barra do Ceará (Foto: Kid Jr)
Uma das funções da Leste Oeste que tem cerca de era tornar mais rápida a ligação da zona industrial, como áreas da Avenida Francisco Sá com o Porto do Mucuripe. Além disso, a estruturação da via melhorou o acesso ao litoral oeste de Fortaleza.

“A Leste Oeste fez uma transformação muito grande na área. Na época, a rua na qual passava ônibus, era a rua em que eu morava. E nossa casa ficava no fim da linha. Para a gente que era criança, o mundo terminava ali. A gente não sabia o que vinha depois. Com a abertura fez-se a conexão da Barra do Ceará ao Mucuripe. Ampliou o nosso horizonte”, reforça Mairton.

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