Aeronave, que chegou a ser retida na Argentina, era pilotada por iraniano de um grupo classificado pelos EUA como organização terrorista.
Oficiais da Abin, o serviço secreto do governo brasileiro, operaram para que um Boeing registrado na Venezuela e pilotado por um integrante das forças de elite do governo iraniano não entrasse no espaço aéreo brasileiro no mês passado.
Vindo do México, o avião sobrevoou a América do Sul e pousou em Córdoba, na Argentina, em 6 de junho. Depois, seguiu para Buenos Aires, onde chegou a ser retido por decisão judicial. O episódio gerou desconforto político para o governo do presidente Alberto Fernández.
Oficialmente, a aeronave transportava peças de automóvel, mas havia a suspeita de que poderia haver armamentos a bordo.
Em um voo anterior, o mesmo Boeing fez um voo de Caracas, a capital da Venezuela, para a paraguaia Ciudad del Este, na tríplice fronteira com o Brasil e a Argentina. A região é conhecida por abrigar integrantes de grupos suspeitos de ligação com o terrorismo internacional, como o libanês Hezbollah.
O avião era pilotado por Gholamreza Ghasemi, ligado à Força Al-Quds, o grupo de elite da Guarda Revolucionária Iraniana, considerada pelo governo dos Estados Unidos como uma organização terrorista.
Ghasemi: Paraguai cravou que piloto é homem da Al-Quds
Além de Ghasemi, a tripulação do cargueiro 747 tinha outros quatro cidadãos iranianos e 14 venezuelanos. Antes de ser transferida para uma empresa venezuelana vinculada ao ditador Nicolás Maduro, a aeronave pertencia a uma companhia do Irã — os dois países mantêm relações estreitas e cooperam entre si nas áreas militar e de inteligência.
No mesmo “passeio” pela América do Sul, a aeronave tentou pousar no Uruguai e novamente no Paraguai, mas foi impedida pelos governos dos dois países.
As suspeitas sobre o voo misterioso aumentaram após a constatação de que, em parte do trajeto, o Boeing voou com o transponder desligado, o que dificulta o seu rastreamento.
Foi uma comunicação da inteligência paraguaia à Abin que deflagrou as medidas destinadas a impedir que o avião entrasse no Brasil.
O primeiro alerta foi feito ao representante do serviço secreto brasileiro em Assunção, que acionou Brasília. Na sequência, a Abin disparou um alerta para a FAB, a Força Aérea Brasileira.
Um documento da Abin ao qual a coluna teve acesso registra que, duas semanas antes da eclosão da guerra da Ucrânia, o mesmo Boeing pousou em Belarus, cujo território foi usado pela Rússia na invasão ao país vizinho. A viagem, supostamente para recolher ajuda humanitária para a Venezuela, foi lida por serviços secretos do Ocidente como mais um movimento estranho da aeronave.
Para além das suspeitas de que o avião estaria sendo usado para transportar armas para grupos terroristas, um eventual pouso no Brasil tinha potencial de gerar um incidente diplomático com os Estados Unidos, em razão dos embargos do país ao Irã e à Venezuela.
Via Rodrigo Rangel (Metrópoles)
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