No entorno, nada mudou, exceto pelo vazio deixado no lugar do prédio da TAM Express, que foi implodido. O prédio de 11 andares de um hotel que fica a apenas 500 metros da cabeceira da pista, que pilotos denunciaram à época por atrapalhar os pousos, permanece interditado, mas nenhum andar foi demolido, aguardando aguardando decisão judicial.
O relator da Comissão Parlamentar de Estudos (CPE) da Câmara Municipal, criada para levantar os principais problemas do aeroporto de Congonhas, acredita diz que as conexões e escalas deveriam continuar proibidas.
- Congonhas voltou a ser um centro de distribuição de vôos. Isso é um retrocesso não só para a cidade, mas para a aviação. As companhias aéreas pressionaram e o governo cedeu. Todo mundo sabe que Congonhas não pode ser usado como ponto de distribuição de vôos - diz o vereador Chico Macena (PT).
O relatório da Comissão Parlamentar de Estudos ficou pronto no início deste mês. Nele, há ainda outros alertas sobre as operações em Congonhas. Um deles é que existe falha na visibilidade na torre de comando. Ou seja: obras do próprio aeroporto dificultam a vida dos operadores e pilotos. De acordo com o documento, a recente ampliação do terminal de passageiros tirou dos controladores parte da visão do pátio de aeronaves, prejudicando a orientação do taxiamento dos aviões também após o pouso.
O plano diretor da cidade de São Paulo, que poderia limitar as construções ao redor do aeroporto, não entra no tema. O vereador Aurélio Nomura (PV), relator da proposta de plano diretor enviada à Câmara pela Prefeitura, diz que o texto é omisso em relação ao aeroporto e tampouco discute o Campo de Marte, outra pista de pouso no meio da cidade.
- Acredito que não foram exauridas todas as recomendações para o tipo de pista que tem Congonhas. Houve precipitação de voltar às condições anteriores ao acidente com o Airbus da TAM, apesar de serem mantidos 30 slots por hora. Tenho a convicção de que não foram atendidas todas as recomendações para o aeroporto - diz Graziella Baggio, presidente da entidade.
Com limite de 30 vôos por hora, o intervalo entre um avião e outro gira em torno de dois minutos, no limite da margem de segurança estabelecida à época do acidente. Esta, no entanto, é apenas uma média. Há casos em que a diferença entre um pouso e uma decolagem cai para apenas um minuto, aumentando o risco das operações. No fim da tarde de terça-feira, por exemplo, o intervalo de um minuto foi aferido pelo O Globo Online em pouso ou decolagem de oito aeronaves - a Anac diz que não há problema de Congonhas ter um vôo a cada minuto.
Nos horários de pico, a espera dentro dos aviões por um lugar na pista continua. Dois comissários que tinham acabado de chegar em Congonhas na manhã desta quarta-feira, provenientes do Rio de Janeiro, disseram que voltou a acontecer de os aviões terem de sobrevoar a cidade à espera de autorização para descer. Nos horários de pico, a espera é de 20 minutos, em média, praticamente metade do tempo que se gasta numa viagem normal entre São Paulo e Rio.
A tripulação, que desembarcou por volta de 11h, informou que, apesar de estar fora do horário de rush, teve de esperar 10 minutos no ar antes de receber autorização da torre para pousar. Antes disso, às 9h36m, um avião da Gol tentou pousar e teve de arremeter. A Infraero não informou o motivo. Visivelmente, a aeronave voava um pouco mais alto que as outras que desciam em Congonhas naquele momento. Fazia sol na capital paulista e o aeroporto operava normalmente.
Autorizada a operar apenas quatro vôos diários em Congonhas, a aviação geral - que são os jatos executivos e fretados - está tentando aumentar de novo seu limite de operações no aeroporto.
- Em Guarulhos podemos permanecer no máximo duas horas no pátio. Tem que deixar o passageiro e voar para outro aeroporto, como Jundiaí e até Ribeirão Preto. Está muito complicado, pois não existe outro aeroporto em São Paulo com as características de Congonhas e os demais não têm as mesmas condições técnicas - afirma.
Em Congonhas, os jatos executivos têm à disposição hangares particulares, que alugam o espaço da Infraero e realocam para este tipo de aeronave. Assim, eles não pagam a tarifa de permanência em pátio, como ocorre com a aviação comercial.
Adalberto Febeliano, presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral, afirma que a proibição de escalas e conexões nunca deu resultado.
- O único efeito prático foi entupir o balcão do check-in. Como era proibido trocar de avião na área interna, tinha de ser feito um novo check-in. Os passageiros desciam do avião, pegavam a bagagem e voltavam ao balcão para fazer novo embarque. Não adianta o estado querer tutelar o indivíduo - diz ele.
Para Febeliano, apesar da tragédia, Congonhas se mantém um aeroporto seguro.
- Quem dizia que tinha de diminuir vôos eram políticos e autoridades. Mesmo saturado, o aeroporto operava com segurança - diz ele.
George Sucupira, especialista em aviação civil, diz que Congonhas continua operando no limite de sua capacidade, e a tragédia da TAM demonstrou que operar no limite é um risco num aeroporto central, rodeado de prédios residenciais e comerciais.
Procurada, a Infraero não se pronunciou sobre o tema. Para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), não há problema no intervalo de um vôo a cada minuto.
- O espaçamento de um vôo para o outro nos aeroportos não é medido em tempo, mas pela distância em milhas. Agora, um minuto é totalmente seguro. Basta a pista estar livre, a distância ser segura e o aeroporto possuir o finger (ponte que liga o terminal de passageiro à porta do avião) - disse a Anac, por meio de sua assessoria de imprensa.