No início de agosto, apenas duas semanas após o acidente com avião da TAM em Congonhas, em São Paulo, que deixou 199 mortos, Sérgio Gaudenzi assumiu a Infraero. Dois meses e meio depois, o engenheiro baiano, 66 anos, ex-deputado federal e estadual, evita falar que a crise aérea tenha acabado, mas diz que a situação está controlada. Para o Rio de Janeiro, assegura que o Galeão terá investimentos de R$ 100 milhões em 2008.
Em entrevista ao O Dia, Gaudenzi afirma que a Infraero não fiscaliza ou determina a malha aérea. "A Infraero faz infra-estrutura aeroportuária", diz.
Quais são os problemas dos aeroportos do Rio?
"O mais urgente é o problema no Terminal 1 do Galeão, que vai passar por uma reforma completa. O terminal precisa de revisão de todos os sistemas: computação, água, luz, telefone, tudo. Tem que ser tudo novo. Parlamentares do Rio se uniram independentemente de partido para fazer uma emenda no Orçamento. Aí poderemos até completar o Terminal 2, e o Galeão fica em excelentes condições."
O valor da emenda já está determinado?
"Nossa idéia é algo em torno de R$ 100 milhões. Se não terminarmos ano que vem, faltará pouca coisa para 2009. Precisamos usar muito mais o Galeão, que está claramente subutilizado."
E o Santos Dumont?
"Pode faltar um ou outro pequeno retoque, mas a obra está pronta, e nossa engenharia não constatou pista escorregadia. Estamos trabalhando para fazer a licitação dos andares destinados à área comercial."
O que a Infraero fez para reduzir a crise aérea?
"Não determinamos a malha aérea e não fiscalizamos nem punimos empresas aéreas. A Infraero faz infra-estrutura aeroportuária. Temos que deixar pistas e pátios de estacionamento em condições e cuidar do embarque e o desembarque. Aí nós temos uma deficiência, porque o número de equipamentos de Raio X ainda é pequeno. Esta culpa é nossa. Mas muita coisa não depende de nós, é dos outros. Problema de malha, por exemplo, quando começa a embolar vôo no aeroporto e chega avião demais em horários não programados."
Qual o principal gargalo?
"Muito mais gente passou a viajar de avião, o que é bom. Hoje há passagens em promoção mais baratas que passagem de ônibus. Mas isso aconteceu muito rapidamente, houve uma explosão de demanda, no momento em que três órgãos não se entendiam muito bem."
Quais?
"A Agência Nacional de Avião Civil (Anac), que fiscaliza as empresas; a Infraero, que tem de prover a infra-estrutura; e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Dcea), que cuida do espaço aéreo. Junto com isso veio a crise no controle do tráfego aéreo, que desestruturou a malha. Tudo isso tumultuou o quadro durante um período razoável, mas com reuniões sucessivas a coisa foi se acomodando."
A crise acabou?
"Não. Nós conseguimos ultrapassar um momento difícil e agora estamos redistribuindo vôos, refazendo malhas e tentando colocar os aviões menos tempo no chão para liberar a vaga e a pista para outra aeronave. O problema está bem menor."
O que é preciso para estabilizar a situação de vez?
"Atenção, reuniões contínuas e ação na infra-estrutura. Precisamos de mais equipamentos nos aeroportos e de uma malha aérea mais bem estruturada. Em Brasília, por exemplo, o aeroporto fica quase às moscas das 11h30 às 17h30. De repente, às 18h, começa uma avalanche de gente. Não posso ter um equipamento que funciona só seis horas por dia."
Como o senhor analisa as seguidas denúncias de irregularidades na Infraero?
"Sobre o que já está na Justiça, a gente vai aguardar a decisão. Mas tenho certeza de que os preços usados como referência pelo Tribunal de Contas não são adequados a obras aeroportuárias. O grande problema está aí. Por isso, em qualquer licitação que fizermos vai aparecer o famoso 'sobrepreço'. O preço básico tomado para construção de um pátio de estacionamento de ônibus não pode ser usado para um pátio de aeronaves."
Como fiscalizar?
"Estamos aguardando uma tabela de referência aeroportuária da Caixa Econômica,que deve demorar pelo menos um ano. A sugestão é que, antes, a Infraero apresente uma 'tabela Infraero' que seja aceita no Tribunal de Contas. Nas obras de Vitória e Goiânia, reunimos uma pessoa do Tribunal de Contas, uma da Infraero e uma do consórcio vencedor, que abriram a planilha."
O senhor já foi deputado. Como analisa as críticas a nomeações políticas?
"Quando cheguei, estabeleci que todos os cargos seriam de carreira, até superintendente de regional. Disseram até que eu tinha feito demissões em massa. Mas demiti alguns por determinação da Controladoria-Geral da União. Não posso discutir com o órgão que controla isso. Devo ter demitido 40 pessoas e admitido 12. Mas dei absoluta autonomia a cada diretor para montar o time dele. Não recebi reclamação de partido, mas alguns deputados ligaram. Expliquei, eles entenderam."
Abertura de capital
Quando os problemas emergenciais dos aeroportos estiverem resolvidos, Gaudenzi pretende buscar o mercado externo. Ele acredita que a empresa tem experiência para disputar a administração de aeroportos em outros países. "Vamos tentar vender serviços lá fora. Há campo em países da América do Sul e da África. O Brasil é hoje o segundo país em aviação no mundo, só atrás dos Estados Unidos. Então, temos uma vocação para isso", afirmou.
Para embarcar na internacionalização, ele acha necessário abrir o capital da Infraero, permitindo a participação de investidores estrangeiros. A proposta é que o governo mantenha o controle das ações ordinárias, mas possibilite que outros acionistas influenciem na gestão. "Já ouvi muita gente do governo dizendo que essa é uma idéia boa. É preciso ter mais agilidade, trabalhando mais ou menos nos moldes da Petrobras, que não deixou de ser brasileira por ter se transformado em sociedade anônima".
Uma das principais qualidades da abertura do capital, segundo Gaudenzi, é a possibilidade de aumentar o controle sobre a eficiência da empresa. "Os grupos de acionistas exercem uma fiscalização permanente, porque ali está o dinheiro deles. Essa é a melhor fiscalização que existe", argumenta.
O presidente da Infraero defende a preservação do controle dos aeroportos que hoje são administrados pela Infraero. Ele se mostra crítico quanto à eficácia de simplesmente entregar algum dos 67 aeroportos à iniciativa privada. "Desses, 10 dão resultado e 57 são deficitários, mas essa população precisa do transporte. Alguém vai querer ficar com esses 57 que são deficitários? Porque, se for para querer só os 10, aí eu também quero. Vou juntar um grupo para ter um", ironizou.
Fonte: O Dia