Morador na Fazenda Baía do Pacu, em uma região isolada do Pantanal Sul, no município de Corumbá/MS, o menino Rafael de Oliveira só não perdeu a vida no dia 12 de maio deste ano graças a uma ação aérea emergencial. O garoto de seis anos foi picado no dorso do pé por uma cobra jararaca e seriam necessários pelos menos dois dias de viagem por terra para ser atendido na cidade mais próxima. O isolamento da propriedade pelas próprias condições da região não permitia a chegada de carros e aviões. E o pior: o veneno da cobra pode matar em até 20 horas. Graças a um comunicado da fazenda, via telefone, com a Base Aérea de Campo Grande, um helicóptero foi deslocado até a região – uma distância de 400 km – para resgatar o menino, que foi atendido a tempo no Hospital Rosa Pedrossian, na capital sul-mato-grossense.
Em 2007, fato semelhante aconteceu na Fazenda São Roque, no Pantanal do Rio Negro. Outro menino, também de seis anos de idade, foi picado por uma jararaca enquanto brincava em meio à lenha preparada para ir ao fogão, na cozinha da sede. Imediatamente, o proprietário da fazenda, José Lemos Monteiro, colocou o garoto em seu avião e, em aproximadamente 50 minutos a criança já estava sendo atendida no mesmo hospital, em Campo Grande/MS, depois de cobrir a distância de 225 km que separa a propriedade da capital sul-mato-grossense. “Não ficou seqüela nenhuma”, lembra, com alegria, o pecuarista.
Os dois fatos, por si só, justificam a importância do transporte aéreo na região do Pantanal. No primeiro, pelas condições de alagamento na região, não era possível o pouso de aviões e, caso não existisse a ação militar através de um helicóptero – que não exige pista para pouso e decolagem -, o final da história poderia ser outro. Já no ocorrido na Fazenda São Roque, a existência de um avião na propriedade e a ação do produtor rural foram mais do que providenciais. E não são casos isolados. A maioria das propriedades pantaneiras está localizada em distâncias mínimas entre 200 e 300 km de um hospital. Pelo menos durante metade do ano muitas ficam parcial ou totalmente ilhadas em função do período de cheia na região, impedindo o acesso por terra. O transporte por barco ou chalana, quando possível, pode levar dias.
“O avião é a principal arma para salvar vidas nas fazendas localizadas no Pantanal”, garante o experiente piloto Mauro Pinto Costa, com 45 anos de profissão e mais de 12 mil horas de vôo, a boa parte na região pantaneira. “Vários locais ficam meses sem acesso por automóvel. Em uma fazenda de um amigo meu, em Cáceres, no Mato Grosso, durante a cheia só a sede e a pista de pouso ficam fora do alcance das águas.
Hoje voando por hobby e, espaçadamente como instrutor particular, Costa vê uma estreita ligação entre a aviação e a região. “Até por questões de impacto ambiental este quadro não vai mudar, a não ser que construam estradas suspensas para atender todas as propriedades”, brinca.
Enquanto aguardava a hora para um vôo a partir do Aeroporto Municipal Santa Maria, em Campo Grande/MS, Costa lamentava o “encarecimento” do setor: “a utilização de aviões para diversos fins já foi muito mais intensa no Pantanal; hoje tudo encareceu muito; em 1968 a gasolina de avião custava metade do valor da gasolina comum, hoje (junho/2008) em Campo Grande, pago R$ 3,80 o litro”
O piloto critica também a atual “burocracia” para a aviação particular exigida pelo governo brasileiro, sobretudo a partir da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). ”As exigências são inumanas; gastamos uma fortuna em papel; é muito carimbinho e selinhos juntos; o volume de documentação é tanto que ocuparia quase a metade da capacidade do porta malas de um avião Paulistinha, que é de 10 quilos”, revela.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Ademar da Silva Júnior, não conta com avião particular e nem pela entidade, mas não escapa à sua utilização. Com visitas periódicas a 68 sindicatos rurais além de viagens para compromissos em Brasília e diversas cidades brasileiras, Júnior se vê obrigado, eventualmente, a contratar serviços de táxi aéreo para cobrir distâncias dentro do seu estado e chegar a regiões de difícil acesso. E por esta necessidade, reclama do custo do transporte aéreo: “a hora/vôo de um bimotor Sêneca está entre R$ 1,3 mil e R$ 1,4 mil; é muito caro”.
Sobre a utilização de aviões por produtores rurais com fazendas no Pantanal, o presidente da Famasul considera fundamental e necessário: “além de agilizar os negócios do pecuarista, trata-se de um instrumento em defesa da vida; no Pantanal é arriscado morrer se não tiver uma aeronave ou não puder contar com uma”.
Não existem informações totalmente fechadas sobre o número de propriedades rurais no Pantanal sul-mato-grossense, mas dados do IBGE datados de 31 de dezembro de 2006 apontam para 65.619 unidades rurais cadastradas no INCRA em todo o Mato Grosso do Sul. Como o Pantanal ocupa em torno de um terço da área total do Estado, é possível ter uma dimensão de uma eventual demanda por transporte aéreo na região.
Compra e venda de gado
O ex-pecuarista José Eduardo Rolim Júnior (conhecido como Zé Rolim) – possuía duas mil cabeças bovinas em uma fazenda no Pantanal do Nabileque – largou tudo para se dedicar a sua grande paixão: a aviação executiva rural. Com mais de seis mil horas de voo – 3.500 registradas – ele hoje é dono da Pan Táxi Aéreo e garante que a maior demanda para voos na região pantaneira sul-mato-grossense vem da compra e venda de gado. “A maioria dos produtores rurais embarca em Campo Grande e perto de 40% em seus próprios aviões; hoje cerca de 70% das pequenas aeronaves existentes no Mato Grosso do Sul voam para destinos no Pantanal”, conta.
Estes produtores, segundo ele, fazem parte de um grupo mais tecnificado: “são aqueles que compram macho na planície pantaneira para engordar na serra”. O preço da hora vôo em táxi aéreo, de acordo com Rolim, varia de R$ 800,00 a R$ 1.000,00 para o caso de transporte por monomotor.
É muito grande, segundo ele, o deslocamento aéreo por parte de pecuaristas de outras regiões brasileiras interessados em participar de leilões dentro do Pantanal ou mesmo negociar diretamente em uma fazenda. E motivos não faltam. O gado pantaneiro é considerado de alta qualidade e o rebanho é significativo – perto de seis milhões de cabeças só no Pantanal Sul.
A utilização da aviação “dentro da porteira” também é destacada por Rolim: “é uma ferramenta de trabalho de múltipla utilidade para o produtor pantaneiro; muitos dificilmente vêm para a cidade com o avião, preferindo utilizá-lo mais para o controle de seu rebanho e na inspeção periódica das condições de sua propriedade.”
Contar com uma aeronave no Pantanal, segundo o piloto-empresário, pode também significar a diferença entre a vida e a morte. “Por diversas vezes resgatei, nas fazendas, pessoas doentes, com hemorragias e que não teriam condições de sobreviver se não fossem atendidas em um hospital; isso sem falar nos casos gerados a partir de picadas de cobra”, comenta.
Mas outra demanda de transporte aéreo vem ocupando os pilotos dentro do Pantanal: o turismo rural. “Este ano já transportei diversos grupos para hotéis-fazenda; fecho o pacote todo, ou seja, transporto em determinada data e uma semana depois volto à fazenda e retorno com o grupo”, conta. De acordo com Rolim, estes passageiros são, na grande maioria das vezes, turistas estrangeiros – sobretudo europeus - que chegam ao Aeroporto Internacional de Campo Grande e dali mesmo embarcam em táxis aéreos rumo ao Pantanal.
Cenas folclóricas
Apesar de toda a sua experiência, Zé Rolim ainda se empolga com os contrastes e as situações geradas pela utilização do avião no bucólico e natural espaço do Pantanal. “Mesmo com toda a simplicidade e rusticidade do homem pantaneiro ele mantém seu aviãozinho na porta de casa, estacionado, como se fosse um jeep. Há 50 anos, pelo menos, é assim: uma ferramenta de trabalho essencial e eficiente, como um trator para o produtor rural das regiões de serra”
A “intimidade” do avião com o ambiente pantaneiro também parece ter contagiado animais nos rebanhos, dentro das propriedades. Rolim faz questão de contar um fato ocorrido em meados dos anos 80 na Fazenda Santo Antônio do Amolar, às margens do Rio Paraguai, em Corumbá/MS.
“Um monomotor Corisco ficou na fazenda de um dia para o outro; durante a noite, uma vaca e seu bezerro invadiram a pista do campo de pouso e os dois se acomodaram próximo ao avião. No dia seguinte fomos ver o resultado: o bezerro ‘mamou’ no trem de pouso até corroer uma parte dele e a vaca se coçou na asa direta, que ficou empenada. Tivemos de improvisar para conseguir decolar e levar a aeronave para os devidos reparos em Campo Grande”.
Instrumento de trabalho
O pecuarista Carlos de Castro Neto pilota há 32 anos e não abre mão de utilizar de seu avião para o trabalho no campo e para o deslocamento às cidades. Proprietário da Fazenda São Lourenço – mais de 25 mil hectares e rebanho superior a cinco mil cabeças – no Pantanal do Paiaguás (300 km de Coxim/MS, norte do Mato Grosso do Sul), ele garante que durante metade do ano não há outro meio de transporte para alcançar sua propriedade.
Recentemente Neto comprou até uma aeronave nova. Pagou R$ 180 mil em um monomotor Cessna que ele faz questão de cunhar como “ferramenta de trabalho”. Pela extensão de suas terras e pelo rebanho que tem, esta classificação é mais do que justificada. “Depois que os peões recolhem o gado e percebemos que faltam animais, sempre faço um sobrevôo para localizar os desgarrados e orientar os funcionários”, explica.
Mas além de atender as necessidades de seu trabalho e de sua propriedade, o avião de Neto acaba tendo uma utilização mais comunitária do que a prevista. “Meus vizinhos pantaneiros não possuem avião; portanto, quando há alguma emergência tenho de socorrê-los; se é preciso e necessário transporto acidentados por picada de cobra e mesmo mulheres em trabalho de parto ou com hemorragias”, admite.
Revoada Pantaneira
O dia-a-dia dos pilotos de avião no Pantanal, os bate-papos nos campos de pouso das fazendas e nos aeroportos e os causos de cada um, acabaram por gerar um encontro anual no Mato Grosso do Sul. A “Revoada Pantaneira” está em sua terceira edição – 25 a 27 de julho de 2008 – e acontece no aeródromo da Fazenda São Paulino, na região da Nhecolândia, município de Corumbá/MS.
O evento aeronáutico reúne pilotos civis e militares que operam no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Eles também recebem a visita de colegas de várias regiões do Brasil. Boa parte dos pilotos é formada também por produtores rurais. A pista, na fazenda, é toda de grama e conta com iluminação para operações noturnas de manobra, pouso e decolagem.
O local conta com opção de hospedagem em três níveis: apartamentos, apartamentos duplos (leito tipo beliche e banheiro conjugado) e camping (com barraca para duas pessoas). A organização oferece pensão completa e passeios.
Esta reportagem foi premiada como a melhor de jornalismo impresso no concurso Jornalismo Rural da Famasul/autor: Ariosto Mesquita.
Em 2007, fato semelhante aconteceu na Fazenda São Roque, no Pantanal do Rio Negro. Outro menino, também de seis anos de idade, foi picado por uma jararaca enquanto brincava em meio à lenha preparada para ir ao fogão, na cozinha da sede. Imediatamente, o proprietário da fazenda, José Lemos Monteiro, colocou o garoto em seu avião e, em aproximadamente 50 minutos a criança já estava sendo atendida no mesmo hospital, em Campo Grande/MS, depois de cobrir a distância de 225 km que separa a propriedade da capital sul-mato-grossense. “Não ficou seqüela nenhuma”, lembra, com alegria, o pecuarista.
Os dois fatos, por si só, justificam a importância do transporte aéreo na região do Pantanal. No primeiro, pelas condições de alagamento na região, não era possível o pouso de aviões e, caso não existisse a ação militar através de um helicóptero – que não exige pista para pouso e decolagem -, o final da história poderia ser outro. Já no ocorrido na Fazenda São Roque, a existência de um avião na propriedade e a ação do produtor rural foram mais do que providenciais. E não são casos isolados. A maioria das propriedades pantaneiras está localizada em distâncias mínimas entre 200 e 300 km de um hospital. Pelo menos durante metade do ano muitas ficam parcial ou totalmente ilhadas em função do período de cheia na região, impedindo o acesso por terra. O transporte por barco ou chalana, quando possível, pode levar dias.
“O avião é a principal arma para salvar vidas nas fazendas localizadas no Pantanal”, garante o experiente piloto Mauro Pinto Costa, com 45 anos de profissão e mais de 12 mil horas de vôo, a boa parte na região pantaneira. “Vários locais ficam meses sem acesso por automóvel. Em uma fazenda de um amigo meu, em Cáceres, no Mato Grosso, durante a cheia só a sede e a pista de pouso ficam fora do alcance das águas.
Hoje voando por hobby e, espaçadamente como instrutor particular, Costa vê uma estreita ligação entre a aviação e a região. “Até por questões de impacto ambiental este quadro não vai mudar, a não ser que construam estradas suspensas para atender todas as propriedades”, brinca.
Enquanto aguardava a hora para um vôo a partir do Aeroporto Municipal Santa Maria, em Campo Grande/MS, Costa lamentava o “encarecimento” do setor: “a utilização de aviões para diversos fins já foi muito mais intensa no Pantanal; hoje tudo encareceu muito; em 1968 a gasolina de avião custava metade do valor da gasolina comum, hoje (junho/2008) em Campo Grande, pago R$ 3,80 o litro”
O piloto critica também a atual “burocracia” para a aviação particular exigida pelo governo brasileiro, sobretudo a partir da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). ”As exigências são inumanas; gastamos uma fortuna em papel; é muito carimbinho e selinhos juntos; o volume de documentação é tanto que ocuparia quase a metade da capacidade do porta malas de um avião Paulistinha, que é de 10 quilos”, revela.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Ademar da Silva Júnior, não conta com avião particular e nem pela entidade, mas não escapa à sua utilização. Com visitas periódicas a 68 sindicatos rurais além de viagens para compromissos em Brasília e diversas cidades brasileiras, Júnior se vê obrigado, eventualmente, a contratar serviços de táxi aéreo para cobrir distâncias dentro do seu estado e chegar a regiões de difícil acesso. E por esta necessidade, reclama do custo do transporte aéreo: “a hora/vôo de um bimotor Sêneca está entre R$ 1,3 mil e R$ 1,4 mil; é muito caro”.
Sobre a utilização de aviões por produtores rurais com fazendas no Pantanal, o presidente da Famasul considera fundamental e necessário: “além de agilizar os negócios do pecuarista, trata-se de um instrumento em defesa da vida; no Pantanal é arriscado morrer se não tiver uma aeronave ou não puder contar com uma”.
Não existem informações totalmente fechadas sobre o número de propriedades rurais no Pantanal sul-mato-grossense, mas dados do IBGE datados de 31 de dezembro de 2006 apontam para 65.619 unidades rurais cadastradas no INCRA em todo o Mato Grosso do Sul. Como o Pantanal ocupa em torno de um terço da área total do Estado, é possível ter uma dimensão de uma eventual demanda por transporte aéreo na região.
Compra e venda de gado
O ex-pecuarista José Eduardo Rolim Júnior (conhecido como Zé Rolim) – possuía duas mil cabeças bovinas em uma fazenda no Pantanal do Nabileque – largou tudo para se dedicar a sua grande paixão: a aviação executiva rural. Com mais de seis mil horas de voo – 3.500 registradas – ele hoje é dono da Pan Táxi Aéreo e garante que a maior demanda para voos na região pantaneira sul-mato-grossense vem da compra e venda de gado. “A maioria dos produtores rurais embarca em Campo Grande e perto de 40% em seus próprios aviões; hoje cerca de 70% das pequenas aeronaves existentes no Mato Grosso do Sul voam para destinos no Pantanal”, conta.
Estes produtores, segundo ele, fazem parte de um grupo mais tecnificado: “são aqueles que compram macho na planície pantaneira para engordar na serra”. O preço da hora vôo em táxi aéreo, de acordo com Rolim, varia de R$ 800,00 a R$ 1.000,00 para o caso de transporte por monomotor.
É muito grande, segundo ele, o deslocamento aéreo por parte de pecuaristas de outras regiões brasileiras interessados em participar de leilões dentro do Pantanal ou mesmo negociar diretamente em uma fazenda. E motivos não faltam. O gado pantaneiro é considerado de alta qualidade e o rebanho é significativo – perto de seis milhões de cabeças só no Pantanal Sul.
A utilização da aviação “dentro da porteira” também é destacada por Rolim: “é uma ferramenta de trabalho de múltipla utilidade para o produtor pantaneiro; muitos dificilmente vêm para a cidade com o avião, preferindo utilizá-lo mais para o controle de seu rebanho e na inspeção periódica das condições de sua propriedade.”
Contar com uma aeronave no Pantanal, segundo o piloto-empresário, pode também significar a diferença entre a vida e a morte. “Por diversas vezes resgatei, nas fazendas, pessoas doentes, com hemorragias e que não teriam condições de sobreviver se não fossem atendidas em um hospital; isso sem falar nos casos gerados a partir de picadas de cobra”, comenta.
Mas outra demanda de transporte aéreo vem ocupando os pilotos dentro do Pantanal: o turismo rural. “Este ano já transportei diversos grupos para hotéis-fazenda; fecho o pacote todo, ou seja, transporto em determinada data e uma semana depois volto à fazenda e retorno com o grupo”, conta. De acordo com Rolim, estes passageiros são, na grande maioria das vezes, turistas estrangeiros – sobretudo europeus - que chegam ao Aeroporto Internacional de Campo Grande e dali mesmo embarcam em táxis aéreos rumo ao Pantanal.
Cenas folclóricas
Apesar de toda a sua experiência, Zé Rolim ainda se empolga com os contrastes e as situações geradas pela utilização do avião no bucólico e natural espaço do Pantanal. “Mesmo com toda a simplicidade e rusticidade do homem pantaneiro ele mantém seu aviãozinho na porta de casa, estacionado, como se fosse um jeep. Há 50 anos, pelo menos, é assim: uma ferramenta de trabalho essencial e eficiente, como um trator para o produtor rural das regiões de serra”
A “intimidade” do avião com o ambiente pantaneiro também parece ter contagiado animais nos rebanhos, dentro das propriedades. Rolim faz questão de contar um fato ocorrido em meados dos anos 80 na Fazenda Santo Antônio do Amolar, às margens do Rio Paraguai, em Corumbá/MS.
“Um monomotor Corisco ficou na fazenda de um dia para o outro; durante a noite, uma vaca e seu bezerro invadiram a pista do campo de pouso e os dois se acomodaram próximo ao avião. No dia seguinte fomos ver o resultado: o bezerro ‘mamou’ no trem de pouso até corroer uma parte dele e a vaca se coçou na asa direta, que ficou empenada. Tivemos de improvisar para conseguir decolar e levar a aeronave para os devidos reparos em Campo Grande”.
Instrumento de trabalho
O pecuarista Carlos de Castro Neto pilota há 32 anos e não abre mão de utilizar de seu avião para o trabalho no campo e para o deslocamento às cidades. Proprietário da Fazenda São Lourenço – mais de 25 mil hectares e rebanho superior a cinco mil cabeças – no Pantanal do Paiaguás (300 km de Coxim/MS, norte do Mato Grosso do Sul), ele garante que durante metade do ano não há outro meio de transporte para alcançar sua propriedade.
Recentemente Neto comprou até uma aeronave nova. Pagou R$ 180 mil em um monomotor Cessna que ele faz questão de cunhar como “ferramenta de trabalho”. Pela extensão de suas terras e pelo rebanho que tem, esta classificação é mais do que justificada. “Depois que os peões recolhem o gado e percebemos que faltam animais, sempre faço um sobrevôo para localizar os desgarrados e orientar os funcionários”, explica.
Mas além de atender as necessidades de seu trabalho e de sua propriedade, o avião de Neto acaba tendo uma utilização mais comunitária do que a prevista. “Meus vizinhos pantaneiros não possuem avião; portanto, quando há alguma emergência tenho de socorrê-los; se é preciso e necessário transporto acidentados por picada de cobra e mesmo mulheres em trabalho de parto ou com hemorragias”, admite.
Revoada Pantaneira
O dia-a-dia dos pilotos de avião no Pantanal, os bate-papos nos campos de pouso das fazendas e nos aeroportos e os causos de cada um, acabaram por gerar um encontro anual no Mato Grosso do Sul. A “Revoada Pantaneira” está em sua terceira edição – 25 a 27 de julho de 2008 – e acontece no aeródromo da Fazenda São Paulino, na região da Nhecolândia, município de Corumbá/MS.
O evento aeronáutico reúne pilotos civis e militares que operam no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Eles também recebem a visita de colegas de várias regiões do Brasil. Boa parte dos pilotos é formada também por produtores rurais. A pista, na fazenda, é toda de grama e conta com iluminação para operações noturnas de manobra, pouso e decolagem.
O local conta com opção de hospedagem em três níveis: apartamentos, apartamentos duplos (leito tipo beliche e banheiro conjugado) e camping (com barraca para duas pessoas). A organização oferece pensão completa e passeios.
Esta reportagem foi premiada como a melhor de jornalismo impresso no concurso Jornalismo Rural da Famasul/autor: Ariosto Mesquita.
Fonte: Midiamax - Foto: cpap.embrapa.br
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