Tempo de espera ultrapassa uma hora no maior aeroporto do Brasil, cujo movimento cresceu acima de 20% no ano
O casal de médicos gaúchos Sandro e Roberta Laste passou apressado pelas portas automáticas do desembarque internacional do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, por volta das 7 horas do último dia 16. Foram pouco mais de oito horas de viagem entre Miami (EUA) e a cidade paulista e ainda faltava um voo até Porto Alegre, o destino final. Mas não foi a janela entre os voos que apertou os passos do casal.
O corre-corre foi provocado pelas longas filas que os dois encontraram no processo do desembarque em Cumbica. “Perdemos uma hora e meia”, diz Sandro Laste. Segundo o médico, "umas mil pessoas" se espremiam nas esteiras para retirarem suas bagagens. As filas também eram observadas nos guichês da Polícia Federal e da Alfândega. “Nossa infraestrutura aeroportuária é precária. A população cresceu, os tumultos aumentaram, mas a infraestrutura não mudou”, afirma o médico.
Não é apenas na percepção dos passageiros que o movimento no aeroporto está maior. As estatísticas comprovam isso. De janeiro a julho deste ano, o Aeroporto Internacional de Guarulhos recebeu 5,81 milhões de passageiros em voos internacionais, segundo dados da Superintendência de Planejamento e Gestão da Infraero, responsável pela administração dos aeroportos brasileiros. O movimento dos sete primeiros meses do ano é 23% maior que o observado em igual período do ano passado.
“Está uma bagunça coletiva. É uma falta de estrutura. Para pegar as malas é um transtorno”, complementa a professora Ana Lúcia Cabral, que chegava de Paris, após uma viagem de 15 dias de trabalho. Ela diz ter perdido três horas no processo de desembarque. “Uma hora a mais que o normal”, completa.
Os dentistas Adriane e Gláucio Soares, que costumam ir para Europa pelo menos uma vez por ano, disseram que as filas no aeroporto estão maiores que de costume. “Tinha bastante fila. Esperamos por mais de uma hora para desembarcar”, diz Gláucio. “Quando chegam vários aviões ao mesmo tempo, fica tudo muito apertado”, afirma Adriane.
Passo a passo
Quando descem da aeronave, os passageiros de voos internacionais têm algumas etapas a percorrer antes de cruzarem as portas automáticas do desembarque. A primeira delas é a fila da Polícia Federal, onde acontece conferência dos documentos. Divididos entre brasileiros e estrangeiros, as pessoas que chegam ao País enfrentam filas que se desenrolam ao longo do saguão do desembarque. Há relatos de que passageiros tenham ficado retidos dentro do avião para evitar o caos no espaço destinado à checagem do passaporte.
Em seguida, o passageiro vai retirar as malas, nas esteiras. Ali, a aglomeração chega a gerar confusões e muitas reclamações. "É um empurra-empurra para pegar as malas. O aeroporto no comporta mais tanta gente", diz o comerciante Cláudio Silva, que chegou de Miami e ainda iria para Fortaleza.
Depois disso, os passageiros têm a opção de entrarem na loja do Free Shop, onde podem comprar produtos importados livres da cobrança de impostos. Mais uma vez, é inevitável encarar longas filas. "Estava com dois perfumes na mala, mas desisti. Estava relativamente organizado, mas a fila era enorme, com umas 100 pessoas", diz a representante de health care Audrey Nicolini, que veio de Miami para participar de um casamento em São Paulo. Embora os perfumes tenham ficado, o presente do casal estava garantido: um jogo de panelas comprado nos Estados Unidos.
Na última etapa de desembarque, os passageiros passam pela fiscalização da Receita Federal para declararem os bens que trouxeram do exterior.
PreocupaçãoO comerciante Claudio Silva mostra-se preocupado com a situação, especialmente pelos eventos que o País vai sediar nos próximos anos, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. "Falamos em Copa do Mundo, mas, se fizermos um campeonato mirim com dez seleções no teremos infraestrutura no aeroporto, diz Silva, que esperou mais de uma hora para desembarcar em São Paulo. "A espera não é o problema, mas a falta de organização, sim", diz.
Já o empresário Nilton Silva, que mora em Orlando (EUA), e veio ao Brasil para férias de 45 dias em Porto Alegre e Fortaleza, não tem do que reclamar. “[O movimento] está normal. Não está nada problemático. No vi diferença entre Cumbica e Orlando”, afirma.
Fonte: Klinger Portella (iG) - Foto: Guilherme Lara Campos/Fotoarena