A maneira de fazer um avião decolar evoluiu com o tempo. Desde os acionamentos manuais, com os gritos de "contato", até os sistemas eletrônicos atuais, cada um refletia a realidade de seu tempo e de cada máquina.
A partir da década de 1930, alguns modelos passaram a utilizar um método um pouco fora do usual para os padrões atuais para serem ligados. Com o passar dos anos, aeronaves como o Hawker Typhoon, English Electric Canberra e o Supermarine Spitfire tiveram seu acionamento desenvolvido para ser feito com um "tiro" de um cartucho explosivo.
Esse dispositivo é bem similar ao cartucho de uma espingarda calibre 12, mas com uma potência maior e sem o projétil metálico. Esse cartucho utilizado era preenchido com cordite, um explosivo similar à pólvora comum, e que fornecia a energia para o motor começar a girar quando acionado.
Esse sistema se destacou à época por ser fácil de usar e tornar o acionamento do avião mais rápido, o que é fundamental na aviação militar.
Funcionamento
Como nos motores de um carro, é preciso um impulso inicial para o motor a combustão começar a funcionar. Nos automóveis, isso é feito geralmente por um motor de partida elétrica. Nos aviões, é possível utilizar, além de um sistema elétrico, o acionamento manual, com ar comprimido ou com esse mecanismo explosivo.
Ele é chamado de Coffman Starter, ou sistema de partida Coffman. Com a ignição do conteúdo do cartucho, os gases se expandem e acionam um sistema de engrenagens ligado ao eixo do motor, que o faz começar a girar quando acionado.
É como o motor de partida do carro, só que, no lugar da eletricidade, ele é acionado e começa a rodar com os gases da queima do conteúdo do cartucho.
Todo o acionamento era feito pelo piloto, que, com um sinal elétrico diretamente da cabine de comando poderia iniciar a queima da cordite e acionar o motor.
Foi alternativa à partida elétrica
Esse mecanismo de arranque foi batizado em homenagem ao seu criador, Roscoe Alexander Coffman, que o desenvolveu no começo dos anos 1930. Ele se mostrava uma alternativa aos motores de partida elétrica, já que, em áreas mais remotas, poderia não haver eletricidade ou baterias reservas caso a instalada no avião falhasse.
Além disso, as baterias necessárias à época para iniciar os aviões maiores eram muito grandes e pesadas. Isso aumentava o peso da aeronave, o que tornava a operação mais custosa. Não há registros do Coffman Starter em aviões comerciais. Ele é encontrado, principalmente, em aviões militares do meio do século passado.
Os cartuchos eram acomodados em uma espécie de culatra, como o tambor de uma arma, e eram acionados de acordo com a necessidade de partida do avião.
Uso cresceu quando aviões ficaram maiores
Esse sistema foi ganhando espaço com o passar dos anos, com o aumento do tamanho dos motores. No início, os aviões eram menores, e dava para serem acionados manualmente, ou com menos energia das baterias.
Após um certo tempo, isso se tornou impraticável, sendo necessário desenvolver outro jeito de ligar o avião. Como seu uso tornava o acionamento da aeronave mais rápido do que outras maneiras à época, ele se mostrou vantajoso no meio militar.
Como os aviões que utilizavam o sistema ficavam prontos para decolar mais rapidamente, essa funcionalidade foi usada como um trunfo durante a Guerra Fria (1947-1989). Isso servia para demonstrar a superioridade das forças aéreas dos países envolvidos na disputa em caso de emergência ou retaliação.
Foi usado também em tratores
O sistema de arranque Coffman não servia apenas para aviões. Sua funcionalidade acabou sendo levada para o acionamento de motores a diesel em alguns tratores e outros motores mais pesados.
No filme O Voo da Fênix (1965, com refilmagem em 2004), é possível entender o uso do dispositivo e sua importância. Na história, um avião que caiu no meio do deserto tem de voltar a funcionar e, junto a todas as outras dificuldades, não há muitas cargas para dar ignição no motor.
Por Alexandre Saconi (UOL)
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