O presidente da Polônia, Lech Kaczynski, de 60 anos, morreu neste sábado (10) em um acidente aéreo quando seguia para a Rússia para participar de uma cerimônia em homenagem às vítimas da batalha de Katyn.
Kaczynski tinha suavizado nos últimos tempos seu perfil de euroescético que sacudiu à União Europeia.
Ele assumiu a presidência em 2005, após uma carreira política feita em parceria com seu irmão gêmeo, Jaroslaw, que era "45 minutos mais velho."
Kaczynski perdeu a vida com a queda do Tupolev 154 em que viajava em companhia da mulher, Maria, e uma delegação polonesa de 88 pessoas.
Kaczynski e os demais passageiros morreram após o incêndio da aeronave, quando o avião tocou a pista do aeroporto.
A morte ocorre em uma data de extrema importância nas relações entre a Varsóvia e Moscou. Neste sábado, os dois países dariam um passo adiante rumo à superação das divergências do passado.
Lech Kaczynski havia suavizado o tom nos últimos anos, desde que seu irmão Jaroslaw deixou o cargo de primeiro-ministro, em 2007, ao ser derrotado pelo liberal Donald Tusk.
Juntos, um na chefia do Estado e o outro na do Governo, os irmãos repartiram a cúpula do poder na Polônia.
Jaroslaw é considerado o autêntico artífice e a versão mais radical do partido Direito e Justiça com o qual Lech chegou à Presidência no segundo turno das eleições realizadas em 23 de novembro de 2005, nas quais venceu Rusk.
Kazcynski representava a via do "Estado forte", de tônica nacionalista, frente a um Tusk conciliador e europeísta. Jaroslaw desempenhava a função de dirigente do partido, enquanto Lech assumiu a luta pela Presidência.
Nascidos em 18 de junho em Varsóvia, os gêmeos Lech e Jaroslaw estrearam, antes de ganharem destaque na política, no cinema. Aos 12 anos, foram alçados ao estrelado como personagens principais do filme baseado num conto "Os dois que roubaram a lua".
O filme, uma narração sobre dois irmãos que decidem roubar a lua, foi rodada em 1962, pelo diretor Jan Batory e foi, durante muitos anos, o filme infantil de maior sucesso na Polônia.
Lech começou como membro do comitê de defesa dos operários criado pelo dissidente comunista Jacek Kuron em 1976 para ajudar aos trabalhadores expulsos de suas empresas pela ditadura após as greves de Radom e Ursus.
O comitê arrecadava recursos para pagar os advogados dos operários presos e ajudar suas famílias em dificuldades financeiras.
Quando surgiu o sindicato Solidariedade, liderado por Lech Walesa após as grandes greves do verão de 1980, Lech Kaczynski uniu-se ao protesto com grande energia.
Após a proclamação da lei marcial pelo general Wojciech Jaruzelski, Lech Kaczynski, assim como milhares de poloneses, continuou a luta pela democracia na clandestinidade organizando protestos, colaborando na impressão e distribuição de panfletos.
Ele chegou a ser confinado e liberado ao final de 11 meses e tornou-se, com o irmão, um colaborador importante do líder histórico do primeiro sindicato livre do mundo comunista, Walesa, de quem acabou se distanciando nos anos 1990.
Em 1989, por ordem de Jaruzelski, os representantes do poder começaram a negociar a transição com os representantes da oposição democrática, liderados por Walesa, Kaczynski foi um dos negociadores mais ativos no capítulo relacionado ao restabelecimento da legalidade do sindicato Solidariedade.
Já na democracia e após o triunfo de Walesa nas eleições presidenciais de 1990, Kaczynski ocupou a chefia do Escritório de Segurança Nacional adjunta à Presidência e mais tarde foi presidente da Câmara Suprema de Controle (Tribunal de Contas).
Em 1999, foi nomeado ministro da Justiça pelo então primeiro-ministro, Jerzy Buzek, e em 2001 tornou-se prefeito de Varsóvia, cargo que o alçou a conquista de seu principal objetivo, a presidência.
Em sua campanha presidencial, ele ressaltou seus vínculos com a Polônia tradicional e católica confirmada por sua atitude intolerante. Como prefeito da capital polonesa proibiu passeatas de igualdade organizadas pelos homossexuais.
Sucessor do social-democrata Aleksander Kwasniewski na presidência, Kaczynski defendia a reconciliação com a Alemanha e a Rússia, ao mesmo tempo em que explorava o temor ainda sentido por alguns populares pelos dois grandes vizinhos.
Também defendia uma profunda reforma da Polônia com base "na justiça, na solidaridade e na honra".
Mas, depois da ratificação do Tratado de Lisboa, protagonizou uma dura queda-de-braço com a chanceler Angela Merkel, durante a Presidência rotativa alemã da UE, até que finalmente assinou o tratado, em 10 de outubro de 2009 em Varsóvia.
Com o passar dos anos na Presidência e a saída de seu gêmeo do primeiro escalação de Governo, Kaczynski suavizou nos últimos tempos sua postura em relação à União Europeia e à vizinha Alemanha, salvo pontuais discordâncias pelas nunca totalmente superadas diferenças históricas.
O casal Lech e Maria Kaczynski deixa uma filha, Marta.
Fonte: G1 (com agências internacionais) - Foto: AP
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