sábado, 12 de julho de 2008

Polícia Científica descarta falha mecânica em manetes de avião da TAM

Exames conduzidos por peritos registraram 1,8 mil imagens do equipamento.

Um dos manetes permaneceu em posição de aceleração durante pouso.


O laudo do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Científica de São Paulo, que apura as causas do acidente da TAM em 17 de julho passado, ainda não concluiu por que o motor direito da aeronave permaneceu acelerando na hora do pouso no Aeroporto de Congonhas, enquanto o esquerdo desacelerava.

Escombros do prédio da TAM Express atingido em julho de 2007 pelo Airbus A320

Entretanto, o perito criminal Antônio Nogueira, responsável pelo laudo do IC, tem ao menos uma certeza: não houve falha mecânica nos manetes (sistema que comanda a potência dos motores). “Nós fizemos muitos exames, radiografias, fusão de material, microscopia eletrônica, tomografia e nada ficou revelado (no sistema de manetes).”

Feitos com equipamentos cedidos pela Airbus, fabricante da aeronave, os exames foram realizados na França por uma equipe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticas (Cenipa), da Aeronáutica, segundo relato do perito criminal.

"Foram registradas 1,8 mil imagens dos manetes na tentativa de reconstituir o que ocorreu pouco antes do acidente, sem encontrar vestígios de falha mecânica", disse o perito que atuou com o Cenipa nesta fase investigatória.

Manetes

Quando pousou em Congonhas, às 18h50 de 17 de julho passado, a aeronave estava com um dos reversos (sistema de frei aerodinâmico do motor) inoperante (pinado).

Até fevereiro de 2007, a Airbus orientava, no caso de a aeronave estar com um dos reversos pinado, que os manetes fosssem passados de “climb” (acelaração) para “idle” (espécie de ponto morto) momentos antes da aterrissagem. Ao tocar a pista, o piloto deveria manter em “idle” o manete ligado ao reverso travado e levar o outro manete à posição “reverse”. Com isso, o avião ganharia 55 metros de pista, explica o perito.

Entretanto, essa orientação foi revista e, segundo Antônio Nogueira, a fabricante passou a sugerir aos pilotos que, antes do pouso, puxem os manetes da posição “climb” para “idle” e, na aterrissagem, posicionem os dois manetes na posição de reverso. Foi o que o comandante da aeronave fez ao pousar no mesmo dia em Porto Alegre.

Mas, de acordo com o perito criminal, devido a relatos de que a pista de Congonhas estava escorregadia, alguns pilotos decidiram adotar o procedimento anterior para ganhar 55 metros de pista.

“Provavelmente, como ele (piloto) estava acostumado a puxar os dois manetes até a posição de reverso e, de repente, tentou voltar para uma coisa que ele não se lembrava mais direito, em uma situação de ter apenas um reverso e a torre informando que a pista estava escorregadia... Vai ver que nesta situação, de muita informação negativa ao mesmo tempo, ele foi adotar o procedimento antigo e esqueceu uma (manete) lá em cima (‘climb’). Pode ter sido uma das causas”, avalia o perito criminal, que evita usar a expressão “erro humano”.

Gráficos elaborados a partir da caixa-preta de dados da aeronave mostram que, na hora do pouso, um manete permaneceu acelerando e o outro passou por “idle” e depois para “reverse”.

Culpa

O promotor criminal Mário Luiz Sarrubbo também avalia que a pista escorregadia do aeroporto e o pouso com um dos reversos inoperante podem ter levado o piloto a cometer um equívoco na hora da aterrissagem.

“Dentre os vários fatores que contribuíram (para o acidente), um deles seria o equívoco do posicionamento do manete de aceleração, levando em consideração o sistema inseguro que naquela oportunidade se apresentava”, diz o promotor criminal Mário Luiz Sarrubbo, que vê indício de culpa grave em “sete a dez pessoas”.

Fonte: G1 - Foto: Reuters

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