Demanda do mercado interno por aeronaves menores e maior custo desses modelos explicam o fato de grande parte da produção ter como destino o exterior.
Embraer registrou um volume de entregas de jatos comerciais e executivos 10% maior no 3º trimestre de 2022 em comparação com o mesmo período do anterior (Foto: Reuters/Denis Balibouse) |
A Embraer, fabricante brasileira de aviões, entregou mais de 8.000 aeronaves desde que foi fundada, em 1969. Segundo a companhia, mais de 90% de sua produção é exportada, sendo Estados Unidos e Europa os principais destinos.
Mas por que uma empresa brasileira tem esses resultados e mais vendas no exterior? Isso ocorre, de acordo com especialistas consultados pela CNN, porque o Brasil não tem um mercado de aviação regional como o dos países europeus ou dos EUA.
Nas rotas domésticas mais curtas – comuns por lá – o ideal são aeronaves de menor porte, como as fabricadas pela brasileira, que não têm mercado consumidor interno justamente porque o país não possui ampla malha aeroviária regional.
O custo dessas aeronaves também são maiores, outro ponto que favorece os compradores estrangeiros.
No Brasil, a principal compradora é a Azul, que afirmou à CNN ter recebido no ano passado 60 aeronaves ao todo.
Já as companhias aéreas GOL e Latam não contam aviões da Embraer em sua frota. A primeira depende de uma frota única da Boeing do modelo 737, enquanto a segunda conta com aeronaves Airbus e também da Boeing.
“Tudo começa pela demanda. Ao analisarmos as rotas, é importante verificar que as rotas da GOL e da Latam são maiores, que geralmente também dependem de aeronaves maiores para a realização do trajeto. Com a Azul, é diferente, e por isso a empresa utiliza mais as naves da Embraer”, explicou Cleveland Prates, professor da faculdade de Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas).
O especialista ressaltou que é preciso considerar o modelo de negócio de cada aérea, além das questões técnicas das aeronaves contratadas e das preferências por custo dos modelos que serão utilizados.
“Não adianta, por exemplo, querer colocar um Boeing para realizar uma rota muito curta, porque a performance dele não vai ser tão boa. A altitude desse tipo de aeronave é maior, então não seria o modelo mais adequado”, disse.
André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company e especialista em aviação, destacou que, como as naves da Embraer geralmente são menores, o custo por assento que elas geram às companhias é maior. E aí entra a demanda para viabilizar viagens de trajetos regionais menores e a disposição da empresa de acordo com o seu tamanho.
“Em mercados menos desenvolvidos, sensíveis a preço, esse tipo de viagem é complicado. Na Europa tem mais aviões do tamanho dos produzidos pela Embraer porque existe um mercado mais rico e historicamente mais acostumado com viagens regionais. Mas a aviação regional é mais cara porque tem um custo maior por passageiro devido à limitação de assentos”, pontuou.
Nos Estados Unidos, um dos principais destinos de vendas da Embraer assim como a Europa, existem subsídios para este tipo de viagem aérea local, o que fomenta o mercado de aviação e possibilita mais compras de aeronaves pelas empresas americanas, explicou Castellini.
Os especialistas ilustram esses tipos de viagens regionais que ocorrem com mais frequência no exterior como se aqui no Brasil existissem rotas de Ribeirão Preto (SP) para Cascavel (PR). E mais – como se a demanda para este tipo de viagem aérea fosse alta.
Para Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, a conjuntura desses fatores faz com que seja mais vantajoso para a Embraer exportar seus produtos, uma vez que o mercado internacional tem mais apetite para consumi-los.
“As companhias aéreas querem saber de custo, pois têm que apresentar resultado financeiro por assento. Então, naturalmente a Embraer acaba exportando mais”, destacou.
Segundo ele, este modelo de negócios pode mudar no médio e longo prazos, caso a Azul mantenha uma trajetória de crescimento e haja uma expansão da aviação civil para viagens regionais, com mais demanda por este tipo de locomoção aérea interna.
Via Fabrício Julião (CNN)
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