Houve uma época em que o self-made man Nenê Constantino, em roda de amigos, se vangloriava ao dar a receita do seu sucesso profissional, que começou como ajudante de caminhão para se tornar o maior do ramo de transportes no país, com uma frota de ônibus, além de ter fundado a Gol. Garantia que o segredo de todo o seu êxito consistia em uma receita muito simples: basta manter os pés no chão e os pneus no asfalto. Esqueceu de revelar que também costumava lançar mão da violência, recrutando pistoleiros para eliminar aqueles que contrariassem seus interesses.
Chegando aos 80 anos, o empresário, dono da maior frota de ônibus do Brasil e da segunda maior empresa aérea, nos últimos anos, deixou de ocupar espaço nas editorias de economia e virou personagem do noticiário policial. Suspeito de ser o mandante do assassinato de dois homens, foi indiciado pela polícia, tendo sua prisão decretada na quarta-feira, dia 21. Na noite da quinta-feira, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal negou um habeas corpus para que respondesse ao processo em liberdade. Seu genro e sócio, também acusado de ter participado do complô, foi preso, mas libertado dois dias depois.
Nenê, por decisão da desembargadora Sandra De Santis, “em face do precário estado de saúde do paciente”, responderá em liberdade domiciliar.
Acusado de encomendar os assassinatos de Márcio Leonardo de Sousa Brito, de 27 anos, que liderava mais de 100 invasores de uma enorme área da garagem Pioneira, uma das suas empresas, na QI 25, em Taguatinga Norte, além do caminhoneiro Tarcísio Gomes, 47 anos, em outubro e fevereiro de 2001, foi, a partir daí, que um Nenê Constantino diferente emergiu. Não se exercitava apenas mantendo os pés no chão e os pneus no asfalto. Também apreciava a lei do gatilho para resolver desavenças.
Por que tanta ira para encomendar esses crimes? De acordo com as investigações, uma das vítimas liderava um grupo que se recusava a deixar as moradias construídas nos lotes em que o terreno pertencente ao empresário foi transformado. Como um “capo di tutti capi”, o empresário, em liberdade, passou a intimidar testemunhas. De acordo com o promotor Bernardo de Urbano Resende, do Tribunal do Júri de Taguatinga, foram interceptadas conversas telefônicas muito comprometedoras, no final do ano passado.
Uma das testemunhas, a viúva de um ex-rodoviário, mais conhecido como Padim, teria recebido uma casa em Águas Lindas (GO), além da promessa de emprego a um filho, para afirmar que as duas mortes foram praticadas pelo seu então marido, que também era empregado da Planeta, outra empresa de Constantino, e que morreu de cirrose. O empresário, uma fera nos negócios, também demonstrou ferocidade nos seus métodos para afastar aqueles que atrapalham o seu caminho, no chão ou no asfalto.
Antes de vir à tona esse caso, que é muito grave, ele protagonizou uma cena de fúria assassina que estarreceu o país, em 25 de outubro de 2007, na Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), onde prestaria depoimento a respeito de uma investigação da Operação Aquarela, deflagrada pela Polícia Civil do DF, na qual o ex-governador Joaquim Roriz recebera um cheque de R$ 2,2 milhões, do Banco Regional de Brasília, de Nenê Constantino e que, segundo ele, serviria para comprar uma bezerra de R$ 300 mil e também ajudar financeiramente um primo.
Irritado com a presença de um fotógrafo, Alan Marques, da Folha de S. Paulo, que registrava o empresário na delegacia, agrediu-o, e, não satisfeito, pegou uma enorme pedra, perdendo completamente o controle. Demonstrou a intenção de praticar uma violência maior, que não chegou a consumar.
Apesar da truculência só agora revelada, Nenê Constantino tem uma privilegiada visão empresarial. Já era o maior proprietário de ônibus no país, com 40 empresas de transporte coletivo, possuindo mais de 10 mil veículos, quando resolveu, em 2001, investir no transporte aéreo (naquela época, só em São Paulo, seus ônibus transportavam 10% dos mais de 90 milhões de passageiros). Como uma espécie de Tio Patinhas, despojado, sempre usou relógios de plástico, comprado em camelô, e, durante muitos anos, circulava em Brasília dirigindo um LTD Galaxie, um calhambeque dos anos 70.Chegando aos 80 anos, o empresário, dono da maior frota de ônibus do Brasil e da segunda maior empresa aérea, nos últimos anos, deixou de ocupar espaço nas editorias de economia e virou personagem do noticiário policial. Suspeito de ser o mandante do assassinato de dois homens, foi indiciado pela polícia, tendo sua prisão decretada na quarta-feira, dia 21. Na noite da quinta-feira, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal negou um habeas corpus para que respondesse ao processo em liberdade. Seu genro e sócio, também acusado de ter participado do complô, foi preso, mas libertado dois dias depois.
Nenê, por decisão da desembargadora Sandra De Santis, “em face do precário estado de saúde do paciente”, responderá em liberdade domiciliar.
Acusado de encomendar os assassinatos de Márcio Leonardo de Sousa Brito, de 27 anos, que liderava mais de 100 invasores de uma enorme área da garagem Pioneira, uma das suas empresas, na QI 25, em Taguatinga Norte, além do caminhoneiro Tarcísio Gomes, 47 anos, em outubro e fevereiro de 2001, foi, a partir daí, que um Nenê Constantino diferente emergiu. Não se exercitava apenas mantendo os pés no chão e os pneus no asfalto. Também apreciava a lei do gatilho para resolver desavenças.
Por que tanta ira para encomendar esses crimes? De acordo com as investigações, uma das vítimas liderava um grupo que se recusava a deixar as moradias construídas nos lotes em que o terreno pertencente ao empresário foi transformado. Como um “capo di tutti capi”, o empresário, em liberdade, passou a intimidar testemunhas. De acordo com o promotor Bernardo de Urbano Resende, do Tribunal do Júri de Taguatinga, foram interceptadas conversas telefônicas muito comprometedoras, no final do ano passado.
Uma das testemunhas, a viúva de um ex-rodoviário, mais conhecido como Padim, teria recebido uma casa em Águas Lindas (GO), além da promessa de emprego a um filho, para afirmar que as duas mortes foram praticadas pelo seu então marido, que também era empregado da Planeta, outra empresa de Constantino, e que morreu de cirrose. O empresário, uma fera nos negócios, também demonstrou ferocidade nos seus métodos para afastar aqueles que atrapalham o seu caminho, no chão ou no asfalto.
Antes de vir à tona esse caso, que é muito grave, ele protagonizou uma cena de fúria assassina que estarreceu o país, em 25 de outubro de 2007, na Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), onde prestaria depoimento a respeito de uma investigação da Operação Aquarela, deflagrada pela Polícia Civil do DF, na qual o ex-governador Joaquim Roriz recebera um cheque de R$ 2,2 milhões, do Banco Regional de Brasília, de Nenê Constantino e que, segundo ele, serviria para comprar uma bezerra de R$ 300 mil e também ajudar financeiramente um primo.
Irritado com a presença de um fotógrafo, Alan Marques, da Folha de S. Paulo, que registrava o empresário na delegacia, agrediu-o, e, não satisfeito, pegou uma enorme pedra, perdendo completamente o controle. Demonstrou a intenção de praticar uma violência maior, que não chegou a consumar.
Há 10 anos, a sua fortuna, antes da Gol, era avaliada em R$ 1 bilhão. Consta que sua decisão de fundar a empresa aérea tinha como único objetivo concorrer com o arquiadversário e inimigo pessoal, Wagner Canhedo, na época, dono da Vasp, que concorria com ele no setor de transporte coletivo no Distrito Federal. Sempre sorridente, bonachão, é difícil, para as pessoas que o conhecem, assimilar a cruel realidade que as investigações policiais estão revelando, com fortes ingredientes de um folhetim eletrônico, no qual o vilão é descoberto só no final.
Nenê Constantino também tinha uma porção do rei Midas, transformando em ouro o que tocava. Tudo dava certo para ele, a começar pela primeira empresa conquistada, de bandeja, em Patrocínio, sua cidade natal. Depois de abandonar os estudos sem completar o primário, optando por trabalhar no pequeno armazém de um irmão mais velho, não demorou muito e passou a viajar para São Paulo, na boleia de um caminhão, comprando mercadorias para abastecer o negócio do irmão.
Sempre atento e de prontidão para os negócios, poucos anos depois, surgiu uma oportunidade de conseguir a concessão da linha rodoviária ligando Araguari a Patrocínio e Belo Horizonte, que pouco interesse despertara pelo fato de as estradas se encontrarem sem qualquer manutenção, com enormes crateras nos trechos. Comprou um ônibus para pagar a prazo e passou a ser empresário no setor de transporte coletivo. Aquele era um pequeno empresário que, com audácia, passou a comprar grandes empresas sem tirar um tostão do bolso.
Como algumas grandes fortunas no Brasil, empresas de seu grupo cresceram com monumentais dívidas de impostos. Para não recolher os tributos nos caixas, a desculpa frequente sempre foi a falta de repasse do dinheiro das passagens por parte da SPTrans, uma estatal responsável pelo gerenciamento do transporte público de São Paulo.
Antes de ocupar espaço na mídia nacional por protagonizar fatos policiais, Nenê Constantino e família chegaram a entrar para o fechadíssimo ranking dos biliardários da revista “Forbes”, donos de uma fortuna calculada em US$ 1,1 bilhão, apurado em 2006, com mais de 30 empresas de ônibus, a compra da Companhia Providência, bem como a participação na BR Vias, além do controle da Gol. A roleta começou a girar contra em 2007, com as empresas encontrando dificuldades, ao mesmo tempo em que o patriarca se envolvia em assuntos policialescos. Em 2008, o valor de mercado das empresas Gol e Providência despencou 36,7% em quatro meses. A queda registrada foi de R$ 9,8 bilhões para R$ 6,2 bilhões. A queda dos lucros também foi gigantesca: 65% em 2007.
Com a megalomania de atingir o topo, aventurou-se ao comprar a Varig, na ilusão de retomar o prestígio que a empresa aérea teve no passado, mas pagou um preço altíssimo por essa aventura. Para piorar a situação, a aviação comercial entrou em crise, com a redução das decolagens em Congonhas, mantendo rotas deficitárias.
O envolvimento do fundador de todo o grupo em casos policiais, principalmente a Gol, uma empresa que requer fé pública, tem sido prejudicial, causando fortes turbulências e inquietando seus investidores na Bolsa.
Fonte: Revista Brasilia Em Dia - Fotos: Wilson Dias (Abr) / Alan Marques (Ag. Folha)
Nenhum comentário:
Postar um comentário