domingo, 15 de março de 2009

Aéreas cobram "pechincha" por passagens para manter demanda

Bruce Hedlund, que pilota Boeings 767 em rotas transcontinentais nos Estados Unidos para uma das grandes linhas aéreas do país, é um daqueles pilotos afáveis que gostam de receber os passageiros à porta do avião e cumprimentá-los.

Certa noite recente, um homem entrou em seu vôo sem escalas de Miami a San Francisco carregando um bolo cremoso comprado em uma das lojas do terminal. "Eu estava com um pouco de fome, e por isso brinquei com o sujeito e perguntei se podia comer o doce", conta Hedlund. "Só se você me pagar US$ 3", respondeu o passageiro, fingindo indignação.

Hedlund retrucou: "tudo bem, mas lembre-se de que dentro de duas horas eu ainda vou estar faminto, e quando eu decidir aterrissar o avião em El Paso para um sanduíche, vou dizer a todo mundo qual é o número de seu assento, para que os passageiros saibam o motivo da parada imprevista no Texas".

Hoje em dia, as viagens aéreas nos deixam ansiosos e tensos. Por isso, algum senso de humor quanto às tarifas e taxas adicionais é bem vindo, especialmente quando um piloto finge que só está disposto a trabalhar se alguém lhe der comida.

Mas as taxas certamente ocupam os pensamentos dos passageiros. Sim, o preço das passagens está uma pechincha em muitas rotas, porque a demanda dos passageiros vem caindo mais rápido do que as frenéticas medidas que as linhas aéreas vêm adotando para reduzir sua capacidade. E temos também aquilo que só pode ser descrito como onda de liquidações, em muitas rotas internacionais, para as quais as linhas aéreas ampliaram muito sua capacidade nos últimos anos, crentes em que o crescimento nas viagens de negócios internacionais jamais cessaria.

Eu sempre cuidei sozinho de minhas reservas, e o processo jamais foi mais complicado do que agora. Pode demorar uma hora, com a ajuda de um computador e de um bloco de anotações, para descobrir de que maneira chegar daqui até lá. Para determinar o preço real de uma viagem, talvez seja necessária mais uma hora, se considerarmos as múltiplas tarifas adicionais por embarque de bagagem, comer um sanduíche a bordo, conseguir um assento com um pouco mais de espaço, obter o direito de escolher seu lugar, garantir prioridade na fila para o próximo vôo caso você perca uma conexão, check-in na entrada e a multa por alterar uma reserva.

Tudo que desejo saber é como chegar onde quero e quanto isso me custará. Embora as linhas aéreas claramente esperem que eu passe o dia todo em uma viagem de, digamos, Fort Lauderdale, na Flórida, a Nashville, no Tennessee, com conexão em Houston ou Denver, não estou disposto a dedicar grande parte de ainda mais um dia para descobrir como comprar a passagem.

Por isso, fiquei contente com o surgimento do que parecia ser uma genuína inovação em termos de reservas, na semana passada, quando o TripAdvisor, o site de serviços gerais de viagens controlado pela Expedia, introduziu uma função de busca que separa rapidamente vôos e variáveis, incluindo tarifas, conexões e até mesmo a organização do espaço interno do avião, com dados extraídos de uma ampla gama de agências de reservas online, entre as quais os sites das linhas aéreas e sites como Travelocity, Hotwire e Expedia.

Como o popular site Kayak.com, o novo serviço de assistência em viagens da TripAdvisor reúne e classifica dados de sites de reservas, e um usuário pode, em seguida, usar os links oferecidos para comprar sua passagem. O Kayak e outros sites conhecidos como serviços de metabuscas têm redes leais de usuários. Mas o TripAdvisor alega que sua calculadora de tarifas totais, bastante fácil de usar, é um grande fator de diferenciação, em um momento no qual tarifas podem acrescentar custo significativo ao preço de uma passagem, e além disso criar muita confusão.

Eu já testei o sistema algumas vezes, e ele me impressionou. Além de informações básicas sobre custos de passagens, minhas prioridades ao reservar um vôo envolvem escolha de lugar (eu prefiro ir a pé do que viajar no assento do meio), conexão e o tempo total que um trajeto qualquer vai requerer. Tentei uma viagem genérica de ida e volta entre Houston e Seattle e recebi 1,1 mil opções de preço e horários (a variação nas conexões explica o número elevado de escolhas). A maioria das passagens custava entre US$ 320 e US$ 420, mas havia algumas com custo total perto de US$ 1,2 mil.

Clicando na área de "estimativa de tarifas", o usuário pode escolher entre diversos opcionais - fones de ouvido, refeições a bordo e embarcar bagagens ou não. A depender das escolhas, a gama de passagens em oferta se reduz, cada qual com seu preço específico. Ao clicar em um vôo determinado, é possível ver que assentos estão disponíveis. O sistema é rápido e fácil de usar. (Por favor me digam se concordam, especialmente em comparação com outros sites.)

"Estamos trazendo mais clareza ao mercado, com transparência completa", disse Bryan Salzburg, gerente geral de novas iniciativas na TripAdvisor. Mais claridade e transparência no mercado? Vamos esperar que isso se torne uma tendência.

Fonte: Joe Sharkey (The New York Times) - Tradução: Paulo Migliacci - via Invertia

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