O Mars Science Laboratory (MSL), que deveria ser lançado em 2011, dois anos após a data planejada, enfrenta conflitos de lançamento
A próxima missão da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) à Marte agora tem mais um problema: encontrar uma data de lançamento. O Mars Science Laboratory (MSL), que deve ser lançado no final de 2011, dois anos depois da data planejada, enfrenta um conflito de lançamento com diversas outras missões que requerem o uso dos foguetes Atlas V e da plataforma de lançamento de Cabo Canaveral, na Flórida.
Encaixar o MSL no cronograma poderia requerer a compra de um foguete mais poderoso, uma reformulação no escudo de calor do aparelho (para acomodar velocidades de entrada mais altas), e a contratação de mais pessoal a fim de reduzir o intervalo entre os lançamentos. Tudo isso pode elevar em mais US$ 50 milhões o custo de uma missão cujo orçamento já subiu de US$ 1,6 bilhão a mais de US$ 2,2 bilhões.
A estratégia da Nasa para lidar com o estouro de custos não envolveria adiamento ou cancelamento de quaisquer das missões planejadas. Mas reduziria drasticamente a pesquisa e desenvolvimento do programa de exploração de Marte e resultaria em uma combinação das missões que a Nasa e a Agência Espacial Européia (ESA) planejam para o planeta em 2016.
Cientistas planetários endossaram o plano este mês, depois que funcionários da Nasa descreveram os problemas quanto a datas em uma reunião com um comitê de assessores.
Lançamentos a intervalos menores
Com peso de uma tonelada, o veículo de exploração de superfície será o maior a chegar a Marte. Armado com um bateria de dez instrumentos, ele buscará indícios de vida passada no planeta.
Em dezembro, a data original planejada para o lançamento, em 2009, foi adiada por dois anos. Isso deriva de problemas com motores e engrenagens, que não foram testados completamente para enfrentar o frio marciano.
O atraso significa que os engenheiros do projeto terão de trabalhar por mais tempo, mas por outro lado economizou custos no atual ano fiscal ao pôr fim a meses de horas extras no Laboratório de Propulsão a Jato, uma divisão da Nasa em Pasadena, Califórnia, onde o veículo está sendo montado.
"Francamente, em retrospecto eu gostaria de que alguém tivesse adiado o projeto 12 meses mais cedo", disse Edward Weiller, administrador associado da diretoria de missões científicas da Nasa.
Uma maneira de lidar com o problema é reduzir o intervalo entre lançamentos do Atlas V de 90 para 75 dias, diz James Green, diretor da divisão de ciência planetária da Nasa que cuida do problemático orçamento e cronograma do MSL.
Isso liberaria boa parte dos meses finais de 2011 para o lançamento. Mas uma das duas janelas para o lançamento do MSL, em outubro, deve ser usada para lançar a missão Juno, que estudará os campos magnético e gravitacional de Júpiter.
A janela de lançamento em outubro poderia ser estendida pela compra de uma versão mais poderosa e cara do Atlas V, mas isso exigiria testar a capacidade do escudo de calor do MSL para suportar entrada na atmosfera marciana a velocidade mais elevada, devido ao empuxo maior do foguete.
Se a janela fechar...
Uma segunda janela de lançamento para o MSL, em dezembro, parece favorável por outros motivos além de evitar o conflito com a missão Juno. Mas ela colocaria o MSL em rota diferente, que favoreceria pouso no hemisfério norte de Marte, onde a comunicação com a Terra seria mais fácil.
Isso pode resultar em reinício do debate sobre o local de pouso do MSL, depois que negociações anteriores reduziram as escolhas a apenas quatro pontos, três dos quais no hemisfério sul. "Há diversos bons locais, mas talvez devamos repensar o caso", disse Doug McCuistion, diretor do programa de Marte na Nasa.
O plano de Green para enfrentar o estouro de orçamento concentraria os danos no programa de Marte. O único outro impacto considerável e não relacionado a Marte seria o corte temporário de US$ 47 milhões no orçamento da missão Juno, mas essa verba forma uma reserva para cobrir contingências e deve ser restaurada em 2012.
As atuais missões a Marte, entre as quais os veículos Spirit e Opportunity, de superfície, não serão restringidas, diz Green. A missão Mars Atmosphere and Volatile Evolution (Maven), com lançamento marcado para 2013 e o objetivo de estudar a história da evolução atmosférica do planeta, tampouco seria afetada, até porque ela poderia oferecer um elo de retransmissão valioso para o MSL.
Os veículos orbitais em operação atualmente, como o Odyssey e o Mars Reconnaissance Orbiter, estarão no final de suas vidas úteis quando o MSL chegar.
Futuro hipotecado
Mas o maior impacto seria sobre o futuro do programa de exploração de Marte. Uma missão planejada para 2016 seria reduzida drasticamente. Só parcerias permitiriam que ela realizasse seu trabalho científico mais importante, diz Weiler, que antecipa cooperação entre Europa e Estados Unidos em futuras missões de exploração de Marte.
A ESA já adiou o lançamento de seu próximo veículo de superfície, o ExoMars, até 2016. Weiler diz que ele e o diretor científico da ESA, David Southwood, fecharam um acordo inicial para fundir as missões posteriores a 2016.
"É hora de jogar fora as bandeiras e assumir que, se queremos recolher amostras em Marte e trazê-las à Terra, será impossível fazê-lo sozinhos", disse Weiler sobre os planos de uma missão bilionária que deve acontecer na década de 2020. "Um bilhão de dólares já não compra muita coisa".
Fonte: Nature via Terra - Tradução: Paulo Migliacci - Imagem: NASA
Encaixar o MSL no cronograma poderia requerer a compra de um foguete mais poderoso, uma reformulação no escudo de calor do aparelho (para acomodar velocidades de entrada mais altas), e a contratação de mais pessoal a fim de reduzir o intervalo entre os lançamentos. Tudo isso pode elevar em mais US$ 50 milhões o custo de uma missão cujo orçamento já subiu de US$ 1,6 bilhão a mais de US$ 2,2 bilhões.
A estratégia da Nasa para lidar com o estouro de custos não envolveria adiamento ou cancelamento de quaisquer das missões planejadas. Mas reduziria drasticamente a pesquisa e desenvolvimento do programa de exploração de Marte e resultaria em uma combinação das missões que a Nasa e a Agência Espacial Européia (ESA) planejam para o planeta em 2016.
Cientistas planetários endossaram o plano este mês, depois que funcionários da Nasa descreveram os problemas quanto a datas em uma reunião com um comitê de assessores.
Lançamentos a intervalos menores
Com peso de uma tonelada, o veículo de exploração de superfície será o maior a chegar a Marte. Armado com um bateria de dez instrumentos, ele buscará indícios de vida passada no planeta.
Em dezembro, a data original planejada para o lançamento, em 2009, foi adiada por dois anos. Isso deriva de problemas com motores e engrenagens, que não foram testados completamente para enfrentar o frio marciano.
O atraso significa que os engenheiros do projeto terão de trabalhar por mais tempo, mas por outro lado economizou custos no atual ano fiscal ao pôr fim a meses de horas extras no Laboratório de Propulsão a Jato, uma divisão da Nasa em Pasadena, Califórnia, onde o veículo está sendo montado.
"Francamente, em retrospecto eu gostaria de que alguém tivesse adiado o projeto 12 meses mais cedo", disse Edward Weiller, administrador associado da diretoria de missões científicas da Nasa.
Uma maneira de lidar com o problema é reduzir o intervalo entre lançamentos do Atlas V de 90 para 75 dias, diz James Green, diretor da divisão de ciência planetária da Nasa que cuida do problemático orçamento e cronograma do MSL.
Isso liberaria boa parte dos meses finais de 2011 para o lançamento. Mas uma das duas janelas para o lançamento do MSL, em outubro, deve ser usada para lançar a missão Juno, que estudará os campos magnético e gravitacional de Júpiter.
A janela de lançamento em outubro poderia ser estendida pela compra de uma versão mais poderosa e cara do Atlas V, mas isso exigiria testar a capacidade do escudo de calor do MSL para suportar entrada na atmosfera marciana a velocidade mais elevada, devido ao empuxo maior do foguete.
Se a janela fechar...
Uma segunda janela de lançamento para o MSL, em dezembro, parece favorável por outros motivos além de evitar o conflito com a missão Juno. Mas ela colocaria o MSL em rota diferente, que favoreceria pouso no hemisfério norte de Marte, onde a comunicação com a Terra seria mais fácil.
Isso pode resultar em reinício do debate sobre o local de pouso do MSL, depois que negociações anteriores reduziram as escolhas a apenas quatro pontos, três dos quais no hemisfério sul. "Há diversos bons locais, mas talvez devamos repensar o caso", disse Doug McCuistion, diretor do programa de Marte na Nasa.
O plano de Green para enfrentar o estouro de orçamento concentraria os danos no programa de Marte. O único outro impacto considerável e não relacionado a Marte seria o corte temporário de US$ 47 milhões no orçamento da missão Juno, mas essa verba forma uma reserva para cobrir contingências e deve ser restaurada em 2012.
As atuais missões a Marte, entre as quais os veículos Spirit e Opportunity, de superfície, não serão restringidas, diz Green. A missão Mars Atmosphere and Volatile Evolution (Maven), com lançamento marcado para 2013 e o objetivo de estudar a história da evolução atmosférica do planeta, tampouco seria afetada, até porque ela poderia oferecer um elo de retransmissão valioso para o MSL.
Os veículos orbitais em operação atualmente, como o Odyssey e o Mars Reconnaissance Orbiter, estarão no final de suas vidas úteis quando o MSL chegar.
Futuro hipotecado
Mas o maior impacto seria sobre o futuro do programa de exploração de Marte. Uma missão planejada para 2016 seria reduzida drasticamente. Só parcerias permitiriam que ela realizasse seu trabalho científico mais importante, diz Weiler, que antecipa cooperação entre Europa e Estados Unidos em futuras missões de exploração de Marte.
A ESA já adiou o lançamento de seu próximo veículo de superfície, o ExoMars, até 2016. Weiler diz que ele e o diretor científico da ESA, David Southwood, fecharam um acordo inicial para fundir as missões posteriores a 2016.
"É hora de jogar fora as bandeiras e assumir que, se queremos recolher amostras em Marte e trazê-las à Terra, será impossível fazê-lo sozinhos", disse Weiler sobre os planos de uma missão bilionária que deve acontecer na década de 2020. "Um bilhão de dólares já não compra muita coisa".
Fonte: Nature via Terra - Tradução: Paulo Migliacci - Imagem: NASA
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