Tarifas em queda e custos em alta afastam investidores e papéis caem até 20%, apesar do cenário otimista para o setor
Uma combinação de aumento de custos de operação e queda das tarifas tem atrasado a decolagem das companhias aéreas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) neste ano. As ações de TAM e Gol lideram as perdas do Ibovespa, o principal índice da Bolsa, nos últimos três meses: o maior tombo é da TAM, que recua 20,3% até a última quinta-feira, enquanto a Gol perdeu 9,78% no período, um dos piores desempenhos. Em valor de mercado, as duas aéreas encolheram quase R$ 2 bilhões no trimestre.
Os analistas seguem apostando, no entanto, na recuperação dos papéis, especialmente após o balanço positivo da TAM divulgado na semana passada. Mas alertam aos investidores sobre a volatilidade dessas ações.
O tombo das aéreas tem surpreendido o mercado. Os papéis estavam na carteira de ações recomendadas de dez entre dez corretoras no início deste ano, ao lado de siderúrgicas, construtoras e bancos.
O cenário era de aumento do número de passageiros e alta na tarifa média praticada, no embalo da recuperação da economia. Mas a previsão se confirmou apenas em parte.
Felipe Rocha, da Link Investimentos, diz que o esperado aumento da tarifa de aviação ainda não aconteceu. Na verdade, o efeito é contrário. Números da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que o valor pago por um passageiro para voar um quilômetro no país — o chamado yield — caiu 17% desde dezembro de 2009, para R$ 0,40.
— No ano passado houve guerra tarifária entre as companhias e os preços médios recuaram. Mesmo assim, as ações das aéreas subiram porque analistas esperavam recuperação das tarifas neste ano. Mas, como isso ainda não aconteceu, investidores ficaram frustrados e venderam os papéis — afirma Rocha
Em Nova York, ADRs também acumulam queda As ações do setor subiram fortemente no ano passado, tanto TAM (100,16%) quanto Gol (163,17%). Seria natural, portanto, investidores aproveitarem o momento para embolsar os ganhos. Mas Rocha lembra que outras empresas também tiveram forte alta em 2009 e, mesmo assim, seguem com ganhos em 2010.
Além das tarifas, as empresas têm sido pressionadas pelo aumento da Querosene de Aviação Civil (QAV), item com maior peso nos custos da operação. O combustível valorizou-se 19% desde março do ano passado, puxado pela recuperação do preço do barril de petróleo no mercado internacional. O querosene representa algo como um terço dos custos.
Para Rocha, a cotação do petróleo não deve dar folga neste ano, oscilando entre US$ 80 e US$ 90. Por isso, as companhias aéreas tornam-se um investimento ainda incerto.
— O cenário das empresas de aviação é volátil, muda bem rápido. Tanto no Brasil quanto no exterior. Tem ainda a variável do câmbio. Elas têm custos que não conseguem controlar, mesmo que se protejam com mecanismos de mercado.
Em Nova York, as ADRs (American Depositary Receipts, espécie de recibos de ações negociados na Bolsa americana) também foram afetadas neste ano. As da TAM, por exemplo, acumulam uma queda de 23,36% neste ano. As da Gol têm perda de 16,62%.
Para Marco Saravalle, da Coinvalores, o avanço de pequenas companhias aéreas — como Azul e Webjet — tem incomodado, principalmente a TAM. A participação de mercado da empresa caiu de 49,8% para 42,4% na comparação entre fevereiro de 2010 e o mesmo mês do ano passado. Melhor adaptada ao modelo de baixo custo das novas aéreas, a Gol praticamente manteve seu market share.
Saravelle acredita na recuperação de Gol e TAM na Bovespa ao longo deste ano. Ele cita dois motivos para isso: as ações ficaram mais baratas, atraindo compradores, e as perspectivas de crescimento do setor são positivas: — Existe uma classe média crescente no Brasil que vai viajar de avião no mercado doméstico e pela América Latina — acrescenta.
Mais empresas do setor devem abrir capital Segundo a Anac, o mercado de aviação civil registrou um crescimento de 43% no número de passageiros transportados em fevereiro, na comparação com o mesmo mês de 2009. A Anac acredita que o setor terá uma alta de 10% ou mais do número das passagens emitidas neste ano.
Para Brian Moretti, da corretora Planner, o balanço divulgado pela TAM reforça o quadro. A empresa teve lucro líquido de R$ 143,9 milhões no quarto trimestre de 2009, invertendo o prejuízo de R$ 1,2 bilhão de um ano antes. Segundo ele, a TAM tornou-se a “melhor oportunidade” do mercado. A ação está na carteira da corretora e deve permanecer em abril.
— O mesmo vale para a Gol, que está melhor posicionada em termos de preços para atrair a nova classe média e crescer — afirma Moretti.
Na última quarta-feira, após a divulgação do balanço, as ações da TAM subiram 7,04%, cotadas a R$ 30,40. O desempenho puxou os papéis da rival Gol, que fecharam em alta de 2,67%, a R$ 22,30.
Nos próximos anos, os investidores devem ter mais opções de ações do setor. Segundo o diretor de marketing da Azul, Gianfranco Beting, a empresa não descarta realizar um IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês) entre 2011 e 2012. Ele afirma que a empresa não estabeleceu o IPO como meta e não tem dificuldade de caixa, mas reconhece a possibilidade.
— Os sócios da Azul sabem que o IPO é mais do que uma possibilidade, é um plano de médio prazo — diz Beting.
Fonte: Bruno Villas Bôas (Agência O Globo) via O Globo
Uma combinação de aumento de custos de operação e queda das tarifas tem atrasado a decolagem das companhias aéreas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) neste ano. As ações de TAM e Gol lideram as perdas do Ibovespa, o principal índice da Bolsa, nos últimos três meses: o maior tombo é da TAM, que recua 20,3% até a última quinta-feira, enquanto a Gol perdeu 9,78% no período, um dos piores desempenhos. Em valor de mercado, as duas aéreas encolheram quase R$ 2 bilhões no trimestre.
Os analistas seguem apostando, no entanto, na recuperação dos papéis, especialmente após o balanço positivo da TAM divulgado na semana passada. Mas alertam aos investidores sobre a volatilidade dessas ações.
O tombo das aéreas tem surpreendido o mercado. Os papéis estavam na carteira de ações recomendadas de dez entre dez corretoras no início deste ano, ao lado de siderúrgicas, construtoras e bancos.
O cenário era de aumento do número de passageiros e alta na tarifa média praticada, no embalo da recuperação da economia. Mas a previsão se confirmou apenas em parte.
Felipe Rocha, da Link Investimentos, diz que o esperado aumento da tarifa de aviação ainda não aconteceu. Na verdade, o efeito é contrário. Números da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que o valor pago por um passageiro para voar um quilômetro no país — o chamado yield — caiu 17% desde dezembro de 2009, para R$ 0,40.
— No ano passado houve guerra tarifária entre as companhias e os preços médios recuaram. Mesmo assim, as ações das aéreas subiram porque analistas esperavam recuperação das tarifas neste ano. Mas, como isso ainda não aconteceu, investidores ficaram frustrados e venderam os papéis — afirma Rocha
Em Nova York, ADRs também acumulam queda As ações do setor subiram fortemente no ano passado, tanto TAM (100,16%) quanto Gol (163,17%). Seria natural, portanto, investidores aproveitarem o momento para embolsar os ganhos. Mas Rocha lembra que outras empresas também tiveram forte alta em 2009 e, mesmo assim, seguem com ganhos em 2010.
Além das tarifas, as empresas têm sido pressionadas pelo aumento da Querosene de Aviação Civil (QAV), item com maior peso nos custos da operação. O combustível valorizou-se 19% desde março do ano passado, puxado pela recuperação do preço do barril de petróleo no mercado internacional. O querosene representa algo como um terço dos custos.
Para Rocha, a cotação do petróleo não deve dar folga neste ano, oscilando entre US$ 80 e US$ 90. Por isso, as companhias aéreas tornam-se um investimento ainda incerto.
— O cenário das empresas de aviação é volátil, muda bem rápido. Tanto no Brasil quanto no exterior. Tem ainda a variável do câmbio. Elas têm custos que não conseguem controlar, mesmo que se protejam com mecanismos de mercado.
Em Nova York, as ADRs (American Depositary Receipts, espécie de recibos de ações negociados na Bolsa americana) também foram afetadas neste ano. As da TAM, por exemplo, acumulam uma queda de 23,36% neste ano. As da Gol têm perda de 16,62%.
Para Marco Saravalle, da Coinvalores, o avanço de pequenas companhias aéreas — como Azul e Webjet — tem incomodado, principalmente a TAM. A participação de mercado da empresa caiu de 49,8% para 42,4% na comparação entre fevereiro de 2010 e o mesmo mês do ano passado. Melhor adaptada ao modelo de baixo custo das novas aéreas, a Gol praticamente manteve seu market share.
Saravelle acredita na recuperação de Gol e TAM na Bovespa ao longo deste ano. Ele cita dois motivos para isso: as ações ficaram mais baratas, atraindo compradores, e as perspectivas de crescimento do setor são positivas: — Existe uma classe média crescente no Brasil que vai viajar de avião no mercado doméstico e pela América Latina — acrescenta.
Mais empresas do setor devem abrir capital Segundo a Anac, o mercado de aviação civil registrou um crescimento de 43% no número de passageiros transportados em fevereiro, na comparação com o mesmo mês de 2009. A Anac acredita que o setor terá uma alta de 10% ou mais do número das passagens emitidas neste ano.
Para Brian Moretti, da corretora Planner, o balanço divulgado pela TAM reforça o quadro. A empresa teve lucro líquido de R$ 143,9 milhões no quarto trimestre de 2009, invertendo o prejuízo de R$ 1,2 bilhão de um ano antes. Segundo ele, a TAM tornou-se a “melhor oportunidade” do mercado. A ação está na carteira da corretora e deve permanecer em abril.
— O mesmo vale para a Gol, que está melhor posicionada em termos de preços para atrair a nova classe média e crescer — afirma Moretti.
Na última quarta-feira, após a divulgação do balanço, as ações da TAM subiram 7,04%, cotadas a R$ 30,40. O desempenho puxou os papéis da rival Gol, que fecharam em alta de 2,67%, a R$ 22,30.
Nos próximos anos, os investidores devem ter mais opções de ações do setor. Segundo o diretor de marketing da Azul, Gianfranco Beting, a empresa não descarta realizar um IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês) entre 2011 e 2012. Ele afirma que a empresa não estabeleceu o IPO como meta e não tem dificuldade de caixa, mas reconhece a possibilidade.
— Os sócios da Azul sabem que o IPO é mais do que uma possibilidade, é um plano de médio prazo — diz Beting.
Fonte: Bruno Villas Bôas (Agência O Globo) via O Globo
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