Funcionários da TAM Express e uma motorista contam como sobreviveram.
“Eu tô vivo! Eu tô vivo!” Após quase ser sufocado pela fumaça das chamas do Airbus da TAM que se chocou contra o prédio da empresa, o consultor de informática Paulo Roberto Zani, de 39 anos, pediu, a caminho do hospital, para que a enfermeira ligasse para a mulher dele. Em seu telefone celular, acumulavam-se mais de 50 chamadas não atendidas.
“Minha vida ficou marcada, dividida entre antes e depois do acidente. Todos os dias me lembro [do acidente]. Deito na cama e, todas as noite, agradeço muito pela minha salvação”, avalia o ex-funcionário da TAM, hoje gerente de TI de uma multinacional, que estava no terceiro andar do prédio da TAM Express no momento do choque da aeronave.
Às 18h50, horário do acidente, ele se preparava para ir para casa quando ouviu o estrondo. Logo a fumaça tomou conta de boa parte do piso e das escadas de emergência e a luz foi cortada. “Percebi que estava preso. Tentei respirar e não tinha oxigênio. Me passou muita coisa pela cabeça. Pensei: ‘Eu não vou me entregar’.”
Junto com um colega, Paulo Roberto se rastejou pelos corredores – não era mais possível respirar em pé – à procura de janelas. Quebrou duas vidraças com uma cadeira e pediu ajuda. “A gente rezava. Procurava acreditar que ia dar tempo de os bombeiros chegarem.”
A escada do primeiro carro não alcançou o terceiro andar. Quinze minutos depois, uma nova equipe o resgatou. “Quando me dei conta que estava a salvo, tive uma descarga emocional muito forte”, recorda. Minutos depois, o local onde estava veio a baixo.
Milagre
O motoboy Gerson Rocha Junior, de 34 anos, outro sobrevivente que estava no edifício na hora do acidente, atribui sua sobrevivência a um milagre. “Desde então venho tentando descobrir um pouco mais do lado espiritual, porque a vida material pode ser levada em segundos.”
Ele descia do primeiro andar para o térreo em direção ao relógio de ponto – já era hora de ir embora – quando ouviu a explosão. “Vi o fogo vindo pela escada. Não tinha para onde fugir. Só via o fogo. Mais nada. Aí eu falei: ‘Meu Deus, recebe a minha alma’.”
Gerson relembra que conseguiu descer as escadas em meio às chamas até sair do prédio e chegou a pensar que estivesse morto. Foi no hospital que soube da tragédia pela televisão. Hoje, sem seqüelas, o motoboy se recuperou das queimaduras de segundo grau que sofreu no rosto e nas mãos. Desde o acidente, está de licença temporária do trabalho porque diz ficar irritado quando vê aviões.
'Esse avião bateu no meu carro'
Carro de Mara Garcia Gay que foi atingido pelo Airbus A320 da TAM em 17 de julho do ano passado (Foto: Arquivo Pessoal)
Diariamente, a editora de textos Mara Garcia Gay, de 46 anos, passa de carro diante do terreno onde ficava o prédio da TAM Express e faz o sinal da cruz.
Com seu Celta, ela dirigia para casa, na Chácara Santo Antônio, na Zona Sul da capital, quando olhou à sua esquerda – ela estava na Avenida Washington Luís – e viu o Airbus A320 da TAM se aproximar. Apesar de a aeronave estar muito perto do solo, Mara chegou a pensar que se tratava de uma decolagem.
“Ouvi um barulho muito alto e percebi que algo estava errado. O avião vinha para cima e minha reação foi abaixar a cabeça. Eu escutei um tranco no meu carro, uma batida forte e pensei: ‘Nossa! Esse avião bateu no meu carro’”, recorda ela, que continuou dirigindo e só parou o veículo cerca de 40 metros adiante.
Foi quando viu o pára-brisa estilhaçado e o capô amassado e se deu conta do acidente. “Eu me considero uma sobrevivente. Agradeço a Deus que estou viva. Agora eu faço dois aniversários: no dia 17 e no dia 21 de julho.”
Fonte: G1