segunda-feira, 27 de julho de 2009

Açoriano conta como é ser piloto dos caças F-16

Filipe Cordeiro é um micaelense (natural de São Miguel, ilha do arquipélago dos Açores, Portugal) de 28 anos na elite da Força Aérea Portuguesa, pois está entre os cerca de 30 pilotos dos poderosos caças F-16. Em entrevista ao Açoriano Oriental, explica como chegou aos F-16, um avião que considera fácil pilotar, embora o seu cockpit seja um espaço "hostil".

Filipe Cordeiro está na elite da Força Aérea Portuguesa, onde é piloto dos caças F-16. A ideia de ser piloto de caça surgiu-lhe no ensino secundário. Filipe gostava bastante de aviões, mas ao contrário de tantos adolescentes que preenchem as suas capas escolares ou as paredes dos seus quartos com fotografias de aeronaves, Filipe concretizou mesmo o seu sonho.

Um primo que concorreu à Escola Naval influenciou-o a fazer o mesmo na Academia da Força Aérea, juntando o seu gosto pela aviação à componente militar. Concorreu em 1999 e só em 2006 pilotou pela primeira vez um caça F-16. Por aí já se vê o grau de dificuldade e a preparação que é necessária para se pilotar um avião de guerra. Filipe passou os primeiros quatro anos na Academia a tirar a sua licenciatura, seguindo-se um ano e meio de aprendizagem de voo em Beja. Nessa altura, é feita a escolha da aeronave que se pretende pilotar. Os melhores alunos têm a possibilidade de escolher entre os caças, os aviões de transporte ou os helicópteros. Seguem-se mais seis meses de formação, esta agora destinada já ao treino de combate. Por fim, um estágio nos Estados Unidos da América, para aprender a pilotar os F-16.

Os testes são muito rigorosos, sobretudo os físicos e os mais complicados são os médicos. "É onde chumba mais gente, especialmente na parte auditiva, nos desvios de coluna vertebral e na visão", refere.

Filipe vive actualmente em Leiria, nas proximidades da Base Aérea nº5 de Monte Real onde está colocado. Integra uma pequena elite de apenas cerca de 30 pilotos , sendo actualmente o único açoriano a pilotar as duas dezenas de F-16 da Força Aérea Portuguesa, embora lembre que antes dele, um outro micaelense também já tinha tido essa oportunidade.

Mas como é voar num F-16? "É uma sensação muito boa e para quem começa a voar com aviões mais lentos, chegar ao F-16 é um espectáculo, porque é um avião muito manobrável, rápido e fácil de voar", responde. O F-16 tem a capacidade de voar a velocidades superiores a 1000 km/h, quebrando a barreira do som. "Ao contrário do que muita gente pensa, não há acelerações súbitas e dentro do avião não se sente nada. Só me apercebo que ultrapassei a velocidade do som quando olho para o velocímetro", explica Filipe Cordeiro.

Muitas pessoas com certeza lembram-se de ver Tom Cruise no filme Top Gun. Mas o treino na vida real compara-se ao do cinema? Filipe Cordeiro explica como é feito o treino dos pilotos, normalmente numa hora e meia de voo: "o F-16 tanto faz o combate aéreo como o ataque ao solo. Temos definidos vários tipos de missão e ao longo do ano vamos treinando. O voo nos F-16 exige total atenção e concentração, porque a qualquer momento as coisas podem correr mal, especialmente a voar a alta velocidade em baixas altitudes e nas situações de combate aéreo, onde é essencial saber evitar as colisões entre as aeronaves. Depois há também a questão da habituação. Poucos são os pilotos que voam pela primeira vez e se sentem completamente bem".

Pilotar um F-16 no ar é como pilotar um Fórmula 1 em terra. O trabalho de Filipe Cordeiro é, por isso, comparável ao de um desportista de alta competição. Presença de espírito, muita concentração, boa forma física e, sobretudo, ser imune ao enjoo, são essenciais para que nada corra mal no céu, até porque estar dentro do cockpit de um F-16 está muito longe de ser o mesmo que estar sentado numa sala de estar a observar paisagens aéreas. "O F-16 tem um ambiente muito hostil", refere Filipe Cordeiro, porque "há muito ruído, há as forças centrífugas (G), pode haver também cheiro a combustível e o calor no cockpit, com o fato que temos vestido, torna tudo muito hostil", afirma.

Filipe já participou por duas vezes em missões no estrangeiro, mas nunca esteve até agora numa missão de combate. Contudo, o seu avião tem armamento real, pelo que está consciente que um dia, o sonho pode tornar-se um pesadelo de guerra. Mas isso não preocupa Filipe. "Fazendo parte da NATO, sabemos que é sempre possível sermos destacados para um cenário de guerra e é para isso que treinamos no dia-a-dia", conclui.

Fonte: Rui Jorge Cabral (AO Online - Portugal)

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