segunda-feira, 11 de maio de 2009

Entrevista: "Estamos ativando clientes que a concorrência ainda não atinge"

A companhia aérea Azul nasceu baseada no modelo da norte-americana Jet Blue, criado por David Neeleman nos EUA. O empresário apostou em dar ao cliente muitas opções de vôos diretos, em aviões menores e com variedade de horários, sendo o lucro obtido, principalmente, por volume de freqüência. No Brasil, o ex-diretor do Grupo Pão de Açúcar, Pedro Janot, foi contratado para presidir a nova companhia.

Pedro Janot, presidente da Azul

Janot é formado em administração de empresas pela Universidade Candido Mendes, do Rio de Janeiro, com pós-graduação em recursos humanos pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e MBA pelo Ibmec. Sua maior experiência concentra-se no setor varejista. Além do supermercado, já trabalhou nas redes Mesbla e Americanas e nas lojas Richard's e Zara.

A Azul lançou-se oficialmente no mercado em 15 de dezembro de 2008, com dois voos inaugurais: um de Campinas a Salvador e outro de Campinas a Porto Alegre. Atualmente, conta com nove aeronaves e a meta, segundo Janot, é conseguir 76 até 2016.

O presidente afirma que quer, ao mesmo tempo, disputar mercado com as líderes TAM e Gol e buscar novos nichos. “Estamos ativando clientes e rotas que a concorrência ainda não atinge”, diz.

Para o professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e diretor do Núcleo de Economia dos Transportes, Antitruste e Regulação (NECTAR), Alessandro Oliveira, a empresa entrou no mercado em um momento de alta concentração de clientes entre Gol e TAM. “A azul despontou como o grande evento competitivo no transporte aéreo nos últimos anos”, considera. A seguir, veja entrevista com o presidente da Azul, Pedro Janot.

Último Segundo - Quais os planos da empresa para 2009?

Pedro Janot - Atualmente, voamos para dez cidades do País. Pretendemos fechar o ano atingindo 14 destinos. Neste momento, temos nove aviões e, no final do ano, já teremos 14.

Último Segundo - Quanto já foi investido na Azul e quanto será investido até final do ano?

Pedro Janot - Começamos com o maior capital inicial do mundo para uma empresa de transporte aéreo: US$ 200 milhões. Até 2015, queremos ter investido US$ 3 bilhões.

Último Segundo - Qual o crescimento previsto para a companhia?

Pedro Janot - No final deste ano teremos 14 aeronaves. Em 2010, queremos chegar a 22 aviões. Em 2011, 38 aeronaves. E, até 2015, vamos ter 76 jatos da Embraer, dos modelos 190 e 195. É um crescimento muito rápido para uma companhia nova.

Último Segundo - Quais são as rotas atuais?

Pedro Janot - Partindo de Campinas, temos vôos diretos para Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Fortaleza, Maceió, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador.

Último Segundo - Atualmente, a Azul cobre 2,3% do mercado doméstico, qual é a perspectiva de crescimento?

Pedro Janot - Não estamos preocupados com esses dados agora, mas, sem dúvida, nosso objetivo é crescer muito no mercado nacional.

Último Segundo - A Azul está trabalhando com tarifas abaixo do mercado. Ela irá manter tais preços?

Pedro Janot - Estamos com preços abaixo do “duopólio” (Gol e TAM, que dominam quase 90% do mercado), não necessariamente abaixo do mercado. No médio prazo, nossos preços não vão ficar tão promocionais como estão, mas também não vão mudar muito. Vamos manter as tarifas competitivas.

Último Segundo - O que as aeronaves da Azul proporcionam ao cliente?

Pedro Janot - Nosso avião é bastante confortável. Disponibilizamos uma distância entre as poltronas maior do que a da concorrência. Enquanto a TAM e Gol oferecem 29 polegadas entre as poltronas, nós oferecemos 31 polegadas. São duas polegadas a mais. Trata-se de um pouco mais de conforto para o passageiro. Eu, por exemplo, que tenho 1,88 metro, não consigo esticar minha perna na poltrona da concorrência. Além disso, nossos aviões não têm a poltrona do meio, que é incômoda. Usamos couro ecológico, o serviço de bordo serve snacks à vontade e nossas comissárias são atenciosas.

Último Segundo - É servido algum tipo de refeição quente no serviço de bordo?

Pedro Janot - Não servimos lanche quente porque entendemos que, em voos domésticos, a alimentação é mais um lazer do que uma alimentação de verdade. Além disso, para servir um bom almoço, teríamos que aumentar nossas tarifas, e o cliente não quer isso. Também preferimos não servir uma refeição quente “meia-boca”.

Último Segundo - Há espaço para mais uma empresa nos aeroportos?

Pedro Janot - O espaço é restrito. Temos dificuldade para acessar os aeroportos ainda, mas estamos trabalhando para conquistar nosso espaço.

Último Segundo - David Neeleman, fundador da Azul, vem da experiência da companhia americana Jetblue. Qual a mudança levada pela Jetblue para a aviação americana que vocês querem trazer para o Brasil?

Pedro Janot - A diferença é que a JetBlue passou a focar seu serviço no cliente, não mais no passageiro. As empresas apenas faziam o transporte, nós queremos tratar bem o cliente. Por isso, nossos aviões são mais confortáveis, com mais espaço entre poltronas e, nossas tarifas, mais acessíveis.

Último Segundo - Como tem sido a recepção desde 15 de dezembro, quando entraram no mercado?

Pedro Janot - Já falei com mais de 2500 clientes e eles estão satisfeitos com o serviço. Elogiaram nosso serviço de bordo e comentaram sobre o bom-humor dos comissários.

Último Segundo - O que dizem os concorrentes?

Pedro Janot - Nosso produto está ativando um novo mercado. Não estamos apenas disputando o 100% do mercado de agora. Além de disputar este mercado, estamos ativando clientes e rotas que a concorrência ainda não atinge.

Fonte: Lecticia Maggi e Bruno Rico (Último Segundo - IG) - Foto: divulgação

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